# 1 Lei da Irracionalidade- 1/18- Robert Greene

 



# 1 Lei da Irracionalidade  Domine o Eu emocional



Domine o seu eu emocional. Gosta de se imaginar a controlar o seu destino conscientemente, a planear o curso da tua vida o melhor que puder, mas não sabes o quão profundamente as suas emoções o dominam, aposto que acha que tem o controlo total da sua vida, mas é mesmo? Não percebe, na maior parte das vezes, como as suas emoções controlam a sua vida. As mudanças no seu humor e esta desconexão da realidade é onde más decisões e pensamentos negativos originam. Racionalidade é a sua capacidade de contrariar estes efeitos emocionais na sua tomada de decisão.

O primeiro passo no caminho para se tornar uma pessoa racional é aceitar que os humanos são criaturas fundamentalmente irracionais. Os organismos vivos durante milhões de anos dependiam dos seus instintos para sobreviver, e, ao longo do tempo para alguns animais, isto evoluiu de um instinto para um sentimento de medo. O nosso cérebro evoluiu para um cérebro de mamífero mais complexo que é composto por três partes. A primeira e mais antiga é a parte réptil do cérebro - controla e regula automaticamente o corpo e esta é parte do cérebro onde os vem os nossos instintos. A seguir é a parte límbica, comum a todos os mamíferos – é onde são governados os nossos sentimentos e emoções. Por último temos o neocórtex - a parte do cérebro que controla a cognição e a linguagem.



A nossa racionalidade reside entre estas duas partes do cérebro. Através da libertação de hormonas e outras substâncias que tem como objetivo principal tornarmos conscientes do nosso ambiente para que possamos agir de acordo com as circunstâncias, no entanto o problema reside quando tentamos traduzir estas sensações e sentimentos em palavras usando o nosso neocórtex. A comunicação e tradução que ocorre entre límbico e neocórtex é muitas vezes imprecisa e, portanto, leva à nossa irracionalidade. Emoções e cognição não são facilmente traduzíveis e o que parece ser raiva pode realmente vir de uma fonte de inveja. Enquanto os animais sentem medo por um curto período de tempo, nós muitas vezes vivemos os nossos medos, tornando-os maiores do que eles realmente são e, como consequência, sentir ansiedade a longo prazo. Estamos sempre a sentir certas emoções que infetam o nosso pensamento. As pessoas racionais estão cientes disto.

Ser capaz de mitigar as suas emoções no seu pensamento ajuda-o a tomar decisões mais racionais. As pessoas irracionais nem sequer estão cientes de que as suas emoções estão a desempenhar um papel no seu pensamento. Muitas vezes, a tomam decisões precipitadas ou explodem de raiva por causa de desconfortos mentais. Não se preocupe, há maneiras de mitigarmos as nossas mentes inerentemente irracionais.

Passos para mitigar pensamento irracional:

 

a) Reconhecer e entender os seus preconceitos

b) Cuidado com os fatores inflamatórios

c) Estratégias para revelar o eu racional

 

 

Passo 1 - Reconhecer e entender os seus preconceitos.

A emoção mais comum é o desejo de prazer e a prevenção da dor. Este princípio de prazer no nosso pensamento é a fonte de todos os nossos enviesamentos mentais

O preconceito da confirmação

Olho para as provas e chego às minhas decisões através de processos mais ou menos racionais.

Para chegarmos a uma ideia e nos convencermos de que a alcançámos através da racionalidade, procuramos evidências que fundamentem a nossa perspectiva. O que poderá ser mais objetivo ou científico? Mas, devido ao princípio do prazer e à sua influência inconsciente, conseguimos descobrir uma prova que confirme aquilo em que queremos acreditar. Trata-se de algo conhecido como preconceito da confirmação.

Podemos vê-lo em ação nos planos das pessoas, especialmente aqueles que envolvem riscos elevados. Um plano destina-se a conduzir a um objetivo positivo, desejado. Se as pessoas considerassem do mesmo modo as possíveis consequências negativas e positivas, poderiam ter dificuldade em tomar qualquer ação. Inevitavelmente, tendem a privilegiar informação que valide um resultado positivo, o cenário cor-de-rosa, sem se aperceberem disso. Também o vemos em ação quando as pessoas supostamente pedem conselho. Trata-se da maldição da maior parte dos consultores. Em última instância, as pessoas querem ouvir as suas próprias ideias e preferências confirmadas por uma opinião avalizada. Irão interpretar o que lhes dizem à luz do que querem ouvir; e, se o seu conselho for contra os seus desejos, irão arranjar maneira de rejeitar essa opinião, essa alegada competência. Quanto mais poderosa for a pessoa, mais estará sujeita a esta forma de preconceito da confirmação.

