# 8 Lei da Autossabotagem- 8/18 Robert Greene

 


# 8 Lei da Autossabotagem – Mude as suas circunstâncias mudando a sua atitude

 

Cada um de nós tem uma forma particular de olhar para o mundo, de interpretar os acontecimentos e as ações das pessoas que nos rodeiam. É a nossa atitude que determina muito do que nos acontece na vida. Se a atitude for essencialmente temerosa, veremos o lado negativo de todas as circunstâncias. Impedir-nos-emos de correr riscos. Culpamos os outros pelos erros e não aprendemos com eles. Se nos sentirmos hostis e desconfiados, faremos os outros sentir essas emoções na nossa presença. Sabotaremos a nossa carreira e relacionamentos criando inconscientemente as circunstâncias que mais receamos. No entanto, a atitude humana é maleável. Ao tornar a nossa atitude mais positiva, aberta e tolerante aos outros, podemos ativar uma dinâmica diferente — podemos aprender com a adversidade, criar oportunidades a partir do nada e atrair as pessoas para nós. Devemos de explorar os limites da força de vontade e ir tão longe quanto esta nos conseguir levar.

 

Caso da vida de Anton Tchekhov

 

No momento em que a mãe o deixou sozinho em Taganrog, o jovem Anton Tchekhov sentiu-se encurralado, como se tivesse sido posto na prisão. Seria obrigado a trabalhar ao máximo quando não estava a estudar. Estava preso num charco estagnado, desesperadamente entediante, sem qualquer ponto de apoio, vivendo no canto de uma pequena divisão. Pensamentos amargos sobre o seu destino e sobre a infância que nunca tivera consumiam-no nos seus escassos momentos de lazer. Mas, à medida que as semanas se passavam, reparou em algo muito estranho — gostava do seu trabalho de precetor, mesmo que a remuneração fosse reduzida e que o obrigasse a andar constantemente de um lado ao outro da cidade. O pai insistira em dizer-lhe que era preguiçoso, e ele acreditara, mas agora não tinha assim tanta certeza. Cada dia representava um desafio no sentido de arranjar mais trabalho e de pôr comida na mesa. Estava a conseguir fazê-lo. Não era um verme miserável que precisasse de ser espancado. Além disso, o trabalho era uma excelente forma de se exceder e de se concentrar nos problemas dos alunos.

Os livros que lia levavam-no para longe de Taganrog e enchiam-no de pensamentos interessantes que lhe ficavam na cabeça os dias inteiros. A própria cidade de Taganrog não era assim tão má. Cada loja, cada casa continha as personagens mais invulgares, fornecendo-lhe material interminável para histórias. E aquele cantinho do quarto era o seu reino. Muito longe de se sentir encurralado, sentia-se agora livre. O que mudara afinal? Certamente não as suas circunstâncias ou Taganrog ou o recanto da mesma divisão. O que mudara fora a sua atitude, que se abrira a novas experiências e possibilidades. Quando o sentiu, quis ir mais longe. O maior impedimento que se opunha à sensação de liberdade era o pai. Tentasse o que tentasse, parecia não conseguir livrar-se de sentimentos profundos de amargura. Era como se ainda conseguisse sentir as sovas e ouvir as suas intermináveis críticas mordazes.

Como último recurso, tentou analisar o pai como se fosse a personagem de uma história. Isso levou-o a pensar no avô paterno e em todas as gerações de Tchekhov. Ao considerar a natureza imprevisível do pai e a sua imaginação desenfreada, conseguiu compreender que ele se deveria ter sentido encurralado pelas circunstâncias e por que motivo começara a beber e a tiranizar a família. Era impotente, mais vítima do que opressor. Esta leitura do pai definiu as bases para o súbito acesso de amor incondicional que um dia sentiu pelos progenitores. Iluminado por esta nova emoção, sentiu-se finalmente livre de ressentimentos e da raiva. As emoções negativas do passado haviam-se finalmente afastado dele. A sua mente podia agora abrir-se completamente. A sensação era tão empolgante que tinha de a partilhar com os irmãos e de os libertar também.

O que levou Tchekhov a este ponto foi a crise que enfrentou quando ficou sozinho em tão tenra idade. Experimentou outra crise semelhante cerca de trinta anos mais tarde, quando se sentiu deprimido devido à mesquinhez dos outros escritores. A sua solução foi reproduzir o que acontecera em Taganrog, mas ao contrário — seria ele a abandonar os outros e a obrigar-se a estar sozinho e vulnerável. Desta forma poderia voltar a sentir a liberdade e a empatia que experimentara em Taganrog. A condenação precoce a uma morte por tuberculose constituiu a crise suprema. Libertar-se-ia do medo da morte e dos sentimentos amargos que decorriam do facto de a sua vida ser tão breve continuando a vivê-la ao máximo. Esta liberdade final e derradeira deu-lhe um brilho que quase toda a gente que se cruzou com ele neste período conseguia captar.

Compreender: A história de Anton Tchekhov é na verdade um paradigma para aquilo que todos enfrentamos na vida. Transportamos connosco traumas e mágoas desde a primeira infância. Na nossa vida social, à medida que envelhecemos, acumulamos deceções e ofensas. Somos com frequência atormentados por uma impressão de insignificância, de não merecermos realmente as coisas boas da vida. Todos temos momentos de grande dúvida acerca de nós mesmos. Estas emoções podem levar a pensamentos obsessivos que nos dominam psicologicamente. Fazem-nos limitar aquilo que experimentamos como forma de lidar com a ansiedade e com as deceções. Fazem-nos recorrer ao álcool e a qualquer tipo de hábito para entorpecer a dor. Sem que nos apercebamos disso, assumimos uma atitude negativa e temerosa perante a vida. Esta torna-se a nossa prisão autoimposta. Mas não tem de ser assim. A liberdade que Tchekhov sentiu resultou de uma escolha, de uma forma diferente de olhar para o mundo, de uma mudança de atitude. Todos podemos percorrer este caminho.

