Depois de estudar 30.000 pessoas,
Adam Grant, escreveu o livro" give and take" e apresenta as conclusões a que chegou:
Existem três estilos de reciprocidade que habitualmente adotamos nas nossas interações socias dentro das organizações:
· “Aproveitador” - Dá quando espera receber mais
em troca.
São pessoas egoístas nas suas interações. Pensam apenas no que podemos fazer
por elas.
· “Conciliador” - Dá
na
mesma proporção que espera receber. Um equilíbrio entre dar e aproveitar. Quid Pro Quo - "Faço
algo por si, se você fizer algo por mim".
· “Dador” - Dá mais do que espera receber. É alguém
que aborda a maioria das situações perguntando: “O que posso fazer por
si?"
Adam
estudou dezenas de grandes organizações e milhares de pessoas. Teve engenheiros
a medir a sua produtividade, viu desde notas de alunos de medicina até faturação
de vendedores. Inesperadamente, os que tinham pior desempenho, em cada posto,
foram os dadores. Os engenheiros que faziam menos trabalho eram aqueles que
faziam mais favores do que recebiam. Estavam tão ocupados a fazer o trabalho
dos outros, que acabavam por ficar sem tempo e energia para terminarem o seu trabalho.
Na escola de medicina, as notas mais baixas eram dos alunos que concordavam com
frases como esta:
"Gosto
de ajudar os outros"
"Qual
é o custo da generosidade nas vendas?"
Ele respondeu: "Bem, eu preocupo-me tanto
com os meus clientes que só quero que se sintam bem com a compra que fizeram”.
Só por curiosidade, quantos de vocês se identificam mais com os dadores do que com os restantes?
Aqui acontece um paradoxo, porque os dadores
estão muitas vezes a sacrificarem-se, no entanto, tornam as organizações melhores.
Temos muitas provas (3,611 trabalhos científicos), muitos estudos (36) sobre a
frequência do comportamento de DAR aos outros existente numa equipa ou organização,
que demonstram isso. Quanto mais as pessoas se ajudarem, partilharem
conhecimentos e prestarem orientação, melhores os resultados das organizações
qualquer métrica possível:
- Mais lucros, satisfação de clientes, retenção
de emprego e até menos despesas de operações.
Então, os dadores perdem muito tempo a ajudar
os outros e a melhorar a equipa/organização. Porém, infelizmente, sofrem pelo caminho.
Vamos falar sobre o que é preciso para construir uma cultura em que os dadores
também possam ter sucesso.
Então, se os dadores são quem tem pior desempenho, quem tem o melhor desempenho?
Podemos começar com as boas notícias: Não são os aproveitadores. Os aproveitadores tendem a subir rápido, mas também a cair rápido. E caem às mãos dos conciliadores. Se somos conciliadores, acreditamos em "olho por olho" — um mundo justo. Quando encontramos um aproveitador, sentimos que a nossa missão na vida é dar cabo dessa pessoa. E assim a justiça é servida.
O que levanta a questão: Como criamos um mundo
em que mais dadores tenham sucesso?
Por isso têm de proteger os dadores no vosso
seio. O autor aprendeu uma grande lição sobre isto com o melhor "networker"
da Fortune. Chama-se Adam Rifkin e é um empresário muito bem-sucedido. Passa
muito do seu tempo a ajudar os outros. A sua arma secreta é o favor de cinco
minutos.
Adam diz: "Não temos de ser a Madre Teresa
ou o Gandhi "para sermos um dador. “Só temos de encontrar pequenas formas
de acrescentar valor à vida das outras pessoas."
Pode ser algo tão simples como combinar um encontro
entre duas pessoas que podem beneficiar de se conhecerem. Pode ser partilhar o
vosso conhecimento ou dar um pouco de "feedback". Pode ser até algo tão
básico como dizer: “Vou tentar descobrir se consigo reconhecer alguém cujo
trabalho passou despercebido." Estes favores de cinco minutos são críticos
para ajudar os dadores a estabelecerem barreiras e a protegerem-se.
A segunda coisa importante, se quisermos
construir uma cultura onde os dadores tenham sucesso, é ter uma cultura em que pedir
ajuda seja a norma. Em que se peça muita ajuda. Os dadores que têm sucesso reconhecem
que não faz mal receber ajuda também. Se gerirmos uma organização, podemos
facilitar isso. Podemos facilitar às pessoas pedir ajuda.
Fizeram um estudo vários hospitais. Descobrimos
que nalguns pisos, as enfermeiras pediam muita ajuda, e noutros pisos, nem por isso.
O fator que se destacou onde se pedia ajuda, onde era normal, era a de que
havia uma enfermeira cuja função era apenas ajudar as outras enfermeiras da unidade.
Sempre que esse papel existia, as enfermeiras diziam:
"Não é vergonha pedir ajuda, na verdade, é
encorajador."
Pedir ajuda não é importante apenas para
proteger o sucesso e o bem-estar dos dadores. É também crítico para que mais
pessoas comecem a dar, porque os dados mostram que entre 75% e 90% destas
ações nas organizações começam com um pedido. Mas muitas pessoas não pedem.
Não querem parecer incompetentes, não sabem para onde se virar, não querem ser
um fardo para os outros. Se ninguém pedir ajuda, haverá muitos dadores frustrados
nas organizações que adorariam chegar-se à frente e contribuir, se soubessem a quem
podem ajudar e de que forma.