Ao investigar os preconceitos da confirmação no mundo, analise teorias que parecem demasiado boas para serem verdadeiras. Concebem-se estatísticas e estudos apenas para as provar; não serão muito difíceis de encontrar, logo que se sinta convencido da justeza dos seus argumentos. Na Internet, é fácil encontrar estudos que apoiem os dois lados de uma discussão. Em geral, nunca deveria aceitar a validade das ideias das pessoas pelo facto de terem apresentado «provas». Em vez disso, analise essas provas por si mesmo, com o maior ceticismo de que for capaz. O seu primeiro impulso deverá ser sempre encontrar evidências que rebatam as suas crenças mais fervorosas e as dos outros. A verdadeira ciência é isto.

 

O preconceito da convicção

Acredito profundamente nesta ideia. Deve ser verdadeira.

Agarramo-nos a uma ideia que secretamente nos agrada, mas bem lá no fundo podemos ter algumas dúvidas acerca da sua veracidade e por isso vamos um pouco mais longe para nos convencermos — para acreditar nela com grande veemência e para contradizer fortemente todos os que nos desafiem. Como poderá a nossa ideia não ser verdadeira se suscita em nós tal energia para a defender? Dizemos para nós mesmos. Este preconceito é revelado de forma ainda mais clara na nossa relação com os líderes — se estes expressam uma opinião com palavras e gestos inflamados, metáforas coloridas e histórias divertidas, além de uma profunda convicção, deve significar que a analisaram cuidadosamente para a expressarem com tal certeza. Por outro lado, aqueles que expressam matizes, cujo tom é mais hesitante, revelam fragilidade e insegurança. Provavelmente estão a mentir ou pelo menos é isso que pensamos. Este preconceito torna-nos vulneráveis a vendedores e demagogos que recorram à convicção como forma de convencer e de ludibriar. Sabem que as pessoas estão sedentas de entretenimento, por isso envolvem as suas meias-verdades em efeitos dramáticos.


O preconceito da aparência

Compreendo as pessoas com quem lido; vejo-as exatamente como aquilo que são.

Vemos as pessoas não por aquilo que são, mas por aquilo que aparentam. E estas aparências normalmente enganadoras. Em primeiro lugar, as pessoas treinaram-se em situações sociais para apresentarem a fachada adequada e que será avaliada em termos positivos. Parecem estar a favor das causas mais nobres, apresentando-se sempre como trabalhadoras e conscienciosas. Confundimos estas máscaras com a realidade. Em segundo lugar, tendemos a cair no efeito de o quando vemos determinadas qualidades positivas ou negativas numa pessoa (bizarria no comportamento social, inteligência), outras qualidades positivas ou negativas estarão em causa. Pessoas bem-parecidas geralmente parecem mais fidedignas, especialmente os políticos. Se uma pessoa for bem-sucedida, que provavelmente imaginamos também será ética, conscienciosa e merecedora do seu destino.

Isto tolda o facto de que muitas pessoas que se destacaram o conseguiram através de ações muito pouco morais, que inteligentemente esconderam dos olhares públicos.


O preconceito do grupo

As minhas ideias são só minhas. Não presto atenção ao grupo. Não sou conformista.

Somos animais sociais por natureza. O sentimento de isolamento, de diferença em relação ao grupo, é depressivo e aterrador. Experimentamos um imenso alívio quando encontramos outras pessoas que pensam como nós. De facto, somos motivados a aceitar ideias e opiniões porque estas nos trazem este alívio. Não estamos conscientes deste impulso e por isso imaginamos que chegámos a determinadas ideias completamente sozinhos. Repare nos adeptos de um partido ou de outro, de uma ideologia — prevalece uma ortodoxia ou retidão evidentes, sem que ninguém diga nada ou exerça uma pressão evidente. Se alguém se situa à direita ou à esquerda, as suas opiniões irão quase sempre pender na mesma direção acerca de uma série de questões, como que por magia, e, contudo, poucos admitirão alguma vez esta influência nos seus padrões de pensamento.

 

O preconceito da culpa

Aprendo com a minha experiência e com os meus erros.

 Os erros e as falhas suscitam a necessidade de explicar. Queremos aprender esta lição e não repetir a experiência. Mas, na verdade, não gostamos de olhar demasiado para o que fizemos; a nossa introspeção é limitada. A nossa resposta natural é culpar os outros, as circunstâncias ou uma momentânea falta de raciocínio. Este preconceito decorre do facto de, com frequência, ser demasiado doloroso olhar para os nossos erros. E algo que põe em causa os nossos sentimentos de superioridade. Atinge-nos no ego. E avançamos, fingindo refletir sobre o que fizemos. Mas, com o passar do tempo, o princípio do prazer surge, e esquecemos essa pequena parte do erro que atribuímos a nós mesmos. Desejo e emoção irão voltar a ofuscar-nos, e repetiremos exatamente os mesmos erros, passando por um processo semelhante de recriminação ligeira, seguida de esquecimento, até morrermos. Se as pessoas realmente aprendessem com a experiência, haveria menos erros no mundo, e a progressão profissional nunca teria fim.