A liberdade decorre essencialmente de adotarmos um espírito generoso — para com os outros e para com nós próprios. Ao aceitar as pessoas, ao compreender e se possível até amá-las pela sua natureza humana, podemos libertar a mente de emoções obsessivas e mesquinhas. Podemos distanciar-nos e impedir-nos de levar tudo como um ataque pessoal. O espaço mental fica livre para objetivos mais elevados. Quando nos sentimos generosos em relação aos outros, estes sentem-se atraídos por nós e desejam equiparar-se-nos em espírito. Quando nos sentimos generosos para connosco próprios, deixamos de sentir a necessidade de nos inclinarmos, de fazermos vénias e de entrar no jogo da falsa humildade, lamentando-nos secretamente pela nossa falta de sucesso. Através do trabalho e alcançando sozinhos aquilo de que precisamos, sem depender dos outros, podemos erguer-nos e realizar todo o nosso potencial como seres humanos. Podemos parar de reproduzir as emoções negativas que nos rodeiam. Depois de sentirmos o poder empolgante desta nova atitude, iremos desejar levá-la o mais longe possível.

Anos mais tarde, numa carta a um amigo, Tchekhov tentou sintetizar esta experiência em Taganrog, referindo-se a si próprio na terceira pessoa: «Escrever sobre o modo como este jovem espreme o escravo para fora de si, gota a gota, e como, uma bela manhã, acorda para descobrir que o sangue que lhe corre nas veias já não é o sangue de um escravo, mas de um verdadeiro ser humano.»

 

A maior descoberta da minha geração foi o facto de os seres humanos poderem alterar as suas vidas pelo facto de mudarem os seus estados de espírito.

—William James

 

Explicações para a natureza humana

Os seres humanos gostam de pensar que têm um conhecimento objetivo do mundo. Tomamos por garantido que aquilo que captamos diariamente é a realidade sendo esta realidade mais ou menos a mesma para toda a gente. Mas trata-se

de uma ilusão. Não há duas pessoas que vejam ou captem o mundo da mesma maneira. O que percecionamos é a nossa versão pessoal da realidade, uma criação nossa. Compreendê-lo será um passo determinante para compreendermos a natureza humana.

Imagine o seguinte cenário: Um jovem norte-americano tem de passar um ano a estudar em Paris. É um pouco tímido e cauteloso, com tendência para sentimentos depressivos e para uma baixa autoestima, mas está genuinamente entusiasmado com esta oportunidade. Já em Paris, tem dificuldade em falar a língua, e os erros que comete e a atitude ligeiramente trocista dos parisienses dificultam-lhe ainda mais a aprendizagem. Não acha as pessoas nada simpáticas. O tempo está húmido e sombrio. A comida é demasiado pesada. Até a catedral de Notre Dame lhe parece dececionante, com a área em volta apinhada de turistas. Embora viva momentos agradáveis, de modo geral sente-se marginalizado e infeliz. Conclui que Paris está sobrevalorizada e que é um local bastante desagradável.

Agora imagine o mesmo cenário, mas com uma jovem que seja mais extrovertida e que tenha um espírito aventureiro. Não se sente incomodada pelo facto de cometer erros de francês nem com as observações por vezes sarcásticas de um ou outro parisiense. Considera a aprendizagem da língua um desafio agradável. As outras pessoas acham que tem um espírito cativante. Faz amigos com mais facilidade, e com estes contactos adicionais o seu conhecimento do francês melhora. Acha o clima romântico e bastante adequado ao local. Para ela, a cidade representa um sem-fim de aventuras e acha-a encantadora.

Neste caso, duas pessoas veem e avaliam a mesma cidade de formas contrárias. Por uma questão de realidade objetiva, o tempo em Paris não tem características positivas ou negativas. As nuvens limitam-se a passar. A simpatia ou antipatia dos parisienses é um juízo de valor subjetivo - depende das pessoas que conhece e das suas semelhanças com os seus conterrâneos. A catedral de Notre Dame é apenas um aglomerado de pedras esculpidas. O mundo simplesmente existe como é - as coisas e os acontecimentos não são bons ou maus, certos ou errados, feios ou belos.

São as nossas perspetivas particulares que adicionam ou retiram cor às coisas e às pessoas. Concentramo-nos ou na bela arquitetura gótica ou nos turistas incómodos. Com a nossa atitude, podemos fazer que as pessoas nos respondam de forma Simpática ou antipática, dependendo da nossa ansiedade e abertura. Moldamos grande parte da realidade que captamos, sendo esta ditada pelos nossos estados de espírito e emoções.

Compreender: Cada um de nós vê o mundo através de uma lente especial que dá cor e forma às nossas perceções. Vamos chamar a esta lente atitude. O grande psicólogo suíço Carl Jung definiu-o do seguinte modo: «A atitude é a disponibilidade de a psique agir ou reagir de determinada maneira. Ter uma atitude significa estar pronto para fazer algo definitivo, mesmo que este algo seja inconsciente; porque ter uma atitude é sinónimo de uma orientação a priori para algo definitivo.»

O que isto significa é o seguinte: ao longo do dia, a mente responde a milhares de estímulos do meio envolvente. Dependendo da forma como o nosso cérebro está preparado e da nossa constituição psicológica, certos estímulos — as nuvens no céu, multidões de pessoas — levam a resultados e respostas mais fortes. Quanto mais forte for a resposta, mais atenção prestamos. Algumas pessoas são mais sensíveis a estímulos que outras, fundamentalmente, ignorariam. Se formos inconscientemente, por qualquer motivo, propensos a sentimentos de tristeza, é mais provável que captemos sinais que promovam este sentimento. Se tivermos uma natureza desconfiada, somos mais sensíveis a expressões faciais que apresentem qualquer tipo de possível negatividade e exageramos aquilo que captamos. É esta a «disponibilidade da psique [...] para reagir de determinada maneira».

Nunca temos consciência deste processo. Sofremos apenas os efeitos secundários destas sensibilidades e respostas do cérebro; estas formam um estado de espírito geral ou um antecedente emocional a que podemos chamar depressão, hostilidade, insegurança, entusiasmo ou espírito de aventura. Experimentamos muitos estados de espírito diferentes, mas em geral podemos dizer que temos uma forma particular de ver e interpretar o mundo, dominados por uma emoção ou por uma combinação de várias, como hostilidade e ressentimento. E esta a nossa atitude. As pessoas com uma atitude bastante depressiva podem sentir momentos de alegria, mas tendem mais a experimentar tristeza; antecipam esse sentimento nas suas vivências diárias.

