# 7 Lei da Defensiva - 7/18 Robert Greene
# 7 Lei da Defensiva – Atenue a resistência das pessoas confirmando a sua autoimagem
A vida é dura, e as pessoas são
competitivas. Temos de velar naturalmente pelos nossos interesses. Também
queremos sentir que somos independentes, que só respondemos perante nós
próprios. E por isso que, quando os outros nos tentam convencer ou mudar,
assumimos uma atitude defensiva e resistimos. Ceder desafia a necessidade de
nos sentimos autónomos. E por isso que, para conseguir que as pessoas abandonem
as suas posições defensivas, temos sempre de sugerir que o que estão a fazer se
realiza de sua própria e livre vontade. Criar uma impressão de afeto mútuo
ajuda a atenuar a resistência das pessoas e fá-las querer ajudar. Nunca ataque
as pessoas nas suas crenças ou as faça sentirem-se inseguras quanto à sua
inteligência ou valor — irá apenas reforçar a sua posição defensiva e tornar a
tarefa impossível. Faça-as sentir que, ao concretizarem o que deseja, estão a
ser nobres e altruístas — o derradeiro engodo. Aprenda a domar a sua própria
teimosia e liberte a mente de posições defensivas e fechadas, desencadeando as
suas capacidades criativas.
Caso ascensão Lyndon Johnson no
partido democrático dos E.U.A
Desde o início da sua carreira
política, Johnson tinha uma única ambição - tornar-se presidente dos Estados
Unidos. Para aí chegar, precisava de fazer uma ascensão relativamente rápida,
até se destacar. Quanto mais cedo assumisse posições de liderança, mais tempo
teria para espalhar o seu nome e ganhar vantagem dentro do Partido Democrático.
Eleito para a Casa dos Representantes aos vinte e oito anos de idade, parecia
estar a caminho do que desejava, mas na Casa a sua carreira estagnou. Esta era
enorme e muito complexa, e ele não lidava bem com grupos grandes. Não era um
orador empolgante em público. Era muito mais sedutor no frente a frente. Ficava
frustrado e irrequieto. Tendo finalmente alcançado o Senado, aos quarenta anos
de idade, levou consigo a impaciência, como revelou na sua reunião com
Connally. Contudo, logo depois desta estreia, deambulou pelo Senado e teve uma
epifania: o local era muito mais pequeno; parecia antes um clube confortável
para cavalheiros. Ali podia trabalhar cara a cara e ganhar lentamente o poder,
acumulando influência.
No entanto, para o conseguir, tinha
de se transformar. Era naturalmente agressivo; teria de dominar este aspeto, de
abrandar e de recuar. Teria de parar de falar tanto e de entrar em discussões
acaloradas. De deixar as outras pessoas falar; de as deixar sentirem-se as
estrelas do espetáculo. De parar de pensar em si; em vez disso, tinha de se
concentrar completamente nos outros senadores enquanto estes falavam
incessantemente. Assumir o aspeto inofensivo do senador inexperiente que está a
aprender o ofício, do estudante sério e um pouco baço a debruçar-se sobre
procedimentos e legislação. Por detrás desta fachada, podia observar as pessoas
sem parecer ambicioso ou agressivo. Desta forma, obteria aos poucos
conhecimentos sobre a forma como o Senado funcionava por dentro - sobre a
contagem de votos, sobre o modo como os projetos de lei eram realmente
aprovadas informações sobre os vários senadores, as suas inseguranças e
fragilidades mais profundas. A dada altura, os seus imensos conhecimentos da
instituição representam um bem que podia trocar por influência e favores.
Depois de vários meses desta
campanha, conseguiu modificar a fama que tivera na Casa.
Dirigiu a atenção para a obtenção
de aliados-chave. Como sempre acreditara, ter um aliado fundamental no ponto
mais alto da hierarquia ou perto da mesma podia mover montanhas. Detetou muito
rapidamente o senador Russell como o alvo perfeito — solitário, acreditando
numa causa sem ter verdadeiros discípulos e muito poderoso. Johnson gostava
genuinamente de Russel e andava sempre à procura de figuras paternais, mas a
sua atenção e abordagem foram estratégicas. Certificou-se de que era nomeado
para a Comissão de Serviços Armados, onde teria mais acesso a Russell. Os seus
encontros constantes a meio do vestiário raramente eram acidentais. Sem que se
tornasse óbvio, aumentou lentamente as horas que passavam juntos. Johnson nunca
gostou de basebol e não se podia interessar menos pela Guerra Civil, mas
aprendeu rapidamente a cultivar o interesse por ambos. Espelhou os valores
conservadores de ética profissional de Russell e fez o senador solitário sentir
que tinha não só um amigo, mas um filho e discípulo que o adoravam.
Johnson teve o cuidado de nunca
pedir favores. Em vez disso, fez silenciosamente favores a Russell, ajudou-o a
modernizar a sua equipa. Quando Johnson finalmente quis algo, como a
presidência ou a subcomissão, insinuou o seu desejo em vez de o expressar
diretamente. Russell acabaria por o ver como uma extensão das suas próprias
ambições políticas, e nessa altura já faria quase tudo pelo seu acólito.
No espaço de alguns anos, correram
rumores de que Johnson era um extraordinário contador de votos e de que tinha
conhecimentos profundos acerca de vários senadores, o tipo de informação que
podia ser extremamente útil quando se pretende fazer aprovar um decreto de lei.
Agora os senadores iam ter com ele em virtude dessa informação, e ele
partilhava-a na perspetiva de, em algum momento, esperar favores como
compensação. Aos poucos, a sua influência espalhava-se, mas apercebeu-se de que
o seu desejo de obter uma posição dominante dentro do partido e no Senado
deparava com um obstáculo considerável — os liberais do Norte.
Mais uma vez, Johnson escolheu o
alvo perfeito — o senador Humphrey.
Interpretou-o como sendo um homem
solitário, que precisava de reconhecimento, mas que era extremamente ambicioso.
Havia três formas de chegar ao coração de Humphrey: fazê-lo sentir-se amado,
confirmar a sua crença de que tinha estofo para presidente e dar-lhe as
ferramentas práticas para concretizar as suas ambições tal como fizera com
Russell, Johnson deu a Humphrey a impressão de estar secretamente do seu lado,
espelhando os valores mais profundos de Humphrey ao partilhar a sua adoração
por Roosevelt. Depois de vários meses nesta campanha, Humphrey faria quase tudo
por Johnson. Agora, com uma testa de ferro estabelecido entre os liberais do
Norte, Johnson alargara a sua influência a todos os cantos do Senado.
Na altura em que o cargo de
liderança ficou vago, Johnson possuía uma extraordinária credibilidade como
alguém que devolvia favores, que fazia as coisas acontecerem e que tinha
aliados muito poderosos. O seu desejo de assumir o controlo sobre as nomeações
para as comissões representava uma mudança radical no sistema, mas ele
apresentou-o como uma forma de alargar o Partido Democrático e de ajudar os
senadores individualmente nas suas várias batalhas com os Republicanos. Era do
seu interesse entregar o poder a Lyndon Johnson. Passo a passo, ganhou essa
extraordinária influência sem parecer agressivo ou mesmo ameaçador. Na altura
em que aqueles que estavam no partido se aperceberam do que se passara, era
demasiado tarde — controlava completamente o tabuleiro, era o Mestre do Senado.