O preconceito da superioridade

Sou diferente. Sou mais racional do que os outros, mais ético também.

Poucas pessoas diriam isto numa conversa. Dá um ar arrogante. Mas em muitos inquéritos de opinião e estudos, quando se pede a alguém que se compare com as outras pessoas, o inquirido geralmente expressa uma variante desta ideia. É o equivalente a uma ilusão de ótica não parecemos ver os nossos defeitos e irracionalidades, vemos apenas os dos outros. Por esse motivo, por exemplo, acreditamos facilmente que os adeptos de outro partido político não chegam às suas opiniões com base na racionalidade, mas os da nossa fação sim. Na perspetiva ética, poucas pessoas admitirão alguma vez terem recorrido ao ludíbrio ou à manipulação em contexto profissional ou terem sido espertas e estratégicas na progressão na carreira. Tudo o que temos, ou assim pensamos, resulta de talento natural e de trabalho árduo. Mas, no que diz respeito às outras pessoas, rapidamente as associamos a todo o tipo de táticas maquiavélicas. Isto permite-nos justificar o que quer que façamos, independentemente dos resultados.

Sentimos uma terrível propensão para nos imaginarmos seres racionais, decentes e éticos. Estas são qualidades altamente promovidas na cultura. Revelar sinais contrários é arriscar ser alvo de grande reprovação. Se tudo isto fosse verdade — se as pessoas fossem racionais e moralmente superiores - o mundo estaria carregado de bondade e de paz.

Conhecemos, contudo, a realidade, e por isso algumas pessoas, talvez todos nós, estão apenas a enganar-se a si mesmas. A racionalidade e as qualidades éticas têm de ser alcançadas através de consciência e de esforço. E algo que não surge naturalmente. Surge através de um processo de maturação.

 

Segundo passo: Cuidado com os fatores inflamatórios

As emoções de nível inferior afetam permanentemente o modo como pensamos e têm origem nos nossos próprios impulsos — por exemplo, o desejo de agradar e pensamentos reconfortantes. No entanto, a emoção de nível superior surge em determinados momentos, alcança um pico explosivo e é geralmente desencadeada por algo exterior — uma pessoa que nos irrita ou circunstâncias particulares. O nível de excitação é superior, e a nossa atenção é imediatamente captada. Quanto mais pensamos sobre a emoção, mais forte esta se torna, o que nos faz concentramo-nos ainda mais nela, e por aí em diante. A nossa mente direciona-se para a emoção, e tudo nos faz lembrar a nossa raiva e excitação. Tornamo-nos reativos. Como somos incapazes de suportar a tensão que isto acarreta, emoção de nível superior normalmente culmina numa qualquer -precipitada, com consequências desastrosas. No meio de tal ataque, sentimo-nos possuídos, como se um segundo e límbico eu tivesse assumido controlo.

E preferível estar consciente destes fatores, para evitar que a mente seja canalizada e impedir a libertadora de que se irá sempre arrepender. Também devia estar consciente da irracionalidade de nível superior presente nos outros, quer para se afastar do seu caminho quer para os ajudar a regressarem à realidade.

Fatores de desencadeamento desde a primeira infância

Na primeira infância, encontramo-nos no nosso estado mais sensível e vulnerável. Verificamos que a nossa relação com os nossos pais tinha um impacto muito maior sobre nós quanto mais recuarmos no tempo. O mesmo se poderá dizer de qualquer experiência forte nos primeiros anos de vida. Estas vulnerabilidades e feridas permanecem profundamente enterradas nas nossas mentes. Por vezes, tentamos reprimir a memória destas influências, se porventura forem negativas — grandes medos ou humilhações. Outras, contudo, estão associadas a emoções positivas, a experiências de amor e de atenção que desejamos reviver constantemente. Mais tarde, na vida, uma pessoa ou acontecimento irá desencadear uma memória desta experiência positiva ou negativa e com ela uma libertação de substâncias químicas ou de hormonas poderosas associadas à memória.