Jung ilustra esta ideia da seguinte forma: Imagine que, durante uma caminhada, algumas pessoas deparam com um riacho que deverá ser atravessado para se poder continuar a viagem. Uma delas, sem pensar muito nisso, simplesmente salta por cima dele, pousando o pé numa ou noutra pedra, sem se preocupar de todo com a possibilidade de uma queda. Gosta do puro prazer físico de saltar e não se preocupa em cair. Outra pessoa está igualmente entusiasmada, mas isso tem menos a ver com a alegria física do que com o desafio mental que o riacho representa. Irá calcular a forma mais eficaz de o atravessar e obterá satisfação desse exercício mental. Outro caminhante, de natureza cautelosa, demorará mais tempo a pensar em tudo.

Pense mais uma vez no cenário do jovem em Paris. Ao sentir-se tenso e inseguro, reage de forma defensiva a erros que cometeu ao aprender a língua. Isto dificulta-lhe ainda mais a aprendizagem, o que, por sua vez, impede que conheça outras pessoas, o que o faz sentir-se mais isolado. À medida que a sua energia desce para um nível depressivo, este ciclo perpetua-se. As suas inseguranças podem afugentar as pessoas. A forma como pensamos nos outros tende a ter efeito semelhante sobre elas. Se nos sentirmos hostis e críticas, tendemos a inspirar emoções críticas no outro. Se nos sentirmos na defensiva, faremos os outros sentirem-se na defensiva. A atitude do jovem tende a fechá-lo nesta dinâmica negativa.

Por outro lado, a atitude da rapariga desencadeia uma dinâmica positiva consegue aprender a língua e conhecer pessoas, o que lhe eleva o estado de espírito e reforça os níveis de energia, tornando-a mais atrativa e interessante para os outros, e por aí fora.

Embora as atitudes surjam em muitas variantes e combinações, podemos de modo geral categorizá-las como negativas e estreitas ou positivas e expansivas. Os indivíduos que apresentam uma atitude negativa tendem a agir a partir de uma postura básica de medo perante a vida. Desejam inconscientemente limitar o que veem e sentem para ganharem maior controlo. As pessoas que têm uma atitude positiva têm uma abordagem muito menos temerosa. Abrem-se a experiências, ideias e emoções novas. Se a atitude for como uma lente que temos para o mundo, a atitude negativa reduz a abertura dessa lente, e a positiva expande-a o mais possível. Podemos oscilar entre estes dois polos, mas, de modo geral, tendemos a ver o mundo com uma mente mais fechada ou aberta.

A sua missão como estudioso da natureza humana assume duas vertentes: em primeiro lugar, tem de tomar consciência da sua própria atitude e de como determina as duas perceções. É difícil observar este aspeto na vida do dia a dia porque é tudo muito próximo, mas há formas de captar vislumbres do processo em curso. Pode vê-lo na forma como julga as pessoas quando já não se encontram na sua presença. Concentra-se rapidamente nas suas qualidades e opiniões negativas ou é mais generoso e condescendente quando se trata dos seus defeitos? Verá sinais decisivos da sua atitude na forma como encara a adversidade ou a resistência. Esquece-se rapidamente de quaisquer erros da sua parte ou desvaloriza-os? Culpa instintivamente os outros por coisas negativas que lhe aconteçam? Receia qualquer tipo de mudança? Tende a agarrar-se a rotinas e a evitar tudo o que seja inesperado ou invulgar? Insurge-se quando alguém desafia as suas ideias e presunções?

Também irá captar sinais deste aspeto no modo como as pessoas lhe respondem, especialmente de forma não verbal. Sente-as nervosas na sua presença? Tende a atrair pessoas que desempenham o papel de mãe e de pai na sua vida?

Depois de estudar bem os traços gerais da sua própria atitude, da sua inclinação negativa ou positiva, terá muito mais capacidade de a alterar, de a desviar mais para o sentido positivo.

Em segundo lugar, não deve estar apenas consciente da sua atitude, mas também acreditar na sua capacidade suprema de alterar as suas circunstâncias. Não é um peão num jogo controlado por outros; é um jogador ativo que pode deslocar peças a seu bel-prazer e até reescrever as regras. Encare a sua saúde como algo extremamente dependente da sua atitude. Ao sentir-se empolgado e aberto à aventura, pode usar reservas de energia que não sabia possuir. A mente e o corpo são um só, e os seus pensamentos afetam as suas respostas físicas. As pessoas podem recuperar muito mais depressa de uma doença por simples desejo e força de vontade. Não nascemos com uma inteligência fixa e com limites inerentes. Encare o seu cérebro como um órgão milagroso concebido para a aprendizagem e o aperfeiçoamento constantes, até uma idade bastante avançada. As ligações neuronais ricas do seu cérebro, as suas capacidades criativas, são algo que desenvolve ao ponto de se abrir a novas experiências e ideias. Perspetive os problemas e os fracassos como formas de aprender e de endurecer. Pode ultrapassar todos os obstáculos com persistência. Encare a forma como as pessoas o tratam como algo que decorre de modo geral da sua própria atitude, algo que não consegue controlar.

Não tenha medo de exagerar o papel da força de vontade. E um exagero com um objetivo. Leva a uma dinâmica positiva autorrealizada, e é apenas isso que importa. Veja esta modelação da sua atitude como a sua criação mais importante na vida e nunca a deixe ao acaso.

A atitude redutora (negativa)

A vida é intrinsecamente caótica e imprevisível. No entanto, o animal humano não reage bem à incerteza. As pessoas que se sentem particularmente fracas e vulneráveis tendem a adotar uma atitude face à vida que limita aquilo que experienciam para poderem reduzir a possibilidade de acontecimentos inesperados. Esta atitude negativa e redutora tem muitas vezes origem na primeira infância. Algumas crianças recebem pouco carinho ou apoio ao enfrentarem um mundo assustador. Desenvolvem várias estratégias psicológicas para limitar o que têm de ver e de experimentar. Constroem defesas elaboradas para deixar de lado outros pontos de vista. Tornam-se cada vez mais autocentradas. Na maior parte das situações, acabam por esperar que aconteçam coisas más, e os seus objetivos na vida giram em torno de antecipar e neutralizar más experiências para as conseguirem controlar melhor.