Compreender:
A influência sobre as pessoas e o poder que isso implica ganham-se da forma
oposta àquela que possa imaginar. Normalmente tentamos seduzir as pessoas com
as nossas ideias, mostrando-nos sob a melhor luz. Publicitamos as conquistas
passadas. Prometemos grandes coisas sobre nós próprios. Pedimos favores,
julgando que sermos sinceros é a melhor política. O que não percebemos é que
estamos a dar toda a atenção a nós próprios. Num mundo em que as pessoas estão
cada vez mais autocentradas, isto tem apenas o efeito de fazer os outros
voltarem-se mais para dentro como resposta e pensarem mais nos seus próprios
interesses do que nos dos outros.
Como a história de Johnson mostra,
o caminho de eleição para a influência e para o poder deverá ser o de sentido
contrário: concentre-se nos outros. Deixe-os falar. Deixe-os ser as estrelas do
espetáculo. As suas opiniões e valores merecem ser emulados. As causas que
apoiam são as mais nobres. Esta atenção é tão rara neste mundo, e as pessoas
estão tão sedentas da mesma, que dar-lhes um reconhecimento deste tipo irá
baixar-lhes as defesas e abrir as suas mentes a quaisquer ideias que queira
insinuar.
O seu primeiro passo deverá, então,
ser sempre recuar e assumir uma posição de inferioridade em relação ao outro.
Seja subtil. Peça o seu conselho. As pessoas estão ansiosas por partilhar a sua
sabedoria e experiência. Quando sentir dependentes desta atenção, pode iniciar
um ciclo de favores fazendo algo por elas, algo que lhes poupe tempo e esforço.
Irão desejar imediatamente pensá-lo e devolver esse favor sem se sentirem
manipuladas ou impelidas. E partir do momento em que lhe fizerem favores, irão
continuar a trabalhar para si. Ao fazerem algo por si, consideraram-no
merecedor desse gesto e pararem de o ajudar significa pôr em causa a sua
avaliação inicial e a sua própria inteligência, o que as pessoas sentem grande
relutância em fazer. Ao trabalhar desta forma num grupo, alargará lentamente a
sua influência sem que pareça agressivo ou mesmo intencional, o derradeiro
disfarce para as suas ambições.
O verdadeiro espírito da conversa consiste
mais em destacar a inteligência dos outros do que em revelar muito acerca da
sua pessoa; aquele que se afasta agradado consigo próprio e com a sua
inteligência também se sentirá extremamente agradado com o outro. A maior parte
dos homens [...] procura menos ser instruída, e até divertida, do que ser
elogiada e aplaudida.
—Jean de La Bruyére
Explicações para a natureza humana
Desde cedo, os seres humanos
desenvolvem uma faceta defensiva e autoprotetora da sua personalidade. Começa
logo na primeira infância, quando cultivamos uma noção de espaço físico pessoal
que os outros não devem violar. Mais tarde alarga-se a um sentimento de
dignidade pessoal — as pessoas não deveriam coagir ou manipular-nos de forma a
fazermos coisas que não queremos, deveríamos ser livres de escolher o que
desejamos. São desenvolvimentos necessários no nosso crescimento como seres
humanos socializados.
No entanto, à medida que
envelhecemos, estas qualidades defensivas muitas vezes consolidam-se em algo
muito mais rígido, e por um bom motivo. As pessoas estão sempre a julgar e a
avaliar-nos -seremos suficientemente competentes, suficientemente bons,
trabalharemos em equipa? Nunca nos sentimos propriamente livres desta análise.
Um fracasso assinalável nas nossas vidas e a análise das
pessoas transformar-se-á em juízos
de valor negativos que nos podem incapacitar por muito tempo. Além disso, temos
a sensação de que as pessoas sempre tentar tirar-nos coisas querem o nosso
tempo, o nosso dinheiro, as nossas ideias, o nosso trabalho. Perante tudo isto,
tornamo-nos naturalmente mais autocentrados e defensivos temos de velar pelos
nossos interesses, visto que mais ninguém o faz. Construímos paredes à nossa
volta para evitar que os intrusos e aqueles que querem algo de nós entrem.
Quando chegamos à casa dos vinte,
todos desenvolvemos sistemas de defesa, mas em determinadas circunstâncias as
nossas paredes interiores podem desmoronar-se. Por exemplo, durante uma noite
de pândega com amigos, talvez depois de bebermos um pouco, sentimo-nos ligados
aos outros e não julgados por eles. As nossas mentes relaxam e, subitamente,
surgem-nos ideias novas e muito interessantes, e abrimo-nos a fazer coisas que
normalmente nunca faríamos. Outro exemplo: podemos comparecer a um comício
público e ouvir um orador inspirado defender uma causa. No mesmo comprimento de
onda que centenas de outras pessoas, tomados pelo espírito de grupo,
sentimo-nos subitamente apelados à ação e a trabalhar para essa causa algo a
que normalmente resistiríamos.
No entanto, o exemplo mais
sugestivo ocorre quando nos apaixonamos e o sentimento é retribuído. A outra
pessoa aprecia e reflete-nos de volta as nossas características mais positivas.
Sentimo-nos merecedores de amor. Sob este feitiço, libertamo-nos do nosso ego e
da nossa teimosia habitual; damos à outra pessoa um domínio pouco habitual da
nossa força de vontade.
O que estes momentos têm em comum é
que nos sentimos seguros interiormente — não julgados, mas aceites por amigos,
pelo grupo ou pelo ser amado. Vemos um reflexo de nós mesmos nos outros.
Podemos relaxar. Interiormente, sentimo-nos reconhecidos. Não precisando de nos
virar para dentro e de ficar na defensiva, podemos dirigir as nossas mentes
para o exterior, para lá do nosso ego — para uma causa, para uma ideia nova ou
para a felicidade dos outros.
Compreender:
Criar este sentimento de reconhecimento constitui a chave de ouro que anulará
as defesas das pessoas. E não podemos sobreviver e prosperar neste mundo altamente
competitivo sem possuir tal poder.
Deparamos constantemente com
situações em que temos de afastar as pessoas das suas posições de resistência.
Precisamos da sua ajuda ou da sua capacidade de alterar o seu mau
comportamento. Se nos afadigarmos, improvisando na altura, tentando argumentar,
adular e até fazer as pessoas sentirem-se culpadas, é muito provável que só as
deixemos mais na defensiva. Se de alguma forma conseguirmos
Obter o que queremos através deste
método, o tempo, seu apoio dinheiro, será escasso, ideias —com um fundo de
ressentimento. Tirámos-lhes coisas- tempo, dinheiro, ideias – e elas
fechar-se-ão a mais influência. E, se continuarmos durante longos períodos de
tempo a marrar contra a resistência das pessoas e a não chegar a lado nenhum poderemos
ter de lidar com uma dinâmica muito perigosa na vida frustração crescente face
à aparente indiferença dos outros. Isto contagia-nos subtilmente a atitude.
Quando nos deparamos com situações em que precisamos da influência das outras
pessoas, elas sentem a nossa avidez e insegurança. Esforçamo-nos muito por
agradar. Chegamos a parecer ligeiramente desesperados, derrotados, antes mesmo
de começar. E isso pode transformar-se numa dinâmica autorrealizada negativa
que nos deixará marginalizados, sem consciência sequer da origem do problema.