Pense, por exemplo, num jovem que tenha tido uma mãe distante e narcisista. Enquanto bebé ou criança, experimentou frieza ou abandono, e ser abandonado deveria significar para ele que de alguma forma não era merecedor do seu amor. Ou, de modo semelhante, um novo irmão aparecido em cena levou a mãe a dar-lhe muito menos atenção, o que também sentiu como abandono. Mais tarde, na vida, num relacionamento, uma mulher poderá transmitir sinais de reprovação relativamente a alguma característica ou ação da sua parte, o que faz parte de um relacionamento saudável. O facto ativa um fator de desencadeamento está a reparar nos seus defeitos, o que, imagina ele, antecede o momento em que o abandonará. Sente um forte afluxo emocional, uma sensação de traição iminente. Não percebe de onde vem esta impressão; encontra-se para lá do seu controlo. Tem uma reação exagerada, acusa, termina a relação, conduzindo tudo isto precisamente àquilo que receava — o abandono. A sua reação ocorreu face a um reflexo mental, não à realidade. Trata-se do auge da irracionalidade.

A forma de reconhecer este padrão em si próprio e nos outros é reparando em comportamentos que sejam subitamente infantis em termos de intensidade e aparentemente desviantes face a um certo tipo de personalidade. Pode concentrar-se em qualquer emoção-chave. Poderá ser medo de perder o controlo, do fracasso. Neste caso, reagimos afastando-nos da situação e da presença dos outros, como uma criança enrolada sobre si mesma. Um mal-estar súbito, provocado pelo medo intenso, far-nos-á abandonar convenientemente o local. Poderá ser medo — de perder o controlo, do fracasso. Neste caso, reagimos afastando-nos da situação e da presença dos outros, como uma criança enrolada em si mesma. Um mal-estar súbito, provocado pelo medo intenso, far-nos-á abandonar o local. Poderá ser amor — tentando desesperadamente recriar um relacionamento próximo com pais ou irmãos no presente, desencadeado por alguém que vagamente nos lembra do paraíso perdido. Poderá ser uma desconfiança profunda, com origem numa figura de autoridade da primeira infância que nos dececionou ou traiu, geralmente o Pai. Neste caso, normalmente desencadeia-se uma súbita atitude de rebelião.

O grande perigo aqui é que, ao interpretar erradamente o presente e reagir a algo no passado, geramos conflito, deceção e desconfiança, que mais não fazem que reforçar a ferida. Num certo sentido, estamos programados para repetir a experiência da infância no presente. A nossa única defesa é a consciência do que está a acontecer. Podemos reconhecer um fator de desencadeamento pela vivência de emoções que sejam invulgarmente primárias, mais descontroladas do que o normal. Estas desencadearão lágrimas, uma depressão profunda ou uma esperança excessiva. As pessoas dominadas por estas emoções irão ter com frequência um tom de voz e uma linguagem corporal diferentes, como se estivessem a reviver fisicamente um momento da sua primeira infância.

No meio de um acesso como este, temos de lutar para nos distanciarmos e considerarmos a possível fonte — a ferida da primeira infância— e os padrões que esta deixou dentro de nós. Este entendimento profundo de nós próprios e das nossas vulnerabilidades representa um passo determinante para nos tornarmos racionais.

Ganhos e perdas súbitos

O sucesso e os ganhos súbitos podem ser muito perigosos. Neurologicamente, são libertadas substâncias químicas no cérebro que provocam uma excitação e energia fortes, conduzindo ao desejo de repetir esta experiência. Pode ser o início de uma espécie de dependência e de comportamento maníaco. Do mesmo modo, quando os ganhos surgem muito depressa, tendemos a perder de vista a sabedoria básica de que o verdadeiro sucesso, para durar realmente, deve decorrer de trabalho esforçado. Não temos em conta o papel que a sorte desempenha nesses ganhos súbitos. Tentamos recuperar repetidamente esse ponto alto ganhando tanto dinheiro como atenção. Adquirimos sentimentos de arrogância. Tornamo-nos especialmente resistentes a quem quer que tente prejudicar-nos — eles não compreendem, dizemos a nós mesmos. Porque não é possível sustentar esta situação, sofremos uma queda inevitável, que é ainda mais dolorosa, conduzindo à parte depressiva do ciclo. Embora os jogadores sejam mais propensos a este processo, este aplica-se igualmente a homens e mulheres de negócio durante bolhas financeiras e a pessoas que recebam uma atenção súbita por parte do público.

As perdas inesperadas ou uma série de perdas seguidas também criam reações irracionais. Imaginamos que fomos amaldiçoados com má sorte e que isto irá continuar de forma indefinida. Tornamo-nos temerosos e hesitantes, o que muitas vezes leva a mais erros ou fracassos. No desporto, isto pode induzir a uma espécie de asfixia, na medida em que perdas e fracassos anteriores criam um peso e uma pressão incapacitantes.

A solução neste caso é simples: se quer viver ganhos e não perdas invulgares, será precisamente esse o momento de recuar e de os contrabalançar com algum pessimismo ou otimismo necessários. Tenha extremo cuidado com os sucessos inesperados e com o facto de eventualmente ser alvo de uma atenção súbita — não se fundam em nada que seja duradouro e têm uma influência viciante. Além de que a queda é sempre dolorosa.