À medida que envelhecem, esta atitude torna-se mais enraizada e mais tornando qualquer tipo de crescimento psicológico praticamente impossível.

Estas atitudes têm uma dinâmica de autossabotagem. Indivíduos fazem os outros sentir uma emoção negativa que domina a sua atitude, a confirmar as suas crenças sobre as pessoas. Tentam não ver o papel que as próprias ações desempenham, que muitas vezes são aquilo que instiga a resposta negativa. Veem apenas outros indivíduos a persegui-las ou o azar a oprimi-las

Ao afastarem as pessoas, tornam ainda mais difícil ter algum sucesso na vida, e, no seu isolamento, a sua atitude piora. Ficam presas num círculo vicioso.

As cinco formas que se seguem são as mais comuns da atitude redutora.

As emoções negativas têm uma força compulsiva — é mais provável uma pessoa zangada sentir desconfiança, inseguranças profundas, revolta, etc. E por isso encontramos com frequência combinações destas várias atitudes negativas, com cada uma delas a alimentar e a reforçar as outras. O seu objetivo é reconhecer os vários sinais dessas atitudes que existem em si de formas latentes e enfraquecidas e erradicá-las; ver de que forma operam numa versão mais forte, noutras pessoas, compreendendo melhor a sua perspetiva sobre a vida; e aprender a lidar com os indivíduos que assumem essas atitudes.

A atitude hostil. Algumas crianças apresentam uma atitude agressiva em muito tenra idade. Interpretam o desmame e a separação natural dos pais como ações adversas. Outras crianças têm de lidar com um progenitor que gosta de as castigar e de lhes infligir sofrimento. Em ambos os casos, a criança olha para um mundo que parece carregado de hostilidade e a sua resposta é procurar controlá-lo tornando-se a fonte dessa mesma hostilidade. Pelo menos assim esta deixa de ser tão arbitrária e súbita. A medida que crescem, procuram estimular a raiva e a frustração nos outros, o que justifica a sua atitude original — «Vês, as pessoas estão contra mim, não gostam de mim, e sem que haja qualquer motivo para isso.»

Num relacionamento, um marido com uma atitude hostil acusa a mulher de não o amar realmente. Se ela protestar e ficar na defensiva, ele irá encarar o facto como um sinal de que a mulher não consegue disfarçar a verdade. Se ela se sentir intimidada e ficar calada, ele vê-lo-á como sinal de que sempre teve razão. Sentindo-se baralhada, a esposa acabará por detetar alguma hostilidade da sua parte, confirmando a opinião do marido. As pessoas com esta atitude têm muitos truques subtis na manga para provocarem a agressão que secretamente querem sentir dirigida contra si — retirarem a sua cooperação num projeto precisamente no momento menos conveniente, chegarem sempre atrasadas, fazerem um trabalho, deixarem deliberadamente uma má impressão inicial. Mas nunca se veem como alguém que desempenha qualquer tipo de papel na instigação dessa resposta.

A hostilidade permeia tudo o que fazem: a forma como argumentam e provocam (têm sempre razão); o tom desagradável das suas piadas; a avidez com que pedem atenção; o prazer que têm em criticar outras pessoas e vê-las falhar. Pode reconhecê-las pela forma como se enfurecem rapidamente nestas situações. A sua vida, tal como a descrevem, está cheia de batalhas, de traições, de perseguições, mas aparentemente isso não tem origem nelas. Essencialmente, projetam os seus sentimentos hostis nas outras pessoas e estão preparadas para as ler em quase todas as ações aparentemente inocentes. O seu objetivo na vida é sentirem-se perseguidas e desejarem qualquer forma de vingança. Estes tipos de modo geral vivem problemas profissionais, visto que a sua raiva e hostilidade normalmente fervem em pouca água. Isso dá-lhes outro motivo para se queixarem e uma base a partir da qual podem culpar o mundo por estar contra eles.

Se detetar sinais desta atitude na sua pessoa, essa autoconsciência é um passo fundamental para se tornar capaz de se livrar dela. Também pode experimentar algo simples: aborde as pessoas que encontra pela primeira vez ou que conhece apenas superficialmente com vários pensamentos positivos — «Gosto delas», «Parecem inteligentes», etc. Nada disto deve ser verbalizado, mas dê o seu melhor para sentir essas emoções. Se elas responderem de forma hostil ou defensiva, talvez o mundo esteja mesmo contra si. Muito provavelmente não verá nada que possa ser remotamente interpretado como negativo. De facto, verá precisamente o contrário. Logo, como é evidente, a fonte de qualquer resposta hostil é o próprio leitor.

Ao lidar com os casos extremos que se enquadram neste tipo, procure o mais possível não responder com o antagonismo que esperam. Mantenha a neutralidade. Isto irá confundi-los e interromper-lhes temporariamente o jogo. Alimentam-se da sua hostilidade, por isso evite abastecê-los.

A atitude ansiosa. Estes tipos antecipam todo o tipo de obstáculos e dificuldades em qualquer situação com que lidem. Com as pessoas, muitas vezes esperam algum tipo de crítica ou mesmo a traição. Tudo isto estimula quantidades Invulgares de ansiedade perante o facto. O que realmente receiam é perder o Controlo da situação. A sua solução é limitar o que pode eventualmente acontecer, reduzir o mundo com que têm de lidar. Isto significa limitar onde vão e o que irão experimentar. Num relacionamento, dominarão subtilmente os rituais e hábitos domésticos; parecerão frágeis e exigirão uma atenção adicional. Isso irá dissuadir os outros de as criticarem. Tudo deverá decorrer dentro das suas condições. No trabalho, serão perfecionistas fervorosos e microgestores, acabando por se sabotar a si mesmos tentando controlar demasiadas coisas. Quando saem da sua zona de conforto — a casa ou o relacionamento que dominam —, tornam-se invulgarmente inquietos.