Antes que seja demasiado tarde,
temos de alterar esta dinâmica, como Johnson fez aos quarenta anos de idade.
Temos de descobrir o poder de dar aos outros o reconhecimento por que anseiam e
de os fazer baixar a guarda. E a solução para que isso aconteça de uma forma
realista e estratégica é compreender completamente uma lei fundamental da
natureza humana.
Esta lei é a seguinte: as
pessoas têm uma perceção acerca de si próprias a que iremos chamar autoimagem.
Esta autoimagem pode estar certa ou não — não importa. O que interessa é o modo
como as pessoas percecionam a sua própria personalidade e mérito. E há três
características na autoimagem das pessoas que são praticamente universais: «Sou
autónomo, ajo de minha livre vontade»; «Sou inteligente à minha maneira»; e
«Sou fundamentalmente bom e decente».
No que diz respeito à primeira
linha universal (Sou autónomo), se aderirmos a um grupo, se acreditarmos em
algo ou se comprarmos um produto, é porque decidimos fazê-lo. Na verdade,
podemos ter sido manipulados ou ter sucumbido à pressão dos pares, mas
dizemo-nos outra coisa. Se nos sentimos coagidos — como quando temos de
obedecer a um chefe —, dizemos a nós mesmos que escolhemos obedecer ou
ressentimo-nos profundamente de ter sido obrigados e manipulados. No último
caso, podemos sorrir e obedecer, mas arranjaremos maneira de nos rebelarmos
secretamente. Por outras palavras, sentimos a necessidade constante de nos
expressarmos e de afirmarmos o nosso livre-arbítrio.
Com a segunda linha
universal (Sou inteligente), podemos ter consciência de que não estamos ao
nível de Einstein, mas na nossa área, à nossa maneira, sermos inteligentes. Um
canalizador revela-se no seu conhecimento superior do funcionamento interno de
uma casa e nas suas capacidades manuais, que são uma forma de inteligência.
Também pensa que as suas opiniões políticas surgem a partir de um senso comum
sólido, outro sinal de inteligência, na sua perspetiva. As pessoas de modo
geral nunca se sentem à vontade com a ideia de que podem ser crédulas e pouco
inteligentes. Se têm de admitir que não são espertas da forma convencional'
pelo menos irão pensar que são mais inteligentes do que outras.
Com a terceira linha
universal (Sou boa pessoa), gostamos de nos ver como indivíduos que apoiam as
causas certas. Tratamos bem as pessoas. Trabalhamos em equipa. Se for o caso de
sermos chefes e se gostarmos de instilar disciplina nas tropas, chamamos-lhe
«amor rude». Agimos para o bem dos outros.
Além destas linhas universais,
descobrimos que as pessoas têm autoimagens mais personalizadas que servem para
regular as suas inseguranças particulares. Por exemplo, «Sou um espírito livre,
único», «Sou muito autoconfiante e não preciso da ajuda de ninguém», «Sou
bem-parecido e posso servir-me disso» ou «Sou um rebelde e desprezo qualquer
tipo de autoridade». Integrada nestas várias autoimagens está uma sensação de
superioridade em determinada área: «Sou um rebelde, e tu nem chegas a metade
disso.» Muitas destas autoimagens relacionam-se com problemas de
desenvolvimento em tenra idade. Por exemplo, o tipo rebelde conheceu uma figura
paternal que o dececionou ou talvez tenha sido vítima de bullying e não suporte
a menor sensação de inferioridade. Tem de desprezar qualquer autoridade. O tipo
autoconfiante pode ter conhecido uma mãe muito distante, ser atormentado por
sentimentos de abandono e ter construído uma autoimagem de independência
inflexível.
A nossa autoimagem é primordial:
determina muito do nosso pensamento e dos nossos valores. Não acalentaremos
ideias que colidam com a nossa autoimagem. Digamos que nos vemos como
particularmente exigentes e autoconfiantes. Gravitaremos então em torno de
ideias e de filosofias realistas, duras e que não desculpam as fragilidades dos
outros. Se, neste cenário, ocorrer sermos igualmente cristãos,
reinterpretaremos as doutrinas religiosas cristãs de forma a corresponderem à
nossa autoimagem de dureza, encontrando elementos no Cristianismo que reforcem
a autoconfiança, o amor rude e a necessidade de destruir os inimigos. De modo
geral, escolhemos pertencer a grupos que reconheçam a ideia de sermos nobres e
inteligentes. Podemos pensar que temos ideias ou valores particulares que se
destacam por si mesmos, mas na verdade estes dependem da nossa autoimagem.
Quando tenta convencer as pessoas
de algo, irá acontecer uma de três coisas.
Primeiro, pode desafiar inadvertidamente um
aspeto particular da sua autoimagem. Numa troca de ideias que se pode
transformar numa discussão, fá-las sentirem-se estúpidas ou que foram sujeitas
a uma lavagem ao cérebro ou pior ainda. Mesmo que seja subtil nos seus
argumentos, o que está implícito é que a sua opinião é prevalecente. Se isso
acontecer, deixará as pessoas ainda mais na defensiva e resistentes.
Erguer-se-ão muros que nunca mais cairão.
Segundo, pode deixar a autoimagem numa
posição neutral — nem desafiada nem confirmada. Isto acontece com frequência
quando tenta ser razoável e acalmar na sua abordagem, evitando extremos
emocionais. Neste cenário, as pessoas permanecem resistentes e hesitantes, mas
pelo menos não as pressionou e encontrará algum espaço para as manipular com os
seus argumentos racionais.
Terceiro, pode confirmar ativamente a sua
autoimagem. Neste caso satisfazer uma das maiores necessidades emocionais das
pessoas. Podemos imaginar que somos independentes, inteligentes, decentes e
autoconfiantes, mas apenas imaginamos as outras pessoas podem verdadeiramente
confirmá-lo. E, num mundo competitivo em que todos duvidamos constantemente de
nós próprios, exercerá o efeito mágico que ocorre quando se está ébrio, num
convívio ou no amor permitirá às pessoas relaxar. Já não consumidas pela
insegurança, estas poderão dirigir a sua atenção para fora. As suas mentes
abrem-se, tornando-se suscetíveis à sugestão e à insinuação. Se decidirem
ajudá-lo, sentirão que estão a fazê-lo de sua livre vontade.
A sua tarefa é simples: instilar
nas pessoas uma sensação de segurança interior, espelhar os seus valores;
mostrar que gosta delas e que as respeita. Fazê-las sentir que aprecia a sua
sabedoria e experiência. Criar um ambiente de afeto mútuo. Conseguir que se
riam consigo, estimulando a impressão de que existe um relacionamento. Tudo
isto resulta melhor se os sentimentos não forem completamente fingidos. Ao
treinar a empatia, ao entrar na sua perspetiva, é mais provável sentir
genuinamente pelo menos uma parte destas emoções. Praticá-lo com a frequência
suficiente e confirmar a autoimagem das pessoas tornar-se-á a sua posição
predefinida — terá um efeito libertador sobre praticamente qualquer pessoa com
que se cruze.
