Notas para reflexão sobre Maturidade

 

          

                                          

 

Como saber se sou emocialmente maduro?

Uma das coisas mais interessantes sobre a evolução humana é que o nosso desenvolvimento emocional nem sempre acompanha o nosso desenvolvimento físico. Poderemos ter 55 anos fisicamente e 4 anos emocialmente na forma como lidamos com os nossos impulsos e como comunicamos ou exprimimos os nossos sentimentos. Para medirmos a nossa maturidade emocional podemos fazer uma pergunta simples, mas reveladora.

Quando alguém em quem dependemos emocialmente nos desilude, dececiona ou nos deixa incertos e inseguros, qual a nossa resposta?

Para ajudar na reflexão Alain de Botton dá 26 sugestões de autoconhecimento em forma de conselhos:

1.  Tomar consciência de que grande parte do que consideras maus comportamentos das outras pessoas, resumem-se a medo e ansiedade, em vez do que é habitual pensar-se, malvadez ou idiotice. Deixa de achar que as tuas ideias ou o teu comportamento são moralmente superiores aos dos outros assim como pensar que o mundo é dominado por monstros, sacanas ou idiotas. Tornará, ao início, as coisas mais cinzentas e aparentemente menos organizadas, mas com tempo, bastante mais interessantes.

2.   Aprende que o que tens na tua mente não pode ser compreendido, automaticamente, pelas outras pessoas. Reparas que, infelizmente, temos que articular intenções e sentimentos através de palavras. Não podemos, com justiça, culpar os outros por não compreenderem o que queremos dizer até que falemos com calma e clareza.

3.   Aprende que, frequentemente, também compreendemos erradamente as coisas. Com uma coragem enorme, daremos pequenos passos no sentido de pedir desculpa ou assumir genuinamente o nosso erro.

4.  Aprende a ser confiante, não porque somos bons, mas porque aprendemos que toda gente é igualmente estúpida, assustada e perdida, como, por vezes, estamos. Todos seguimos nosso caminho na medida do que conseguimos e isso não tem problema.

5.  Irá diminuir o sentimento de impostor porque aceitaremos que não existe ninguém totalmente verdadeiro. Todos nós, em várias intensidades, tentamos desempenhar um papel enquanto camuflamos e escondemos as nossas loucuras e rebeldias para que ninguém se aperceba.

6.   Perdoa os teus pais. Não te puseram no mundo para te fazer sofrer. Por vezes, estavam apenas lutar penosamente e sem controlo dos seus próprios demónios. Raiva, por vezes, torna-se em pena e compaixão.

7.   Compreenderemos a enorme influência das chamadas “pequenas coisasnosso humor: a hora de dormir, os níveis de açúcar e álcool no sangue, graus de stress acumulado, etc. Como resultado, aprenderemos a nunca falar ou puxar um assunto importante e conflituoso com alguém próximo até que todos tenham dormido bem, estejam sóbrios, sem fome, sem nada que mereça atenção urgente e sem pressa para ir a outro lado.

8.    Vais-te aperceber que as pessoas próximas de ti quando te chateiam, são desagradáveis ou vingativas, não estão a tentar magoar-te, podem simplesmente estar a pedir atenção na única maneira que sabem.

9.    Deixaremos de amuar. Se algo te magoar, não guardarás o ódio e a mágoa por dias a fio. Lembrar-nos-emos que morreremos em breve. Não podemos esperar que os outros saibam o que está errado. Devemos dizer frontalmente o que nos incomodou. Se compreenderem, perdoas. Se não compreenderem, de uma maneira diferente, perdoaremos na mesma.

10.  Vamos reparar que a vida é mesmo curta. É extremamente importante que tentemos dizer o que realmente sentimos, orientado para o que realmente queremos e dizer, a por quem temos muita estima, que eles são muito importantes para nós. Diariamente seria perfeito.

11. Deixaremos de acreditar na perfeição em todos os domínios da nossa vida. Não há pessoas, trabalhos e vidas perfeitas. Iremos em direção à apreciação do que é (usando a expressão do psicanalista Daniel Winnicott) “bom que chegue”. Vamos reparar que muitas das coisas na nossa vida são frustrantes, no entanto, de muitas formas são eminentemente boas que cheguem.

12. Vamos aprender as virtudes de ser um pouco mais pessimista sobre como acontecerão certas coisas e como resultado sairás mais calmo, paciente e com maior capacidade de perdão. Poderemos perder algum idealismo e mas ficaremos pessoas menos irritantes para os outros (menos impacientes, menos rígidos e menos zangados).

13. Vamos perceber que, o que consideramos fraquezas de carácter, estão ligadas e são compensadas por outras forças. Em vez de isolarmos as fraquezas, devemos olhar para a Big Picture: Sim, alguém pode ser um pouco pedante, mas são também organizados e uma âncora em tempos difíceis. Se alguém é um pouco desorganizado é ao mesmo tempo criativo, visionários e espontâneos. Vamo-mo-nos aperceber que não existem pessoas perfeitas - todas as fraquezas estão ligadas a forças.