Por vezes conseguem disfarçar a sua necessidade de controlo de uma forma de amor e de preocupação. Quando Franklin Roosevelt ficou com poliomielite, em 1921, aos trinta e nove anos de idade, a mãe, Sara, fez tudo o que para limitar a sua vida e para o manter numa divisão da casa. Teria de desistir da sua carreira política e de se entregar aos seus cuidados. Mas Eleanor, mulher de Franklin conhecia-o melhor. O que ele desejava e do que precisava era de regressar lentamente a algo que se assemelhasse à sua vida anterior. Tornou-se uma batalha entre a mãe e a nora, que Eleanor acabou por ganhar. A mãe conseguiu disfarçar atitude ansiosa e a necessidade de dominar o filho através do seu amor aparente transformando-o num inválido indefeso.

Se identificar estas tendências na sua pessoa, o melhor antídoto será pôr as suas energias a trabalhar. Concentrar a sua atenção no exterior, num projeto de algum tipo, terá um efeito calmante. Desde que domine a sua tendência para o perfecionismo, pode canalizar essa necessidade de controlo para algo produtivo. Com as pessoas, experimente abrir-se lentamente aos seus hábitos e ao seu ritmo de realização das coisas, em vez do contrário. Isto pode mostrar-lhe que não tem nada a recear ao perder o controlo. Coloque-se deliberadamente nas circunstâncias que mais receia, descobrindo que os seus medos são de modo geral exagerados. Estará lentamente a introduzir um pouco de caos na sua vida excessivamente ordenada.

Ao lidar com quem tem esta atitude, tente não se sentir contagiado pela sua ansiedade e, em vez disso, procure providenciar a influência tranquilizadora de que esse interlocutor tanto precisou nos seus primeiros anos de vida. Se irradiar calma, os seus modos terão mais efeito do que as suas palavras.

A atitude de evitamento. As pessoas com esta atitude veem o mundo através das suas inseguranças, geralmente relativas a dúvidas sobre a própria competência e inteligência. Talvez em criança as tenham feito sentir-se culpadas e desconfortáveis com qualquer esforço no sentido de se destacarem por si e dos irmãos; ou as tenham feito sentir-se mal sobre algum tipo de erro ou possível mau comportamento. Aquilo que passaram a recear mais foi o juízo de valor dos pais. A medida que estas pessoas envelhecem, o seu principal objetivo na vida é evitar qualquer tipo de responsabilidade ou desafio em que a sua autoestima possa estar em causa e pela qual possam ser julgados. Se não se esforçarem muito na vida, não poderá0 falhar ou ser criticados.

Para pôr em prática esta estratégia, têm de estar sempre a escapar aos itinerários, de forma consciente ou inconsciente. Irão encontrar o motivo perfeito para se despedirem antes do prazo e para mudarem de carreira ou para acabarem com relacionamento. No meio de um projeto de grande responsabilidade, ficam subitamente doentes e têm de desistir, São propensas a todo o tipo de doenças psicossomáticas. Ou então tornam-se alcoólicas, com algum tipo de dependência, sempre a descarrilar na altura certa, mas atribuindo as culpas à «doença» de que sofrem e à educação inadequada que receberam e que lhes causou essa dependência. Não fosse o álcool, podiam ter sido escritores ou empresários, é o que dizem.

Outras estratégias incluem desperdiçar tempo ou chegar demasiado tarde a um compromisso, sempre com uma desculpa pronta para o ocorrido. Não podem ser responsabilizadas pelos seus resultados medíocres.

Estes indivíduos têm dificuldade em comprometer-se com alguma coisa, por um bom motivo. Se permanecessem num emprego ou num relacionamento, os seus defeitos poderiam tornar-se demasiado visíveis para os outros. E preferível fugir no momento certo e manter a ilusão — para si e para os outros — da sua possível grandeza, para a eventualidade de... embora sejam de modo geral motivados pelo grande medo de falhar e pelos juízos de valor que se seguem, também têm secretamente medo do sucesso — porque com o sucesso vêm as responsabilidades e a necessidade de estar à altura das mesmas. O sucesso também pode desencadear os seus velhos medos de se destacarem e notabilizarem.

E possível reconhecer facilmente estas pessoas pelas suas carreiras acidentadas e pelos seus relacionamentos pessoais de curto prazo. Podem tentar disfarçar a fonte dos seus problemas parecendo cheios de virtudes — desprezam o sucesso e as pessoas que têm de provar o seu valor. Apresentam-se muitas vezes como idealistas nobres, propagando ideias intemporais, mas que irão conferir a desejada aura de santidade ao projeto. Ter de representar ideais expõe-nos à crítica ou ao fracasso, por isso preferem pessoas demasiado condescendentes ou irrealistas para a época em que vivem. Não se deixem enganar pela fachada de «eu sou mais nobre do que tu» que apresentam. Observem as suas ações, a falta de realizações, os grandes projetos que nunca começam, sempre acompanhados de uma boa desculpa.

Se detetar sinais desta atitude na sua pessoa, uma boa estratégia será aceitar um projeto, mesmo que muito pequeno, levando-o até ao fim e abraçando a perspetiva de fracasso. Se falhar, terá amortecido o golpe porque o antecipou, e inevitavelmente este não irá magoar tanto como imaginou. A sua autoestima irá melhorar por finalmente ter experimentado e concluído algo. Depois de ter reduzido este medo, o progresso será fácil. Irá desejar tentar de novo. E, se for bem-sucedido, tanto melhor. Em qualquer dos casos, sairá a ganhar.

Quando encontrar outras pessoas com esta atitude, tenha muito cuidado se pensar constituir parcerias com elas. São especialistas em fugir na pior altura, em pô-lo a realizar o trabalho mais difícil e a descartar-se da culpa, se este falhar. São excelentes no jogo do evitamento.

A atitude depressiva. Na infância, estes indivíduos não se sentiam ou respeitados pelos pais. Para crianças indefesas, é quase impossível imaginar os pais possam estar enganados ou que a sua educação tenha falhas. Mesmo não sejam amadas, continuam a estar dependentes deles. E por isso as suas defesas consistem com frequência em interiorizar a sua avaliação negativa e em imaginar que de facto não merecem ser amadas, que existe de facto algo errado nelas. Desta forma, podem manter a ilusão de que os pais são fortes e competentes. Tudo isto acontece de forma quase inconsciente, mas a sensação de serem indignas atormentará estas pessoas para o resto das suas vidas. No fundo, sentem-se envergonhadas de quem são e não sabem bem porque se sentem assim.