Pressão crescente

As pessoas que o rodeiam de modo geral parecem sãs e com controlo sobre as suas vidas. Mas, se colocar qualquer uma delas em circunstâncias stressantes, com uma pressão crescente, irá verificar uma realidade diferente. A máscara fria de autocontrolo desfaz-se. Têm súbitos acessos de irritação, revelam uma tendência paranoica e tornam-se hipersensíveis e muitas vezes mesquinhas. Sob stresse ou sob qualquer ameaça, as partes mais primitivas do cérebro são ativadas e envolvidas, assoberbando as capacidades de raciocínio das pessoas. De facto, o stresse ou a tensão podem revelar falhas que as pessoas esconderam cuidadosamente. É com frequência interessante observar as pessoas nesses momentos, precisamente como forma de avaliar a sua verdadeira natureza.

Sempre que detetar níveis crescentes de pressão e de stresse na sua vida, deve observar-se cuidadosamente. Vigie todos os sinais inusitados de fragilidade ou sensibilidade, desconfianças súbitas, medos desproporcionados face às circunstâncias. Observe-se com o maior distanciamento possível, reservando tempo e espaço para estar sozinho. Irá precisar de perspetiva. Nunca imagine que é alguém que consegue suportar um stresse crescente sem escoamento emocional. Não é possível. Mas, através da autoconsciência e da reflexão, pode evitar tomar decisões de que acabará por se arrepender.

Indivíduos inflamatórios

Existem pessoas no mundo que, pela sua natureza, tendem a desencadear emoções fortes em quase todos aqueles com que deparam. Estas emoções situam-se entre os extremos do amor, do ódio, da confiança e da desconfiança. Alguns exemplos da história incluiriam o rei David, da Bíblia, Alcibíades, na antiga Atenas, Júlio César, na antiga Roma, Georges Danton, durante a Revolução Francesa, e Bill Clinton. Estes indivíduos têm algum carisma — possuem a capacidade de expressar emoções que estão a sentir de forma eloquente, o que inevitavelmente suscita emoções equivalentes nos outros. Mas alguns deles também podem ser bastante narcisistas e projetam os seus dramas e perturbações interiores para o exterior, apanhando outras pessoas no turbilhão que criam. Isto leva a profundos sentimentos de atração em algumas e de repulsa noutras.

É preferível reconhecer estes indivíduos pela forma como afetam os outros não apenas a si próprios. Ninguém lhes consegue permanecer indiferente. Todas as pessoas se descobrem incapazes de raciocinar ou de manter qualquer distância na sua presença. Fazem-nas pensar nelas constantemente quando não estão na sua presença. Têm uma qualidade obsessiva e podem conduzir os outros a ações extremas como seguidores dedicados ou inimigos inveterados. Em cada extremo do espectro — atração ou repulsão —, tenderá a ser irracional e precisará desesperadamente de distanciamento. Uma boa estratégia a utilizar é ver para lá da fachada que projetam. Estas pessoas procuram inevitavelmente transmitir uma imagem marcante, uma qualidade mítica e intimidatória; mas, na verdade, são perfeitamente humanas, crivadas das mesmas inseguranças e fragilidades que todos possuímos. Tente reconhecer estes traços humanos e desmistificá-los.

O efeito de grupo

Trata-se de uma variante superior do preconceito de grupo. Quando estamos num grupo de dimensão suficientemente considerável, tornamo-nos diferentes. Repare na sua pessoa e nos outros durante um evento desportivo, num concerto, numa reunião religiosa ou política. É impossível não se sentir apanhado pelas emoções coletivas. O seu coração bate mais depressa. Lágrimas de alegria ou de tristeza surgem mais facilmente. Estar num grupo não estimula o raciocínio independente, mas o desejo intenso de pertencer. Isto também pode acontecer num ambiente de trabalho, especialmente se o líder brincar com as emoções das pessoas para incitar desejos competitivos e agressivos ou se criar uma dinâmica do tipo «nós contra eles». O efeito de grupo não exige necessariamente a presença dos outros. Pode ocorrer de forma viral, à medida que determinada opinião se espalha pelos órgãos de comunicação social e nos contagia com o desejo de partilhar a opinião— geralmente uma variedade forte, como a indignação.

Existe um aspeto empolgante e positivo na estimulação de emoções de grupo. É a forma como nos podemos ligar a algo em nome do bem coletivo. Mas, se notar que o apelo vai no sentido de emoções mais diabólicas, como o ódio ou outras, um patriotismo fanático, a agressão ou visões do mundo radicais, deverá inocular-se e verificar de que forma essa tendência o influencia. Com frequência, é melhor evitar o cenário de grupo, se possível, de modo a manter as capacidades de raciocínio ou entrar nesses momentos com o maior ceticismo possível.