Um aviso: a maior parte das pessoas
tem uma autoimagem relativamente favorável, mas algumas têm uma baixa
autoestima. Dizem para si mesmas «Não mereço coisas boas», «Não sou assim tão
boa pessoa» ou «Tenho demasiados problemas e questões a resolver». Como
geralmente esperam que lhes aconteçam coisas negativas, muitas vezes sentem-se
aliviadas e justificadas quando essa adversidade efetivamente acontece. Desta
forma, a sua autoimagem desfavorável serve para acalmar as suas inseguranças
sobre um eventual sucesso na vida. Se os seus alvos tiverem uma autoimagem
negativa, aplica-se a mesma regra. Se insistir com eles no sentido de ser
possível melhorarem facilmente as suas vidas seguindo os seus conselhos, isto
irá colidir com a sua crença de que o mundo está contra elas e de que de facto
não merecem essas coisas positivas. Irão fazer pouco caso das suas ideias e
resistir-lhes. Em vez disso, deverá trabalhar a partir da sua autoimagem,
criando empatia com a injustiça presente na sua vida e com as dificuldades que
enfrentaram. Então, sentindo-se elas reconhecidas e espelhadas, terá latitude
para fazer ligeiras correções e até para aplicar alguma psicologia reversa.
Finalmente, o maior obstáculo que
irá encontrar ao desenvolver estas capacidades decorre de um preconceito
cultural contra a própria ideia de influência: “porque não podemos todos ser
sinceros e transparentes uns com os outros e pedir simplesmente aquilo que
queremos? Porque não podemos apenas deixar as pessoas serem quem são e não
tentar mudá-las? Ser estratégico é feio e manipulador”. Em primeiro lugar,
quando as pessoas nos dizem este tipo de coisas, deverá manter-se atento. Os
seres humanos não suportam os sentimentos de impotência. Temos de exercer algum
tipo de influência, caso contrário sentimo-nos infelizes. Os vendedores de
sinceridade não são diferentes, mas, como precisam de acreditar nas suas
características angelicais, não conseguem conciliar esta autoimagem com a
necessidade de influência. E por isso muitas vezes tornam-se
passivo-agressivos, mostrando má cara e fazendo os outros sentir-se culpados
como modo de alcançarem o que desejam. Nunca leve à letra pessoas que dizem
coisas como estas.
Em segundo lugar, os seres humanos
evitam tentar influenciar os seus pares. Tudo o que dizemos ou fazemos é
analisado e interpretado pelos outros como pistas para as nossas intenções.
Estamos calados? Talvez seja por nos sentirmos perturbados e querermos
esclarecer as coisas. Ou então estamos realmente a ouvir como forma de tentar
impressionar, com a nossa boa educação. Independentemente do que façamos, as
pessoas irão ler estas atitudes como tentativas de influenciar, e não estarão
erradas ao fazê-lo. Como animais sociais, não conseguimos evitar jogar
constantemente este jogo, quer tenhamos ou não consciência disso.
A maior parte das pessoas não quer
fazer o esforço que implica pensar sobre os outros e imaginar uma entrada
estratégica nas suas defesas. São preguiçosas. Querem simplesmente ser quem
são, falar sinceramente ou não fazer nada, e justificam-no para si mesmas como
algo que tem origem numa decisão moral extraordinária.
Visto que este jogo é inevitável, é
preferível ser versátil no mesmo do que entrar em negação ou improvisar apenas
na altura. Afinal, ser bom a influenciar é, na verdade, socialmente mais
benéfico do que assumir a posição moralista. Com este poder, podemos
influenciar as pessoas que têm ideias perigosas e antissociais. Tornar-se
especialista em persuasão exige que mergulhemos na perspetiva dos Outros,
exercendo a empatia. Podemos ter de tolerar o preconceito cultural e de acenar
com a cabeça em sinal de aceitação sobre a necessidade de sinceridade absoluta,
mas devemos perceber interiormente que é absurdo e fazer o que for necessário
para o nosso próprio bem-estar.
Cinco estratégias para se tornar um
mestre da persuasão
As cinco estratégias que se seguem
inspiradas nos exemplos dos maiores influenciadores da história foram
concebidas para o ajudar a concentrar-se mais facilmente nos seus alvos e criar
o tipo de efeitos emocionais capazes de reduzir a resistência das pessoas.
Poderá ser prudente pôr as cinco em prática.
1.Transforme-se num ouvinte atento. No decorrer normal de uma
conversa, a sua atenção está dividida. Ouvimos partes do que as outras pessoas
estão a dizer, de modo a acompanhar e manter o curso da conversa. Ao mesmo
tempo planeamos o que vamos dizer a seguir, alguma história empolgante que
tenhamos para contar. Ou sonhamos acordados sobre algo irrelevante. O motivo
para isto é simples: estamos mais interessados nos nossos próprios pensamentos,
sentimentos e experiências do que nos da outra pessoa. Se não fosse o caso,
seria relativamente fácil ouvir com toda a atenção. A recomendação normal é
falar menos e ouvir mais, mas este conselho não faz sentido enquanto
preferirmos o nosso próprio monólogo interior. A única solução é de alguma forma
ser motivado para inverter esta dinâmica.
Pense nisto desta maneira: Conhece
os seus pensamentos demasiado bem. Raramente se sente surpreendido. A sua mente
tende a andar obsessivamente à volta dos mesmos temas. Mas cada pessoa com quem
se cruza representa um país inexplorado cheio de surpresas. Imagine por um
instante que conseguia entrar na mente das pessoas e que viagem espantosa essa
seria. As pessoas que parecem caladas e sem brilho muitas vezes têm as vidas
interiores mais invulgares a explorar. Mesmo com os mais rudes e tolos, pode
informar-se acerca das origens e da natureza dos seus defeitos. Transformar-se
num ouvinte atento não só se revelará mais divertido quando abre a sua mente à
dos outros como também lhe oferece as lições mais inestimáveis sobre psicologia
humana.
Quando estiver motivado para ouvir,
o resto é relativamente simples. Não deve tornar demasiado óbvio o objetivo
estratégico por detrás da escuta. A outra pessoa tem de sentir que se trata de
uma troca animada, mesmo que no fim lhes caiba 80 por cento do tempo de antena.
Para este efeito, não deverá crivar o seu interlocutor de perguntas que o possa
fazer sentir-se como se estivesse numa entrevista de emprego. Em vez disso,
preste atenção aos sinais não verbais. Irá ver os seus olhos acenderem-se
quando certos temas são mencionados deverá orientar a conversa nesse sentido.
As pessoas tornar-se-ão faladoras sem se aperceberem disso. Quase toda a gente
gosta de falar da infância, da família, dos contratempos profissionais ou de
alguma causa que lhes seja cara. Uma pergunta ou comentário ocasional corrobora
algo que disseram.
Mantenha-se profundamente
concentrado no que dizem, mas sinta-se e pareça descontraído ao fazê-lo. Passe
a informação de que está a ouvir mantendo um contacto visual relativamente
consistente e acenando enquanto os outros falam. A melhor maneira de mostrar
que está a ouvir muito atentamente é dizer de vez em quando algo que espelhe o
que o outro disse, mas nas suas palavras e filtrando-o através da sua própria
experiência. No fim, quanto mais os outros falarem, mais revelarão acerca das
suas inseguranças e desejos não realizados.