Em adultos, anteciparão abandono, perda e tristeza nas suas experiências e verão sinais potencialmente depressivos no mundo que as rodeia. São secretamente atraídas pelo que é sombrio no mundo, pelo lado desagradável da vida. Se conseguirem processar parte da depressão que sentem desta forma, pelo menos esta estará sob o seu controlo. Consolam-se com o pensamento de que o mundo é um lugar desolador. Uma estratégia que utilizam ao longo das suas vidas é retirarem-se temporariamente da existência e das pessoas. Isto irá alimentar a sua depressão e também torná-la algo que possam gerir até certo ponto, em oposição às experiências traumáticas que lhes foram impostas. Este tipo de indivíduo tem muitas vezes uma necessidade secreta de magoar os outros, incitando comportamentos como a traição ou a crítica, que lhes alimentam a depressão. Também se autossabotam se conhecem algum tipo de sucesso, sabendo bem lá no fundo que não o merecem. Desenvolvem bloqueios ao trabalho ou aceitam críticas de forma a mostrar que não deveriam continuar com as suas carreiras. Os tipos depressivos podem muitas vezes atrair as pessoas, em virtude da sua natureza sensível; estimulam nos outros o desejo de querer ajudar. Este vaivém origina confusão, mas, quando alguém se sente fascinado por elas, é difícil libertar-se sem se sentir culpado. Têm um dom para fazer as outras pessoas sentirem-se deprimidas na sua presença. Isso dá-lhes ainda mais motivos para continuar.

A maior parte das pessoas tem tendências e momentos depressivos. A melhor maneira de lidar com eles é estar consciente da sua necessidade são a forma de o corpo e da mente nos obrigarem a abrandar, a reduzir as energias e a afastarmo-nos. Os ciclos depressivos podem ter resultados positivos. A solução é perceber a sua utilidade e qualidade temporária. A depressão que sente hoje não estará consigo dentro de uma semana e é possível pôr-lhe fim. Se conseguir, arranje maneiras de elevar os seus níveis de energia, o que o irá ajudar fisicamente a levantar o moral. A melhor maneira de lidar com uma depressão recorrente é canalizar as suas energias para o trabalho, especialmente para as artes. Estando habituado a afastar-se e a estar sozinho, use esse tempo para aceder ao seu inconsciente. Exteriorize a sua sensibilidade única e os seus sentimentos mais obscuros através do trabalho.

Nunca tente animar pessoas depressivas apregoando as maravilhas que a vida tem. Em vez disso, é preferível alinhar com a sua opinião sombria do mundo, ao mesmo tempo que as atrai subtilmente para experiências positivas que possam elevar o seu estado de espírito e energia, sem apelos diretos.

A atitude de ressentimento. Em criança, estes tipos nunca sentem ter amor e afeto suficientes por parte dos pais — estão sempre ávidos de mais atenção. Transportam esta impressão de insatisfação e desapontamento ao longo das suas vidas. Nunca consideram estar a receber o reconhecimento merecido. São especialistas em perscrutar os rostos dos outros em busca de sinais de possível desrespeito ou desprezo. Tudo o que acontece parece estar relacionado com a pessoa; se alguém tem mais do que eles, é sinal de injustiça, uma afronta pessoal quando sentem esta falta de respeito e de reconhecimento, não explodem de raiva. Geralmente são prudentes e gostam de controlar as suas emoções. Em vez disso, a dor incuba dentro deles, com o sentido de injustiça a crescer cada vez mais forte à medida que refletem sobre o assunto. Não esquecem com facilidade. A dada altura, vingam-se num ato astuciosamente maquinado de sabotagem ou de agressão passiva.

Como têm a sensação permanente de estarem a ser injustiçados, tendem a projetar este aspeto no mundo, vendo opressores por toda a parte. Desta forma, muitas vezes tornam-se líderes dos que se sentem descontentes e oprimidos. No caso de alcançarem o poder, tornam-se bastante perversos e vingativos, acabando por descarregar os seus ressentimentos em várias vítimas. De modo geral, apresentam um ar de arrogância; estão acima dos outros, mesmo que ninguém o reconheça andam com a cabeça por vezes excessivamente levantada; exibem com frequência um sorriso ligeiramente afetado ou um olhar de desprezo. A medida que envelhecem, tendem a embrenhar-se em discussões mesquinhas, incapazes de conter por completo os seus ressentimentos, acumulados ao longo do tempo. A sua atitude amarga afasta muitas pessoas, e por isso acabam por conviver apenas com indivíduos que tenham a mesma atitude, numa forma particular de comunidade.

Se detetar uma tendência para o ressentimento na sua pessoa, o melhor antídoto reside em aprender a libertar-se das mágoas e das deceções da vida. É preferível explodir na raiva do momento, ainda que irracional, do que ficar a matutar em desconsiderações que provavelmente imaginou ou exagerou. As pessoas normalmente são indiferentes ao seu destino, não tão antagónicas como imagina. Muito poucas das suas ações se dirigem realmente a si. Pare de encarar tudo de forma pessoal. O respeito é algo que deve ser merecido através de conquistas, não algo que lhe é concedido simplesmente pelo facto de ser humano. Quebre o ciclo do ressentimento tornando-se mais generoso para com as pessoas e para com a natureza humana.

Ao lidar com indivíduos deste tipo, deverá ter um extremo cuidado. Embora possam sorrir e parecer agradáveis, estão na verdade a estudá-lo em busca de um possível insulto. Pode reconhecê-los pela sua história de batalhas anteriores e súbitas ruturas com as pessoas, bem como pela facilidade com que julgam os outros. Poderá tentar recuperar lentamente a confiança e reduzir as suas suspeitas, mas tenha consciência de que, quanto mais tempo passar com eles, mais irá alimentar a sua necessidade de terem algo com que se ofender, e a sua resposta pode ser bastante perversa. E preferível evitar este tipo, se possível.