14. Aprenderemos as virtudes do compromisso e assentar em certas áreas. Iremos reconhecer que estamos a ficar maduros em vez de fracos ou chatos. Podemos ficar, inicialmente, com alguém por causa dos miúdos ou por causa do receio de ficar sozinho. Poderemos aturar alguns inconvenientes porque sabemos que uma vida sem atritos é uma miragem.

15. Cairemos em paixões arrebatadoras menos facilmente. É, de certa forma, difícil. Quando éramos menos maduros, poderíamos ficar apaixonados mais facilmente. Agora estamos mais conscientes que todos nós, por muito que possam parecer charmosos ou bem-sucedidos, é doloroso acabar com uma relação. Desenvolveremos lealdade para com as pessoas que já temos.

16. Aprenderemos que, surpreendentemente, somos pessoas um pouco difíceis de conviver. Entramos nas amizades e relacionamentos oferecendo avisos gentis de quando algumas coisas em nós poderão tornar-se desafiadoras e gerar fricção.

17. Aprenderemos a perdoar os nossos erros e tontices. Vamos notar que não dá frutos a auto absorção nos pensamentos de erros passados. Ficaremos mais amigos de nós próprios. Claro que somos uns idiotas, mas seremos uns idiotas amáveis. Idiotas todos somos de alguma forma.

18. Aprenderemos que, parte de ser maduro, precisamos de fazer as pazes com as pequenas partes da nossa teimosia quase infantil que ainda fazem parte de nós. Deixaremos de tentar ser adultos em todas as ocasiões. Aceitamos que todos temos momentos de regressão: quando a criança dentro de nós tenta sair e dá-lhe a atenção que ela precisa.

19. Deixaremos de atribuir muita esperança a grandes planos e ao tipo de felicidade que esperamos que dure por muitos anos. Celebramos as pequenas coisas que acontecem na nossa vida. Notaremos que felicidade vem em incrementos de minutos ou momentos. Ficamos deliciados quando passa um dia sem que algo nos enerve muito. Teremos interesse pelas flores de um jardim ou num pôr do sol. Desenvolveremos um gosto pelo especial pelas pequenas coisas.

20. O que as outras pessoas pensam deixará de ser uma preocupação. Veremos que as mentes das outras pessoas são pequenos pântanos lamacentos e não conseguiremos polir a nossa imagem aos olhos de toda gente. O que conta é que tenhamos duas ou três pessoas próximas que estejam bem conosco, da maneira que somos (que nos aceitem e ajudem construtivamente a melhorar falhas). Desistimos da fama e passamos a confiar nas múltiplas formas de amor.

21. Melhoramos a nossa capacidade de ouvir críticas. Em vez de presumir que quem nos critica, está a tentar humilhar-nos ou está errado. Aceitamos que talvez fosse boa ideia encontrar algo que possas ter em conta para nos melhorarmos. Vamos começar a notar que conseguimos ouvir críticas e sobreviver, sem ter de pôr a nossa armadura e negar que alguma vez houve algum problema.

22. Vamos notar em que extensão a proximidade de certos problemas e assuntos afetam a nossa vida quotidiana. Lembrar-nos-emos cada vez mais, que precisamos de pôr em perspectiva as coisas que nos incomodam. Faremos mais passeios pela natureza, poderemos adotar um animal de estimação (eles não se queixam tanto como nós) e iremos apreciar as estrelas e galáxias acima de nós.

23. Deixaremos de ser tão facilmente afetados por comportamentos negativos de outras pessoas. Antes de ficarmos furiosos, zangados ou perturbados, faremos uma pausa para nos perguntar o que realmente queriam dizer. Podemos procurar refletir que poderão haver diferenças entre o que a pessoa disse e aquilo que nós, imediatamente, assumimos que elas disseram.

24. Reconheceremos qual a influência de ocorrências passadas na nossa resposta a certos eventos e aprenderemos a compensar/corrigir essas tendências. Aceitamos que, dependendo de como tenha corrido a tua infância, terás predisposição para exagerar em algumas áreas/temas da tua vida. Suspeitaremos dos primeiros impulsos ou pensamentos quando nos deparamos com esses assuntos.

25. Quando começamos uma amizade, vais notar que as outras pessoas não querem só saber das coisas boas pois querem ter uma visão geral dos teus problemas e preocupações para que se sintam menos sozinhas com as dores que lhes vão no coração. Tornar-nos-emos melhores amigos quando nos apercebemos que a amizade é uma forma de partilhar vulnerabilidades.

26.  Acalmararemos a nossas ansiedades, não por dizer que tudo vai correr bem, em muitas áreas, não correrá mas desenvolveremos a capacidade mental de que mesmo que as coisas corram mal, são todas ultrapassáveis. Há sempre um plano B.  O mundo é enorme, que é sempre possível encontrar pessoas generosas e que até as coisas mais horríveis, são no fundo, suportáveis.

 

 

 Alain de Botton on Emotional Maturity

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