Cuidado com demagogos que exploram o efeito de grupo e estimulam explosões de irracionalidade. Recorrem inevitavelmente a determinados dispositivos. Num cenário de grupo, começam por aquecer a multidão, falando de ideias e de valores que todos partilham, criando uma sensação agradável de consenso. Recorrem a palavras vagas, mas fortes, cheias de qualidades emotivas, como justiça, verdade ou patriotismo. Falam de objetivos abstratos e nobres em vez de resolverem problemas específicos com ações concretas.

Os demagogos na política ou nos media tentam suscitar uma impressão permanente de pânico, urgência e indignação. Têm de manter os níveis emocionais elevados. A sua defesa é simples: tenha em conta as suas capacidades de raciocínio, a sua competência para pensar por si mesmo, o seu bem mais precioso. Rejeite qualquer tipo de intrusão de outros no seu espírito independente. Quando sentir que está na presença de um demagogo, seja duplamente cuidadoso e analítico.

Uma última palavra sobre o efeito irracional da natureza humana: Não imagine os tipos mais extremos de irracionalidade foram de alguma forma ultrapassados através do progresso e do esclarecimento. Ao longo da história, testemunhamos ciclos constantes de níveis crescentes e decrescentes do irracional. A grande era dourada de Péricles, com os seus filósofos e os primeiros vislumbres do espírito científico, foi seguida de uma era de superstição, de cultos e de intolerância. Este mesmo fenómeno ocorreu na Renascença italiana. O facto de este ciclo estar destinado a repetir-se faz parte da natureza humana.

O irracional simplesmente muda de aspeto e de forma. Podemos já não ter literalmente caças às bruxas, mas, no século xx, não há muito tempo, testemunhámos os julgamentos-espetáculo de Estaline, as audiências de McCarthy no Senado dos Estados Unidos e as perseguições em massa durante a Revolução Cultural Chinesa. Geram-se constantemente vários cultos, incluindo cultos de personalidade e a fetichização de celebridades. A tecnologia agora inspira fervor religioso. As pessoas têm uma necessidade desesperada de acreditar em algo e encontram-no por todo o lado. As sondagens revelaram, no século XXI, um aumento crescente de pessoas que acreditam em fantasmas, em espíritos e em anjos.

Enquanto houver seres humanos, o irracional encontrará a sua voz e maneira de se disseminar. A racionalidade é algo a ser adquirido por indivíduos, não por movimentos de massa ou pelo progresso tecnológico. Sentir-se superior e para lá de tudo isto é um sinal seguro de que o irracional se encontra em pleno funcionamento.

Terceiro passo: Estratégias para revelar o eu racional

Apesar das nossas tendências irracionais pronunciadas, dois fatores deveriam dar-nos toda a esperança. Em primeiro lugar encontra-se a existência ao longo da história e em todas as culturas de pessoas de grande racionalidade, as quais tornaram o progresso possível. Estas servem de ideais que todos podemos alcançar. Incluem Péricles, o soberano Asoka, da antiga Índia, Marco Aurélio da antiga Roma, Marguerite de Valois, na França medieval, Leonardo da Vinci, Charles Darwin, Abraham Lincoln, o escritor Anton Tchekhov, a antropóloga Margaret Mead e o homem de negócios Warren Buffett, uma para análise referir apenas alguns. Todos estes tipos partilham certas qualidades de si mesmos e das suas fragilidades, uma dedicação à verdade e à realidade uma atitude tolerante face às pessoas e a capacidade de alcançarem metas que estabeleceram.

O segundo fator consiste em que quase todos nós, a dada altura das nossas vidas passámos por momentos de maior racionalidade. Isto surge com frequência com aquilo a que iremos chamar a disposição do criador. Temos um projeto para concretizar, possivelmente com um prazo. As únicas emoções a que nos podemos dar ao luxo são a excitação e a energia. Outras emoções impedem-nos simplesmente de nos concentrarmos. Porque temos de obter resultados, tornamo-nos excecionalmente práticos. Concentramo-nos no trabalho — com uma mente calma, sem que o ego se imiscua. Se as pessoas tentarem interromper-nos ou contagiar-nos com emoções, não gostamos. Estes momentos — tão fugazes como algumas semanas ou horas— revelam o eu racional que está à espera para se revelar. Basta apenas alguma consciência e alguma prática.