 

A atitude expansiva (positiva)

Há cerca de cinquenta anos, muitos especialistas em medicina começaram a pensar na saúde de uma forma nova e revolucionária. Em vez de se concentrarem em problemas específicos, como a digestão, achaques de pele ou o estado do coração, decidiram que era muito melhor olhar para o corpo humano como um todo. Se as pessoas melhorassem a sua dieta alimentar e os seus hábitos de exercício físico, isso teria um efeito benéfico em todos os seus órgãos, porque o corpo é um todo interligado.

Agora parece-nos óbvio, mas esta forma de pensar em termos orgânicos também tem grande utilidade na nossa saúde psicológica. Agora, mais do que nunca, as pessoas concentram-se em problemas específicos — na sua depressão, na sua falta de motivação, nas suas inaptidões sociais, no seu tédio. Mas aquilo que rege todos estes problemas aparentemente separados é a nossa atitude, o modo como encaramos o mundo diariamente. E a forma como vemos e interpretamos os acontecimentos. Melhore a atitude a nível geral, e tudo o resto também irá sofrer uma melhoria as competências criativas, a capacidade de lidar com o stresse, os níveis de confiança, os relacionamentos com as pessoas. Foi uma ideia defendida pela primeira vez nos anos noventa do século XIX, pelo grande psicólogo norte americano William James, mas continua a ser uma revolução à espera de acontecer.

Uma atitude redutora e negativa limita a riqueza da vida prejudicando as capas cidades criativas, a sensação de realização, os prazeres sociais e as energias vitais, Não desperdice nem mais um dia nestas condições. O seu objetivo deverá ser libertar-se, expandir aquilo que vê e as suas experiências. Pretenderá abrir a lente na sua amplitude máxima. Eis algumas orientações que lhe permitirão fazê-lo.

Como encarar o mundo: Veja-se a si mesmo como um explorador. Com o dom da consciência, encontra-se perante um universo vasto e desconhecido que os seres humanos só agora começam a investigar. A maior parte das pessoas prefere agarrar-se a certas ideias e princípios, muitos deles adotados muito cedo na vida. Têm secretamente medo do que não é familiar e seguro. Substituem curiosidade por convicção. Quando chegam à casa dos trinta, agem como se já soubessem tudo o que precisam de saber. Na sua qualidade de explorador, deite todas essas incertezas para trás das costas. Procure novas ideias e formas de pensar, permanentemente. Não há limites para as deambulações da sua mente, e não deverá ficar preocupado se parecer subitamente incoerente ou se desenvolver ideias que contradigam diretamente aquilo em que acreditava há alguns meses. As ideias são coisas com que se pode brincar. Se nos agarrarmos demasiado a elas, tornam-se inanimadas. Neste momento, irá regressar ao espírito e à curiosidade infantis, ao ponto da sua vida em que ainda não possuía ego e em que estar certo não era mais importante do que relacionar-se com o mundo. Explore todas as formas de conhecimento, de todas as culturas e períodos temporais. Deixe-se desafiar.

Ao abrir a mente desta maneira, libertará capacidades criativas não realizadas e permitirá a si mesmo um grande prazer intelectual. Como parte do processo mantenha-se aberto a explorar as visões que lhe chegam do inconsciente, tal como se revelam nos sonhos, em momentos de cansaço e nos desejos reprimidos que se manifestam em determinados momentos. Não tem nada a recear ou a recalcar nesse campo. O inconsciente é apenas mais um reino que pode explorar livremente,

Como encarar a adversidade: A sua vida implica inevitavelmente obstáculos frustrações, sofrimento e separações. A forma como acabamos por lidar com esses momentos nos nossos primeiros anos de vida desempenha um papel fundamental no desenvolvimento da atitude geral perante a vida. Para muitas pessoas, esses momentos difíceis inspiram-nas a limitar o que veem e experienciam. Passam pela vida a tentar evitar qualquer tipo de adversidade, mesmo que isso signifique nunca se desafiarem realmente ou terem grande sucesso profissional. Em vez de aprenderem com as experiências negativas, querem reprimi-las. O seu objetivo será avançar no sentido contrário, abraçar todos os obstáculos como experiências de aprendizagem, como formas de se tornar mais forte. Desta forma, aceite a vida em si.

Em 1946, Malcolm Little (mais tarde conhecido como Malcolm X), com vinte anos de idade, começou a cumprir uma pena de prisão de oito anos por furto. A prisão geralmente tinha o efeito de endurecer o criminoso e de estreitar a sua visão já limitada do mundo. Em vez disso, Malcolm decidiu reanalisar a sua vida. Começou a passar tempo na biblioteca da prisão e apaixonou-se pelos livros e pela aprendizagem. Como agora percebia, a prisão forneceu-lhe a melhor maneira possível de mudar a sua pessoa e a sua atitude perante a vida. Com tanto tempo disponível, podia estudar e obter um diploma. Podia desenvolver a disciplina que sempre lhe faltara. Podia treinar-se de modo a tornar-se um orador experiente. Aceitou a experiência sem qualquer amargura e sentiu-se mais forte do que nunca. Quando saiu da prisão, encarava qualquer dificuldade, grande ou pequena, como forma de se testar e de endurecer. Embora a adversidade e o sofrimento normalmente estejam para lá do nosso controlo, temos o poder de definir a nossa resposta e o destino que daí decorre.

 A medida que envelhecemos, tendemos a Impor limites ao ponto a que conseguimos chegar na vida. Com os anos, interiorizamos as críticas e dúvidas dos outros. Ao aceitar o que pensamos serem os limites da nossa inteligência e capacidades criativas, desenvolvemos uma dinâmica autorrealizada. Aquelas tornam-se os nossos limites.

Não tem de ser tão humilde e discreto neste mundo. Essa humildade não é uma virtude, mas um valor que as pessoas promovem para o ajudar a limitar. Seja o que for que esteja a fazer neste momento, é de facto capaz de muito mais, e pensá-lo, estará a originar uma dinâmica diferente.

Não precisa de ceder a pensamentos arrogantes, mas sentir que está destinado a algo grandioso ou importante irá dar-lhe algum nível de resiliência quando as pessoas se lhe opuserem ou lhe resistirem. Não interiorize as dúvidas que decorrem destes momentos. Assuma um espírito empreendedor. Tente constantemente coisas novas, chegando a correr riscos, confiante na sua capacidade de recuperar dos fracassos e sentindo-se destinado ao sucesso.