O seu objetivo é permitir que o seu
interlocutor saia dessa interação a sentir-se melhor consigo mesmo. Deixou-o
ser a estrela do espetáculo. Apelou ao lado mais espirituoso e divertido da sua
personalidade. Irá apreciá-lo por isso e sentir-se-á ansioso pelo próximo
encontro. A medida que este se sentir mais relaxado na sua presença, ganhará
mais latitude para instilar ideias e influenciar o seu comportamento.
2. Contagie as pessoas com o estado de espírito certo. Como animais sociais, somos
extremamente suscetíveis aos estados de espírito das outras pessoas. Isto
dá-nos o poder de insuflar subtilmente nas pessoas o estado de espírito certo
para as influenciar. Se estiver relaxado e antecipar uma experiência agradável,
isso irá transparecer e ter um efeito de espelho na outra pessoa. Uma das
melhores atitudes a adotar para este objetivo é a de indulgência absoluta. Não
julgue as outras pessoas; aceite-as tal como são.
Lyndon Johnson era especialista
nesta técnica. Claro que usava o álcool, que fluía livremente pelo seu
gabinete, embora os seus alvos não soubessem que as suas próprias bebidas eram
bastante temperadas com água de modo a conseguir manter o autocontrolo.
As suas anedotas picantes e
histórias pitorescas criavam um ambiente confortável de clube masculino. Era
difícil resistir ao estado de espírito que impunha. Johnson também podia ser
bastante físico, abraçando muitas vezes um homem pelos ombros e tocando-lhe com
frequência no braço. Muitos estudos sobre sinais não verbais demonstraram o
incrível poder que um simples toque das mãos ou dos braços das pessoas pode ter
em qualquer interação, fazendo-as pensar coisas positivas sobre o interlocutor
sem sequer terem consciência da origem dessa opinião favorável. Estas
pancadinhas suaves criam um sentimento de relação visceral, desde que se
estabeleça contacto visual, o que não transmitiria uma mensagem de teor sexual.
Tenha em mente que as suas
expectativas acerca das pessoas são transmitidas de forma não verbal.
Provou-se, por exemplo, que os professores que esperam grandes feitos dos
alunos podem, sem chegar a dizer alguma coisa, ter um efeito positivo no seu
trabalho e classificações. Ao sentir-se especialmente entusiasmado quando
encontra alguém, irá transmiti-lo de uma forma intensa. Se se tratar de uma
pessoa a quem eventualmente venha a pedir um favor, tente imaginá-la sob a sua
melhor luz generosa e solidária, se possível.
Algumas pessoas afirmam obter bons
resultados pensando simplesmente que a outra pessoa é bonita e bem-parecida.
3. Confirme a sua autoimagem. Recorde as características
universais das autoimagens das pessoas com uma elevada autoestima. Eis a forma
de abordar cada uma delas.
Autonomia. Nenhuma tentativa de exercer
influência sobre outrem poderá resultar se as pessoas sentirem de alguma forma
que estão a ser coagidas ou manipuladas. Têm de decidir fazer o que deseja que
elas façam ou pelo menos devem senti-lo como sendo uma escolha sua. Quanto mais
profundamente criar esta impressão, maiores serão as suas hipóteses de sucesso.
As suas tentativas no sentido de
exercer influência sobre outrem devem sempre seguir a seguinte lógica: Como
conseguir que os outros vejam o favor que lhes quer pedir como algo que já
desejam? Apresentá-lo como algo agradável, como uma oportunidade rara e como
qualquer coisa que outras pessoas desejem fazer de modo geral tem o efeito
desejado.
Finalmente, quando se oferecem
presentes ou recompensas às pessoas como forma de as puxar para o nosso lado, é
sempre preferível que sejam pequenos e não grandes. Se forem mais consideráveis
tornam demasiado evidente o facto de estar a tentar comprar a sua lealdade, o
que ofenderá a ideia que as pessoas têm de independência. Algumas pessoas
poderão aceitar presentes substanciais por necessidade, mas mais tarde
sentir-se-ão melindradas ou desconfiadas. Os presentes mais pequenos têm um
melhor efeito as pessoas podem dizer a si mesmas que os merecem e que não estão
a ser compradas ou subornadas. De facto, essas pequenas recompensas,
distribuídas ao longo do tempo, ligarão os outros à sua pessoa de uma forma
muito mais intensa do que algo mais excessivo.
Inteligência. Quando discorda de outro indivíduo
e impõe a sua opinião contrária, está a deixar subentendido que os seus motivos
são mais válidos, que pensou bem nas coisas, de forma mais racional. As pessoas
que são desafiadas desta forma tenderão naturalmente a ficar mais ligadas às
suas opiniões. Pode evitá-lo mostrando-se mais neutral, como se esta ideia
contrária fosse simplesmente algo em que anda a pensar, sugerindo que pode
estar enganado. Mas, mesmo assim, pode ir muito mais longe: identifique o ponto
de vista do outro e concorde com ele, (Ganhar uma discussão raramente vale o
esforço.) Depois de lhe ter lisonjeado a inteligência, tem agora a oportunidade
de alterar subtilmente a sua opinião ou de fazer o seu interlocutor baixar a
guarda através de um pedido de ajuda.
O primeiro-ministro e romancista
britânico do século XIX Benjamin Disraeli concebeu um estratagema ainda mais
inteligente quando escreveu: «Se desejar ganhar o coração de um homem, deixe-o
refutá-lo.» Faça-o começando por discordar de alguém sobre determinado tema,
inclusive com alguma veemência e começando lentamente a dar a entender que
compreende o seu ponto de vista confirmando assim não só a sua inteligência,
mas também as suas próprias capacidades de influenciar outrem. A outra pessoa
sentir-se-á ligeiramente superior a si, que é precisamente aquilo que deseja.
Ficará então duplamente vulnerável ao seu próprio contramovimento. Pode criar
um efeito semelhante pedindo conselho às pessoas. Desta forma, deixará
implícito que respeita o seu conhecimento e experiência.
Beaumarchais na construção das
bodas de fígaro era de facto um cortesão muito arguto. Permitiu que outros
fizessem pequenas alterações na sua obra-prima, deixou os seus egos e
inteligências extremamente lisonjeados. Claro que não cedeu nas mudanças de
maior fôlego mais tarde exigidas pelos censores de Luís XVI. Por essa altura,
ganhara de tal forma o apoio dos elementos da comissão que estes o defenderam
fervorosamente, e o rei teve de recuar. Baixar as defesas das pessoas desta
forma em questões que não sejam muito importantes dar-lhe-á grande latitude
para as direcionar no sentido que deseja e para conseguir que cedam aos seus
anseios em questões mais importantes.
Bondade. Nos nossos pensamentos diários,
confortamo-nos permanentemente quanto à natureza moral das nossas ações. Se
formos funcionários de uma empresa, ver-nos-emos como bons elementos de uma
equipa. Se formos chefes, trataremos bem as pessoas ou pelo menos pagar-lhes-emos
e apoiá-las-emos devidamente. Ajudamos as causas certas. De modo geral, não
gostamos de nos considerar egoístas e demasiado focados nos nossos interesses.
Igualmente importante: queremos que os outros nos considerem sob este prisma.
Veja o exemplo das redes sociais e de como as pessoas exibem o facto de
apoiarem as melhores causas. Poucas pessoas contribuem anonimamente para
instituições de beneficência preferem que os seus nomes sejam anunciados alto e
bom som.