As estratégias que se seguem são concebidas para o ajudar a revelar o seu Péricles ou Ateneia interiores:

Conheça-se a fundo. O Eu Emocional prospera na ignorância. O momento em que tomar consciência do modo como atua e o domina é aquele em que ele perde o controlo sobre si e pode ser domado. Portanto, o seu primeiro passo rumo ao racional será sempre para dentro. Pretenderá apanhar o Eu Emocional em ação. Para este propósito, terá de pensar no modo como funciona sob stresse. Que fragilidades específicas surgem nesses momentos: O desejo de agradar, de realizar ou de controlar? Níveis profundos de desconfiança? Observe as suas decisões, especialmente aquelas que foram ineficazes. Consegue detetar um padrão, uma insegurança subjacente que as impele? Analise os seus pontos fortes, o que o torna diferente das outras pessoas. Isto irá ajudá-lo a definir os objetivos que se combinam com os seus interesses de longo prazo e que estão sintonizados com as suas competências.  Ao saber e valorizar o que o destaca como pessoa diferente, também será capaz de resistir à influência do preconceito e ao efeito de grupo.

Analise as origens das suas emoções. Está zangado. Deixe o sentimento instalar-se interiormente e pense nele. Foi desencadeado por algo aparentemente trivial ou mesquinho? Então é sinal certo de que algo ou outra pessoa se encontra por detrás dele. Talvez uma emoção mais familiar esteja na sua origem, como a inveja ou a paranoia. Deve encarar este facto com toda a frontalidade. Investigue os fatores de desencadeamento para verificar onde tiveram início. Para o efeito, poderá ser prudente usar um diário onde registe as suas autoanálises com uma objetividade impiedosa. O maior perigo reside no seu ego e na forma como este lhe permite manter inconscientemente ilusões sobre si mesmo. Estas podem ser reconfortantes na altura, mas, a longo prazo, põem-no na defensiva e tornam-no incapaz de aprender ou de evoluir. Encontre uma posição neutra de onde possa observar as suas ações, com algum distanciamento e até humor. Em breve tudo isto se tornará natural para si, e, quando o seu Eu Emocional subitamente recuar em determinada situação, verá isso acontecer e conseguirá fazer marcha-atrás e reposicionar-se na sua posição neutra.

Aumente o tempo de reação. Esta capacidade surge com a prática e com a repetição. Quando algum acontecimento ou interação exigir uma resposta, deverá treinar-se para recuar. Isto pode significar retirar-se fisicamente para um lugar em que possa estar sozinho e não se sentir atingido por qualquer pressão ou escrever um e-mail zangado, mas não o enviar. Durma um ou dois dias sobre o assunto.

Não faça telefonemas ou comunique enquanto estiver sob o efeito de uma emoção súbita, especialmente ressentimento. Se der consigo a afadigar-se para assumir compromissos com pessoas, para as contratar ou para ser contratado por elas, recue e espere algum tempo. Deixe as emoções arrefecerem. Quanto mais se demorar nesse impasse melhor, porque a perspetiva surge com o tempo. Encare-o como um treino de resistência quanto mais tempo resistir a reagir, mais espaço mental terá para uma verdadeira reflexão e mais forte se tornará a sua mente.

Aceite as pessoas como factos. As interações com as pessoas são a maior fonte de agitação emocional, mas não tem de ser assim. O problema reside em estarmos constantemente a julgar as pessoas, a desejar que sejam algo que não são. Queremos mudá-las. Queremos que elas pensem e ajam de determinada maneira, na maior parte das vezes da forma como nós próprios pensamos e agimos. E, como não é possível, porque todos somos diferentes, estamos sempre frustrados e perturbados. Em vez disso, encare as outras pessoas como fenómenos, tão isentos como cometas ou plantas. Existem simplesmente. Existem em todo o tipo de variedades, tornando a vida rica e interessante. Trabalhe com aquilo que elas lhe derem, em vez de resistir e de tentar mudá-las. Faça da compreensão do ser humano jogo divertido, a resolução de um enigma. Tudo faz parte da comédia humana. Sim, as pessoas são irracionais, mas o leitor também é. Torne a sua aceitação natureza humana o mais radical possível. Isto irá acalmá-lo e ajudá-lo a observar pessoas de forma mais desapaixonada, compreendendo-as a um nível mais profundo. Irá deixar de projetar nelas as suas próprias emoções. Tudo isto lhe dará equilíbrio e tranquilidade, mais espaço mental para pensar. E certamente difícil fazê-lo com as pessoas do tipo pesadelo com quem nos cruzamos — os narcisistas furiosos, os agressores passivos e outros incendiários. Estas continuam a constituir um teste permanente à nossa racionalidade. Veja o exemplo do escritor russo que Anton Tchekhov, uma das pessoas mais ferozmente racionais que já viveu e serve de modelo para o caso. A sua família era grande e pobre, e o pai, alcoólico espancava impiedosamente os filhos, incluindo o jovem Tchekhov. Tchekhov tornou-se médico e abraçou a escrita como carreira paralela. Aplicou a sua formação de médico ao animal humano, ao seu objetivo de compreender o que nos torna tao irracionais, tão infelizes e tão perigosos. Nas suas narrativas e peças de teatro, considerava extremamente terapêutico entrar nas personagens e perceber até as mais abjetas. Desta forma, conseguiu perdoar a toda a gente, incluindo o pai. A sua abordagem a estes casos consistia em imaginar que, em cada pessoa, por muito retorcida que fosse, havia uma explicação para aquilo em que se tornara, uma lógica que lhe dava sentido. À sua maneira, estes indivíduos anseiam por realização, mas de forma irracional. Ao recuar e imaginar a sua história a partir de dentro, Tchekhov desmistificou os rudes e os agressores; deu-lhes uma dimensão humana. Já não suscitavam ódio, mas piedade. Deverá pensar mais como um escritor ao abordar as pessoas com que lida, mesmo as piores.