O psicólogo norte-americano Abraham Maslow chamou uma «experiência de pico». São momentos em que somos elevados da rotina diária e pressentimos que existe algo maior e mais sublime na vida que estamos a perder.

Como encarar a própria saúde e energia: Embora todos sejamos mortais e sujeitos a doenças que escapam ao nosso controlo, temos de reconhecer o papel que a força de vontade desempenha na nossa saúde. Já todos o sentimos de uma maneira ou de outra. Quando nos apaixonamos ou sentimos entusiasmados com o trabalho, subitamente temos mais energia e recuperamos mais depressa de quaisquer doenças. Quando estamos deprimidos ou anormalmente stressados, tornamo-nos vítimas de todo o tipo de achaques. A atitude desempenha um papel fundamental na saúde, um papel que a ciência começou a explorar e que irá analisar de forma mais profunda nas décadas futuras. De modo geral, pode, em segurança, forçar-se a ir além daquilo que pensa serem os seus limites ao sentir-se empolgado e desafiado por um projeto ou iniciativa. O tempo passa, e as pessoas envelhecem prematuramente se aceitarem limites físicos ao que conseguem fazer, entrando num ciclo autorrealizado. Quem envelhece bem continua a realizar atividade física, ajustando-a apenas moderadamente. Há fontes de energia e de saúde a que ainda não acedeu.

Como encarar as outras pessoas: Em primeiro lugar, deve tentar livrar-se da tendência natural para aceitar aquilo que as pessoas fazem e dizem como algo que se dirige pessoalmente a si, em particular se o que disserem ou fizerem for desagradável. Mesmo quando o criticam ou vão contra os seus interesses, muito frequentemente isso tem origem numa mágoa profunda e antiga que estarão a reviver; torna-se assim o alvo conveniente de frustrações e ressentimentos que acumularam ao longo dos anos. Estas pessoas podem estar a projetar os seus próprios sentimentos negativos. Se conseguir vê-las desta forma, será mais fácil não reagir, não se incomodar ou envolver numa questiúncula mesquinha. Se a pessoa for verdadeiramente malévola, pelo facto de não se deixar enredar emocionalmente, estará numa posição melhor para maquinar a sua própria jogada. Evitará acumular mágoas e sentimentos amargos.

Encare as pessoas como factos da natureza. Surgem em todas as variedades, como as flores ou as pedras. Há os loucos e os santos, os sociopatas, os egotistas e os guerreiros nobres; há os sensíveis e os insensíveis. Todas elas desempenham um papel na nossa ecologia social. Isto não significa que não nos possamos esforçar por mudar o comportamento prejudicial das pessoas que nos são próximas ou que se encontram na nossa esfera de influência; mas não podemos refazer a natureza humana, e, mesmo que o conseguíssemos, o resultado podia ser muito pior do que o que temos. Devemos aceitar a diversidade e o facto de as pessoas serem o que são. Serem diferentes de si não deveria ser considerado como um desafio ao nosso ego ou autoestima, mas como algo que acolhemos e aceitamos.

A partir desta atitude mais neutra, pode tentar compreender as pessoas com quem lida a um nível mais profundo. Quando mais o fizer, mais tolerante tenderá a tornar-se em relação às pessoas e à natureza humana em geral. O seu espírito aberto e generoso tornará as suas interações sociais muito mais suaves, e as pessoas sentir-se-ão atraídas por si.

Finalmente, pense no conceito moderno de atitude em termos do antigo conceito de alma. O conceito de alma encontra-se em quase todas as culturas indígenas e nas civilizações pré-modernas. Referia-se originalmente às forças espirituais que percorriam o universo e que estavam contidas no ser humano individual sob a forma de alma. A alma não é a mente ou o corpo, mas o espírito geral que corporizamos, a nossa forma de viver o mundo. E o que faz de uma pessoa um indivíduo, e o conceito de alma estava relacionado com as primeiras ideias de personalidade. De acordo com este conceito, a alma de uma pessoa pode ter profundidade. Algumas pessoas possuíam um nível superior desta força espiritual, tinham mais alma. Outras tinham uma personalidade que carecia de força e eram, de alguma forma, «desalmadas», sem alma.

Este aspeto tem grande relevância para a nossa ideia de atitude. No conceito moderno de alma, substituímos esta força espiritual externa pela própria vida ou por aquilo que pode ser descrito como força vital. A vida é inerentemente complexa e imprevisível, vai muito para lá de tudo o que podemos compreender ou controlar completamente. Esta força vital reflete-se na natureza e na sociedade humana pela notável diversidade que encontramos nos dois reinos.

Por um lado, encontramos pessoas cujo objetivo na vida é inibir e controlar esta força vital. Isto leva-as a estratégias destrutivas. Têm de limitar os seus pensamentos e de permanecer verdadeiras face a ideias que perderam relevância. Têm de limitar o que vivem. Tudo tem a ver com elas e com as suas necessidades insignificantes e problemas pessoais. Ficam muitas vezes obcecadas com um objetivo específico que domina todos os seus pensamentos como fazer dinheiro ou obter atenção. Tudo isto as deixa mortas por dentro, visto que se fecham à riqueza da vida e à variedade da experiência humana. Desta forma, voltam-se para a ausência de alma, uma carência interior de profundidade e flexibilidade.

O seu objetivo deverá ser sempre avançar no sentido contrário. Redescubra a curiosidade que teve em criança. Tudo e toda a gente podem constituir uma fonte de fascínio para si. Continue a aprender, a alargar sempre aquilo que sabe e as suas experiências. Com as pessoas, sinta-se generoso e tolerante, inclusive com os seus inimigos e com os que se encontram presos na condição de desalmados. Não se escravize face à amargura e ao rancor. Em vez de culpar os outros ou as circunstâncias, analise o papel que a sua própria atitude e ações desempenham em qualquer fracasso. Adapte-se às circunstâncias em vez de se queixar delas. Aceite e acolha a incerteza e o inesperado como características preciosas da vida.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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