Adam afirma que o aspeto mais relevante na criação
de uma cultura de dadores bem-sucedida é ponderar bem quem deixamos entrar na
nossa equipa. Se queremos uma cultura de generosidade produtiva, então devemos
contratar muitos dadores. Mas ficou surpreso ao descobrir que isso não é bem
assim. O impacto negativo de um aproveitador numa cultura é, por norma,
o dobro ou o triplo do impacto de um dador. Pensem nisto assim: uma maçã podre
pode estragar o lote, mas um ovo bom não faz uma dúzia.
Basta um aproveitador numa equipa e verão que
os dadores vão deixar de ajudar. Vão dizer: "Estou rodeado de cobras e tubarões.
“Porque haveria de contribuir? “mas se tivermos um dador numa equipa, não temos
uma explosão de generosidade. Muitas vezes, as pessoas pensam: “Boa! Aquela
pessoa faz o trabalho todo."
Uma contratação e triagem eficientes e a constituição de equipas não tem a ver com contratar mais dadores. Tem a ver com livrar-se dos aproveitadores. Se o fizermos bem feito, ficamos com os dadores e os conciliadores. Os dadores serão generosos porque não têm de se preocupar com as consequências e a beleza dos conciliadores é que seguem a norma.
Como é que se apanha um aproveitador antes que seja tarde?
Somos na verdade péssimos a perceber quem é um aproveitador, especialmente numa primeira impressão. Há um traço de personalidade que nos despista. Chama-se agradabilidade/amabilidade, uma das dimensões da personalidade do Big 5 (OCEAN)*. As pessoas agradáveis são cordiais, amigáveis, simpáticas e educadas.
Como posso eu avaliar que sou uma coisa se
estou constantemente a tentar agradar aos outros?
As pessoas desagradáveis não o fazem tanto. São
mais críticas, céticas e desafiadoras. Sempre pensou que as pessoas agradáveis
eram dadoras e as desagradáveis aproveitadoras.
Mas analisando os dados, podemos concluir, com
alguma estupefação, que não há correlação entre esses traços, porque essa
agradabilidade é apenas uma capa exterior.
Quão agradável é interagir conosco?
Quais são os nossos valores?
As nossas intenções em relação aos outros?
Se queremos julgar as pessoas de forma
acertada, chegamos ao momento que todos que gostam de Excel esperavam, e criar
uma tabela.
*Big 5 (OCEAN) - Os traços de personalidade Big
Five são as medidas de personalidade cientificamente mais aceites no ramo da psicologia.
São elas: Abertura para a experiência-(Openess to experience),Conscienciosidade-(Conscientiousness),Extroversão-(Extraversion)-Neuroticismo
ou Instabilidade Emocional - ( Neuroticism) e Amabilidade (Agreeableness).
Os dadores agradáveis são fáceis de detetar,
dizem que sim a tudo. Os aproveitadores desagradáveis também se
reconhecem rápido, embora os possamos tratar por um nome ligeiramente diferente.
Esquecemo-nos das outras duas combinações. Há dadores desagradáveis nas
nossas organizações. Há pessoas que são ásperas e duras à superfície, mas, no
fundo, têm em conta os melhores interesses dos outros.
Ou, como disse um engenheiro: "Oh, os dadores
desagradáveis “são como ter uma má interface, mas um sistema operativo
muito bom."
Os dadores desagradáveis são as pessoas mais
subestimadas nas organizações, porque são aqueles que dão um
"feedback" crítico que ninguém quer ouvir, mas que todos deviam ouvir.
Temos de aprender a valorizar mais estas pessoas em vez de os pormos logo de lado,
e dizer: “Seu convencido, “deves ser um aproveitador egoísta. “ A outra
combinação que esquecemos é a mais mortífera, o aproveitador agradável, também
conhecido como falso. Essa é aquela pessoa simpática pela frente, e que depois nos
uma facada pelas costas. Uma da forma de apanhar essas pessoas nas entrevistas
é fazer a pergunta:
"Pode dar-me o nome de quatro pessoas cujas
carreiras ajudou a melhorar?"
E eles vão dar quatro nomes, todos de pessoas
com muito mais influência do que eles, porque os aproveitadores são ótimos a
bajular e depois a deitar fora. Os dadores provavelmente vão dar nomes
de pessoas abaixo na hierarquia, que não têm tanto poder, que não os podem
beneficiar.
E convenhamos, todos sabemos que podemos saber
muito sobre alguém ao observar como tratam os empregados de mesa ou o motorista
da Uber. Então, se isto for bem feito, se tirarmos os aproveitadores da organização,
se for seguro pedir ajuda, se protegermos os dadores de se esgotarem, se
mostrarmos que eles também podem ser ambiciosos e ter objetivos, assim como
tentar ajudar os outros, então podemos mudar a forma como se define o sucesso.
Em vez de dizermos que se trata de vencer uma competição, vamos perceber que
sucesso é muito mais sobre contribuição. Eu acredito que a forma mais
significativa de ter sucesso é ajudar os outros a ter sucesso. E se
pudermos espalhar essa crença, podemos virar paranoia do avesso. Existe um nome
para isso chama-se "Pronoia". A Pronoia é a crença ilusória de que os
outros estão a conspirar a favor do nosso bem-estar. Que vão atrás das nossas
costas dizer coisas excecionais acerca de nós. O melhor de uma cultura de
dadores é que isto não é ilusão, é uma realidade. Quero viver num mundo onde os
dadores tenham sucesso, e espero que me ajudem a criar esse mundo.