Nunca deve lançar dúvidas inadvertidamente
sobre esta autoimagem de virtude. Para fazer uma utilização positiva desta
característica nas pessoas apresente aquilo que lhes está a pedir como parte de
uma causa mais lata em que possam participar. Não estarão apenas a comprar
roupa, mas a ajudar o ambiente ou a contribuir para manter o emprego local. Ao
praticarem estas ações, as podem sentir-se melhor consigo mesmas. seja subtil.
Se estiver a tentar recrutar pessoas para uma missão, deixe que outros espalhem
a mensagem sobre a causa. Faça-a parecer pró-social e popular. Deixe que as
pessoas queiram aderir ao grupo, em vez de insistir com elas. Preste muita
atenção às palavras e rótulos utiliza. É preferível, por exemplo, designar
alguém elemento de equipa em vez de empregado.
Ao colocar-se numa posição de
inferioridade, pode dar alguns passos em falso relativamente inofensivos, e até
ofender as pessoas de uma forma mais pronunciada, e depois pedir desculpa. Ao
fazê-lo, deixa implícita a sua superioridade moral, uma posição que as pessoas
adoram ocupar. Ficarão vulneráveis à sugestão. Finalmente, se precisar de um
favor das pessoas, não as lembre do que fez por elas no passado, tentando
estimular sentimentos de gratidão. A gratidão é rara porque tende a lembrar-nos
da nossa impotência, da nossa dependência dos outros. Gostamos de nos sentir
independentes. Em vez disso, lembre-as das coisas boas que fizeram por si no
passado. Isto irá ajudar a confirmar a sua autoimagem: «Sim, sou generoso.»
Depois de recordados, irão querer continuar a fazer jus a esta imagem e
realizar mais uma boa ação. Um efeito semelhante pode surgir do ato de perdoar
subitamente os inimigos e de promover uma aproximação. No turbilhão emocional
que a situação cria, os outros sentir-se-ão obrigados a manter-se à altura da
opinião favorável que revelou ter acerca deles e sentir-se-ão mais motivados
para se mostrarem merecedores.
4.Acalme as inseguranças alheias. Toda
a gente tem inseguranças específicas — quanto ao seu aspeto, às suas
capacidades criativas, à sua masculinidade, ao seu estatuto, à sua
singularidade, à sua popularidade, etc. A sua missão é identificar estas
inseguranças através de várias conversas para as quais atraia esses indivíduos
Depois de as ter identificado, deve ter todo o cuidado para não as ativar. As
pessoas desenvolvem antenas sensíveis a todas as palavras ou linguagem corporal
que possam lançar dúvidas sobre a sua aparência física, popularidade ou seja
qual for a insegurança em causa. Tenha cuidado com este aspeto e mantenha-se
atento. Em segundo lugar, a melhor estratégia é elogiar e adular essas
qualidades acerca das quais as pessoas se revelam mais inseguras. Todos
ansiamos por isso, mesmo que consigamos decifrar a pessoa que nos está a
bajular. Isto acontece porque vivemos num mundo difícil, em que somos
constantemente julgados e o triunfo de ontem é facilmente seguido do fracasso
de amanhã. Nunca nos sentimos realmente seguros se o elogio for bem feito,
sentimos que o adulador gosta de nós, e a verdade é que tendemos a gostar de
pessoas que gostam de nós.
O truque para uma adulação
bem-sucedida é torná-la estratégica. Se sei que sou especialmente mau em
basquetebol, elogiarem-me pelas minhas capacidades nesse desporto soará sempre
a falso. Mas se eu não tiver certezas acerca das minhas capacidades, se pensar
que talvez não seja assim tão mau, então qualquer elogio nesse campo pode fazer
maravilhas. Procure as características acerca das quais as pessoas se sentem
inseguras e tranquilize-as.
Se os nossos alvos forem poderosos
e maquiavélicos, poderão sentir-se um pouco inseguros quanto às suas qualidades
morais. Adulá-los no que diz respeito às suas manipulações inteligentes pode
virar o feitiço contra o feiticeiro, mas um elogio óbvio à sua bondade também
seria demasiado transparente, porque se conhecem suficientemente bem. Em vez
disso, um elogio estratégico sobre a forma como beneficiou do seu
aconselhamento e como as suas críticas o ajudaram a melhorar o seu desempenho
apelará à sua autoimagem de indivíduo duro, mas justo, com um coração bom por
baixo de uma aparência inflexível.
E sempre preferível elogiar as
pessoas pelo seu esforço, não pelo seu talento. Quando enaltece as pessoas pelo
seu talento, há uma ligeira desaprovação envolvida, como se simplesmente
tivessem sorte por ter nascido com uma capacidade natural. Em vez disso, toda a
gente gosta de sentir que foi recompensada em virtude do seu trabalho árduo e
que é por isso que é louvada.
Com pessoas que sejam seus pares,
tem mais do que espaço para a adulação. Com os que forem seus superiores, é preferível
simplesmente concordar com as suas opiniões e reconhecer a sua sabedoria. A
adulação do chefe é algo demasiado transparente.
Nunca faça seguir o seu elogio de
um pedido de ajuda ou de seja o que for que procura. A sua adulação é uma
estratégia e exige que decorra algum tempo. Não pareça demasiado lisonjeador
nos primeiros encontros. E preferível mostrar até alguma frieza, o que lhe dará
espaço para aquecer. Depois de alguns dias, acabará por gostar dessa pessoa, e
então algumas palavras elogiosas dirigidas às suas inseguranças começarão a
derreter-lhe a resistência. Se possível, deixe terceiro transmita os seus
elogios, como se simplesmente os tivesse ouvido por acaso. Nunca seja demasiado
exuberante na lisonja ou recorra a termos absolutos. Uma forma inteligente de
esconder o seu rasto consiste em juntar pequenas críticas à pessoa ou ao seu
trabalho, nada que ative inseguranças, mas pequenas para dar aos seus elogios
um tom mais realista: «Gostei da sua peça, embora suficiente que o segundo ato
poderia ter sido mais trabalhado.» Não diga: «O seu último livro é muito melhor
do que o anterior.» Tenha muito cuidado quando pessoas lhe pedem opinião sobre
o seu trabalho ou sobre algo relacionado com a sua personalidade ou aspeto. Não
procuram a verdade; querem apoio e validação da forma mais realista possível.
Dê-lhos com toda a alegria.
Deverá parecer o mais sincero
possível. Será melhor elogiar qualidades realmente admire, se for de todo
possível. Em qualquer acontecimento, o que que denuncia as pessoas são os
sinais não verbais — um elogio acompanhado de uma linguagem corporal rígida, de
um sorriso falso ou de um olhar fixo noutro ponto. Tente sentir algumas das
emoções positivas que está a expressar para que qualquer exagero pareça menos
óbvio. Tenha em mente que o seu alvo deve ter uma autoimagem relativamente
positiva. Se for negativa, a adulação não se coadunará com aquilo que o outro
sente e soará superficial, embora para as pessoas com uma autoestima elevada
pareça perfeitamente normal.