Descubra o equilíbrio ideal entre pensamento e emoção. Não podemos dissociar as emoções do pensamento. Ambos estão profundamente interligados. Mas existe inevitavelmente um fator dominante, algumas pessoas são mais claramente dominadas pelas emoções do que outras. Aquilo que procuramos é a combinação e o equilíbrio certos, o que conduz a uma ação mais eficaz. Os antigos gregos tinham uma metáfora adequada para isto: o cavaleiro e o cavalo.

O cavalo é a nossa natureza emocional, que nos impele constantemente a avançar.

Este cavalo tem imensa energia e potência, mas sem cavaleiro, não pode ser guiado; é selvagem, alvo de predadores e está sempre a meter-se em sarilhos.

Este cavalo é o nosso eu racional. Com treino e prática, este seguro as rédeas e guia o cavalo, transformando a sua poderosa energia animal em algo produtivo. Um sem o outro não tem utilidade. Sem cavaleiro, não há movimento direcionado ou objetivo. sem cavalo, não há energia, força. Na maior parte das pessoas, cavalo domina, e o cavaleiro é fraco. Noutras, o cavaleiro é demasiado forte, segura as rédeas com força excessiva. E tem receio de deixar o animal galopar de vez em quando. O cavalo e o cavaleiro têm de trabalhar em conjunto. Isto significa pensarmos nas nossas ações com antecedência; ponderar o máximo possível numa situação antes de tomar uma decisão. Mas, quando tivermos decidido o que fazer, largamos as rédeas e entramos em ação com ousadia e espírito de aventura. Em vez de sermos escravos desta energia, canalizamo-la. E esta a essência da racionalidade.

Como exemplo deste ideal em ação, tente manter um equilíbrio perfeito entre ceticismo (cavaleiro) e curiosidade (cavalo). Deste modo, será cético em relação aos seus próprios entusiasmos e aos dos outros. Não aceitará como literais as explicações das pessoas e a sua aplicação das «provas». Olhará para os resultados das suas ações, não para o que dizem acerca das suas motivações. Mas, se levar este processo demasiado longe, a sua mente fechar-se-á face às ideias ousadas, às especulações empolgantes, à própria curiosidade. Pretenderá manter a flexibilidade de espírito que tinha em criança, interessada por tudo, mantendo ao mesmo tempo a necessidade rígida de verificar e analisar por si todas as ideias e crenças. As duas perspetivas podem coexistir. Trata-se de um equilíbrio que todos os génios possuem.

Venere o racional. E importante não ver o caminho rumo à racionalidade como algo doloroso e ascético. De facto, este traz capacidades que são imensamente satisfatórias e agradáveis, mais profundas do que muitos prazeres que o mundo tende a oferecer-nos. Já deve ter sentido isto na sua própria vida ao concentrar-se profundamente num projeto, com o tempo a parecer fluir e experimentando explosões ocasionais de entusiasmo à medida que fazia descobertas ou que evoluía no seu trabalho. Também existem outros prazeres. Ser capaz de domar o Eu Emocional conduz a uma tranquilidade e clareza generalizadas. Neste estado de espírito, será menos consumido por conflitos e considerações mesquinhos. As suas ações serão mais eficazes, o que também leva a menos agitação. Conhecerá a imensa satisfação de se dominar de uma forma profunda. Terá mais espaço mental para ser criativo. Sentirá que controla mais as coisas.

Ao saber tudo isto, tornar-se-á mais fácil motivar-se para desenvolver esta capacidade.

 >>Confia nos teus sentimentos!>> — Mas os sentimentos não são definitivos ou originais; por detrás dos sentimentos existem juízos de valor e avaliações que herdamos sob a forma de inclinações, aversões. A inspiração nascida de um sentimento é neta de um juízo de valor — e muitas vezes de um juízo de valor errado! —, nunca um filho seu! Confiarmos nos nossos sentimentos significa sermos mais obedientes ao nosso avô e avó e aos seus próprios avós do que aos deuses que existem em nós: a nossa razão e a nossa experiência.

—Friedrich Nietzsche

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