5.Use a resistência e a teimosia das pessoas. Algumas pessoas são especialmente resistentes a
qualquer tipo de influência. São quase sempre pessoas com níveis mais profundos
de insegurança e de autoestima. Isto pode manifestar-se numa atitude de
rebelião. Estes tipos sentem-se como se fossem eles contra o mundo. Têm de
afirmar a sua vontade a todo o custo e resistir a todo o tipo de mudança. Farão
o contrário do que as pessoas sugerem. Irão procurar conselho para um problema
ou sintoma específico, para encontrarem apenas dezenas de razões pelas quais o
conselho dado não funciona para elas. O melhor a fazer é jogar um jogo mental
de judo com elas. No judo, não se faz frente aos movimentos das pessoas com um
golpe, estimula-se a sua energia agressiva, aproveitando a inércia inerente a
este movimento para as fazer cair sozinhas. Eis algumas formas de pôr esta
estratégia em prática na vida diária.
Use as emoções dos outros: No livro Change, os autores (Paul Watzlawick, John H.
Weakland e Richard Fisch), igualmente psicólogos, discutem o caso de um
adolescente rebelde, suspenso da escola pelo diretor por ter sido apanhado a
vender droga. Continuava a ter de fazer os TPC em casa, mas proibiram-no de ir
à escola. A decisão faria uma grande mossa no seu negócio de droga. O rapaz ardia
de desejo de se vingar. A mãe consultou um psicólogo, que lhe disse para fazer
o seguinte: explicar ao filho que o diretor achava que só os alunos que
frequentavam as aulas podiam ter bons resultados. Segundo o diretor, ao manter
o rapaz afastado da escola, estava a certificar-se de que ele reprovava. Se se
saísse melhor a estudar em casa do que indo às aulas, isso iria envergonhar o
diretor. Era preferível não se esforçar muito nesse período e cair nas boas
graças do diretor provando-lhe que tinha razão. Claro que este conselho se
destinava a jogar com as suas emoções. A partir de então, acima de tudo, o
rapaz desejava envergonhar o diretor e por isso empenhou-se no estudo com
grande energia, o que constituiu o objetivo do psicólogo desde o início. Essencialmente,
a ideia não é fazer face às emoções fortes das pessoas, mas avançar com elas e
arranjar uma forma de as canalizar num sentido produtivo.
Use a linguagem dos outros: O psicólogo Milton Erickson (ver
capítulo 3) descreveu o caso seguinte, que ele próprio tratara: um marido
consultou-o em busca de conselho, embora parecesse muito determinado a fazer o
que queria de qualquer maneira. Ele e a mulher vinham de famílias muito
religiosas e haviam-se casado principalmente para agradar aos pais. O marido e
a mulher também eram muito religiosos. No entanto, a sua lua de mel fora um
desastre. Acharam o sexo muito estranho e não se sentiram apaixonados. O marido
decidiu que não era culpa de ninguém, mas que deveriam tratar de um «divórcio
amigável». Erickson concordou rapidamente com ele e sugeriu exatamente como
realizar esse «divórcio amigável». Mandou-o reservar um quarto num hotel.
Deveriam ter uma última noite «amigável>> juntos antes do divórcio.
Também deveriam tomar uma última taça «amigável» de champanhe, um último beijo
«amigável» e por aí fora. Estas indicações garantiram praticamente a sedução da
esposa por parte do marido. Tal como Erickson esperara, o marido seguiu as suas
indicações, o casal viveu uma noite intensa e decidiu alegremente manter o
casamento.
Erickson intuiu que o marido na
verdade não queria o divórcio e que os dois se sentiam estranhos devido aos
seus antecedentes religiosos. Ambos se sentiam profundamente inseguros acerca
dos seus desejos físicos, mas resistentes a qualquer tipo de mudança. Erickson
usou a linguagem do marido e o seu desejo de se divorciar, mas arranjou uma
maneira de redirecionar suavemente a energia para algo muito diferente. Quando
se usam as palavras das pessoas com elas próprias, isso tem um efeito hipnótico.
Como podem não seguir o que sugeriu quando são precisamente as palavras que
usaram?
Use a rigidez dos outros: O filho de um agiota um dia
consultou o grande mestre zen do século XVIII Hakuin com o seguinte problema:
queria que o pai praticasse Budismo, mas o homem alegava estar demasiado
ocupado com a contabilidade para ter tempo para um único canto ou oração,
Hakuin conhecia o agiota que era um sovina inveterado que estava penas a usar o
facto como desculpa para evitar a religião, que considerava uma perda de tempo.
Hakuin aconselhou o rapaz a dizer ao pai que o próprio mestre zen lhe compraria
cada oração e cântico que fizesse diariamente. Tratava-se apenas de um negócio.
Claro que o agiota ficou muito
feliz com o negócio, podia calar o filho e ao mesmo tempo fazer dinheiro. Todos
os dias apresentava a Hakuin a conta das orações, e Hakuin pagava-lhe
devidamente. Mas ao sétimo dia o agiota não apareceu. Ao que parece, ficara tão
embrenhado nos cânticos que se esquecera de contar quantas preces fizera.
Alguns dias mais tarde, reconheceu perante Hakuin que se deixara absorver
completamente pelos cânticos, se sentia muito melhor e já não precisava de lhe
pagar. Pouco depois, tornou-se um doador muito generoso do templo de Hakuin.
Quando as pessoas são rígidas na
sua oposição a algo, isso tem origem num profundo medo da mudança e na
incerteza que esta pode acarretar. Tudo deve acontecer nas suas condições e
devem sentir que controlam tudo. Cair-se-á no seu jogo se se tentar a todo o
custo incitá-las a mudar — isso dá-lhes algo contra o qual reagir e justifica a
sua rigidez. Tornam-se mais teimosas. Pare de lutar contra estes indivíduos e use
a verdadeira natureza do seu comportamento rígido para operar uma mudança
ligeira que possa conduzir a algo maior. Sozinhos descobrirão algo novo (como o
poder da oração budista) e sozinhos podem levá-lo mais longe, o que terá
preparado com a manobra de judo referida.
Tenha em mente o seguinte: as
pessoas muitas vezes não fazem o que os outros lhes pedem para fazer, porque
simplesmente pretendem afirmar a sua vontade. Se concordar cordialmente com a
sua rebelião e lhes disser para continuarem a fazer o que estão a fazer, isso
significa que, se o fizerem, estarão a seguir o seu conselho, o que para elas é
desagradável. Podem perfeitamente rebelar-se de novo e afirmar a sua vontade no
sentido contrário, que era o que desejava desde o princípio — a essência da
psicologia reversa.
A mente flexível — estratégias
pessoais
Acha decerto frustrante quando as
pessoas resistem às suas boas ideias por mera teimosia, mas está muito pouco
consciente de como o mesmo problema — a sua própria teimosia — o perturba e
limita as suas capacidades criativas.
Na infância, as nossas mentes são
espantosamente flexíveis. Podemos aprender a um nível que ultrapassa em muito
as nossas capacidades em adultos. Pode atribuir-se grande parte da origem desta
capacidade aos nossos sentimentos de fraqueza e vulnerabilidade. Captando a
nossa inferioridade em relação aos que são mais velhos do que nós, sentimo-nos
altamente motivados para aprender. Também somos genuinamente curiosos e
sedentos de informações novas. Estamos abertos à influência de pais, pares e
professores.
Na adolescência, muitas pessoas
tiveram a experiência de se sentir fascinados por um bom livro ou escritor.
Ficamos extasiados pelas ideias novas desse livro, e, por estarmos tão abertos
à influência, estes primeiros encontros com ideias empolgantes enraízam-se
profundamente nas nossas mentes e passam a fazer parte dos nossos processos
racionais, afetando-nos décadas depois de os termos assimilado. Estas
influências enriqueceram a nossa paisagem mental, e de facto a nossa inteligência
depende da capacidade de assimilar as lições e ideias de quem é mais velho e
sábio.
No entanto, tal como o corpo
endurece com a idade, o mesmo acontece à mente. E, do mesmo modo que a sensação
de fraqueza e vulnerabilidade motivou o desejo de aprender, a noção progressiva
de superioridade também nos fecha lentamente a novas ideias e influências.
Alguns podem defender que todos nos tornamos mais céticos no mundo moderno, mas
na verdade há um perigo muito maior que advém do fecho crescente da mente, que
nos afeta como indivíduos à medida que envelhecemos e que parece afetar a nossa
cultura em geral.
Vamos definir o estado de espírito
ideal como aquele que preserva a flexibilidade da juventude, bem como as
capacidades de raciocínio dos adultos. Uma mente deste tipo está aberta à
influência dos outros. E, tal como usa estratégias para destruir a resistência
das pessoas, deverá fazer o mesmo consigo, trabalhando no sentido de atenuar os
seus padrões mentais rígidos.
Para alcançar um ideal como este,
deverá primeiro adotar o princípio-chave da filosofia socrática. Um dos
primeiros admiradores de Sócrates foi um jovem chamado Querefonte. Frustrado
por não haver mais atenienses a reverenciar Sócrates como ele próprio,
Querefonte visitou o Oráculo de Delfos e fez-lhe uma pergunta: «Haverá homem
mais sábio do que Sócrates em toda a Atenas?» O oráculo respondeu que não.
Querefonte sentiu-se vingado na sua
admiração por Sócrates e foi a correr dar as boas notícias ao seu mentor. No
entanto Sócrates, como homem humilde que era, não ficou nada agradado por o
ouvir e sentiu-se determinado a provar que o oráculo estava enganado. Visitou
muitas pessoas, cada uma delas eminente do seu campo — política, artes,
negócios —, e fez-lhes muitas perguntas. Quando se atinham ao conhecimento do
seu campo, pareciam bastante inteligentes. Mas depois discorriam sobre todo o
tipo de temas sobre os quais claramente não sabiam nada. Nesses temas
declamavam apenas conhecimentos convencionais. Não pensavam demoradamente
nestes assuntos.
Finalmente, Sócrates teve de
reconhecer que o oráculo estava certo ele era mais sábio do que os outros
porque estava consciente da sua própria ignorância. Repetidamente, analisou e
reanalisou as suas próprias ideias, vendo incoerências e emoções infantis enraizadas
nas mesmas. O seu lema na vida tornara-se: «Uma existência que não seja
analisada não vale a pena ser vivida.» O encanto de Sócrates aquilo que o
tornava tão terrivelmente fascinante para a juventude de Atenas, era a sua
suprema abertura de espírito. Essencialmente, Sócrates assumia a posição mais
fraca e vulnerável da criança ignorante, sempre a fazer perguntas.
Pense nisto desta forma: gostamos
de gozar das ideias supersticiosas e irracionais que a maior parte das pessoas
tinha no século XVII. Imagine a troça que as do século xxv farão das nossas. O
nosso conhecimento do mundo é limitado apesar de todos os avanços da ciência.
As nossas ideias são condicionadas pelos preconceitos que os nossos pais, a
nossa cultura e o período histórico em que vivemos instilaram em nós. São, além
disso, limitadas pela crescente rigidez da mente. Um pouco mais de humildade
sobre o que sabemos tornar-nos-ia mais curiosos e interessados num leque mais
abrangente de ideias.
Quando se trata das suas ideias e
opiniões, veja-as como brinquedos ou peças de construção com que está a jogar.
Irá conservar algumas, derrubar outras, mas o seu espírito permanecerá flexível
e brincalhão.
Para ir mais longe, pode adotar uma
estratégia promulgada por Friedrich Nietzsche: «Aquele que deseja realmente
conhecer algo novo (seja uma pessoa, um acontecimento, um livro) faz bem em
conservá-lo com todo o amor possível e desviar o olhar rapidamente de tudo o
que considere hostil, repugnante e falso, banindo-o de facto da mente: assim,
por exemplo, concederá ao livro de um autor um início mais demorado e depois,
como alguém que assiste a uma corrida, desejará, com o coração a bater
descompassado, que aquele chegue depressa à sua meta. Porque com este método se
penetra no cerne da coisa nova, ao ponto de realmente a alterar: e é
precisamente isto que significa conhecê-la. Tendo chegado tão longe, a razão
pode criar depois as suas reservas; o juízo de valor excessivo, a suspensão
temporária da oscilação crítica foram apenas um artificio para atrair ainda
mais a alma da coisa»
Mesmo ao escrever o que é hostil às
nossas ideias há muitas vezes algo que soa verdadeiro, que representa a «alma
da coisa». Abrir-se desta forma à sua influência deveria passar a fazer parte
dos seus hábitos mentais, permitindo-lhe conhecer melhor as coisas, e até
criticá-las devidamente. Por vezes, contudo, essa «alma» irá comovê-lo, bem
como ganhar alguma influência, enriquecendo-o mentalmente no processo.
De vez em quando, é bom libertar-se
do seu conjunto de regras e restrições mais profundas. O grande mestre zen do
século XIV Bassui afixou na porta do templo uma lista de trinta e três regras
que os seus monges deveriam respeitar, caso contrário seriam expulsos. Muitas
dessas regras tinham a ver com álcool, que era rigorosamente proibido. Uma
noite, para desconcerto absoluto destes tacanhos monges, compareceu a um
encontro completamente ébrio. Nunca pediu desculpa elo facto ou o repetiu, mas
a lição era simples: aquelas regras eram meras orientações; para provarmos a
nossa liberdade, temos de as violar de vez em quando.
Finalmente, quando se tratar da sua
autoimagem, tente manter alguma distância irónica da mesma. Tome consciência da
sua existência e da forma como opera dentro de si. Aceite o facto de que não é
tão livre e autónomo como gosta de pensar. Mas adapta as opiniões aos grupos a
que pertence; compra produtos devido à sua influência subliminar; pode ser
manipulado. Tome igualmente consciência de que não é tão bom como a imagem
idealizada que projetou. Como toda a gente, pode ser bastante egocêntrico e
obcecado com os seus próprios interesses. Com esta consciência, não sentirá a
necessidade de ser reconhecido pelos outros. Em vez disso, trabalhará para se
tornar verdadeiramente independente e preocupado com o bem-estar dos outros, em
oposição a permanecer ligado à ilusão da sua autoimagem.
Havia algo terrivelmente cativante no exercício da influência. Nenhuma outra atividade se lhe equiparava. Projetar a alma de alguém numa forma graciosa e deixá-la demorar-se ali por um instante; ouvir as próprias perspetivas intelectuais serem devolvidas como o eco, com toda a música da paixão e da juventude; transferir o temperamento pessoal para outro como se fosse um fluido subtil ou um perfume estranho; havia uma verdadeira alegria nisso — talvez a alegria mais satisfatória permitida numa época tão limitada e vulgar como a nossa, uma época grosseiramente carnal nos seus prazeres e grosseiramente comum nos seus anseios.
Oscar
Wilde, O Retrato de Dorian Gray