# 8 Lei da Autossabotagem- 8/18 Robert Greene
# 8 Lei da Autossabotagem
– Mude as suas circunstâncias mudando a sua atitude
Cada um de nós tem uma forma
particular de olhar para o mundo, de interpretar os acontecimentos e as ações
das pessoas que nos rodeiam. É a nossa atitude que determina muito do que nos
acontece na vida. Se a atitude for essencialmente temerosa, veremos o lado
negativo de todas as circunstâncias. Impedir-nos-emos de correr riscos.
Culpamos os outros pelos erros e não aprendemos com eles. Se nos sentirmos
hostis e desconfiados, faremos os outros sentir essas emoções na nossa
presença. Sabotaremos a nossa carreira e relacionamentos criando
inconscientemente as circunstâncias que mais receamos. No entanto, a atitude
humana é maleável. Ao tornar a nossa atitude mais positiva, aberta e tolerante
aos outros, podemos ativar uma dinâmica diferente — podemos aprender com a
adversidade, criar oportunidades a partir do nada e atrair as pessoas para nós.
Devemos de explorar os limites da força de vontade e ir tão longe quanto esta
nos conseguir levar.
Caso da vida de Anton Tchekhov
No momento em que a mãe o deixou
sozinho em Taganrog, o jovem Anton Tchekhov sentiu-se encurralado, como se
tivesse sido posto na prisão. Seria obrigado a trabalhar ao máximo quando não
estava a estudar. Estava preso num charco estagnado, desesperadamente
entediante, sem qualquer ponto de apoio, vivendo no canto de uma pequena
divisão. Pensamentos amargos sobre o seu destino e sobre a infância que nunca
tivera consumiam-no nos seus escassos momentos de lazer. Mas, à medida que as
semanas se passavam, reparou em algo muito estranho — gostava do seu trabalho
de precetor, mesmo que a remuneração fosse reduzida e que o obrigasse a andar
constantemente de um lado ao outro da cidade. O pai insistira em dizer-lhe que
era preguiçoso, e ele acreditara, mas agora não tinha assim tanta certeza. Cada
dia representava um desafio no sentido de arranjar mais trabalho e de pôr
comida na mesa. Estava a conseguir fazê-lo. Não era um verme miserável que
precisasse de ser espancado. Além disso, o trabalho era uma excelente forma de
se exceder e de se concentrar nos problemas dos alunos.
Os livros que lia levavam-no para
longe de Taganrog e enchiam-no de pensamentos interessantes que lhe ficavam na
cabeça os dias inteiros. A própria cidade de Taganrog não era assim tão má.
Cada loja, cada casa continha as personagens mais invulgares, fornecendo-lhe
material interminável para histórias. E aquele cantinho do quarto era o seu
reino. Muito longe de se sentir encurralado, sentia-se agora livre. O que
mudara afinal? Certamente não as suas circunstâncias ou Taganrog ou o recanto
da mesma divisão. O que mudara fora a sua atitude, que se abrira a novas
experiências e possibilidades. Quando o sentiu, quis ir mais longe. O maior
impedimento que se opunha à sensação de liberdade era o pai. Tentasse o que
tentasse, parecia não conseguir livrar-se de sentimentos profundos de amargura.
Era como se ainda conseguisse sentir as sovas e ouvir as suas intermináveis
críticas mordazes.
Como último recurso, tentou
analisar o pai como se fosse a personagem de uma história. Isso levou-o a
pensar no avô paterno e em todas as gerações de Tchekhov. Ao considerar a
natureza imprevisível do pai e a sua imaginação desenfreada, conseguiu
compreender que ele se deveria ter sentido encurralado pelas circunstâncias e
por que motivo começara a beber e a tiranizar a família. Era impotente, mais
vítima do que opressor. Esta leitura do pai definiu as bases para o súbito
acesso de amor incondicional que um dia sentiu pelos progenitores. Iluminado
por esta nova emoção, sentiu-se finalmente livre de ressentimentos e da raiva.
As emoções negativas do passado haviam-se finalmente afastado dele. A sua mente
podia agora abrir-se completamente. A sensação era tão empolgante que tinha de
a partilhar com os irmãos e de os libertar também.
O que levou Tchekhov a este ponto
foi a crise que enfrentou quando ficou sozinho em tão tenra idade. Experimentou
outra crise semelhante cerca de trinta anos mais tarde, quando se sentiu
deprimido devido à mesquinhez dos outros escritores. A sua solução foi
reproduzir o que acontecera em Taganrog, mas ao contrário — seria ele a
abandonar os outros e a obrigar-se a estar sozinho e vulnerável. Desta forma
poderia voltar a sentir a liberdade e a empatia que experimentara em Taganrog.
A condenação precoce a uma morte por tuberculose constituiu a crise suprema.
Libertar-se-ia do medo da morte e dos sentimentos amargos que decorriam do
facto de a sua vida ser tão breve continuando a vivê-la ao máximo. Esta liberdade
final e derradeira deu-lhe um brilho que quase toda a gente que se cruzou com
ele neste período conseguia captar.
Compreender:
A história de Anton Tchekhov é na verdade um paradigma para aquilo que todos
enfrentamos na vida. Transportamos connosco traumas e mágoas desde a primeira
infância. Na nossa vida social, à medida que envelhecemos, acumulamos deceções
e ofensas. Somos com frequência atormentados por uma impressão de
insignificância, de não merecermos realmente as coisas boas da vida. Todos
temos momentos de grande dúvida acerca de nós mesmos. Estas emoções podem levar
a pensamentos obsessivos que nos dominam psicologicamente. Fazem-nos limitar
aquilo que experimentamos como forma de lidar com a ansiedade e com as
deceções. Fazem-nos recorrer ao álcool e a qualquer tipo de hábito para
entorpecer a dor. Sem que nos apercebamos disso, assumimos uma atitude negativa
e temerosa perante a vida. Esta torna-se a nossa prisão autoimposta. Mas não
tem de ser assim. A liberdade que Tchekhov sentiu resultou de uma escolha, de
uma forma diferente de olhar para o mundo, de uma mudança de atitude. Todos
podemos percorrer este caminho.
A liberdade decorre essencialmente
de adotarmos um espírito generoso — para com os outros e para com nós próprios.
Ao aceitar as pessoas, ao compreender e se possível até amá-las pela sua
natureza humana, podemos libertar a mente de emoções obsessivas e mesquinhas.
Podemos distanciar-nos e impedir-nos de levar tudo como um ataque pessoal. O
espaço mental fica livre para objetivos mais elevados. Quando nos sentimos
generosos em relação aos outros, estes sentem-se atraídos por nós e desejam
equiparar-se-nos em espírito. Quando nos sentimos generosos para connosco
próprios, deixamos de sentir a necessidade de nos inclinarmos, de fazermos vénias
e de entrar no jogo da falsa humildade, lamentando-nos secretamente pela nossa
falta de sucesso. Através do trabalho e alcançando sozinhos aquilo de que
precisamos, sem depender dos outros, podemos erguer-nos e realizar todo o nosso
potencial como seres humanos. Podemos parar de reproduzir as emoções negativas
que nos rodeiam. Depois de sentirmos o poder empolgante desta nova atitude,
iremos desejar levá-la o mais longe possível.
Anos mais tarde, numa carta a um
amigo, Tchekhov tentou sintetizar esta experiência em Taganrog, referindo-se a
si próprio na terceira pessoa: «Escrever sobre o modo como este jovem espreme o
escravo para fora de si, gota a gota, e como, uma bela manhã, acorda para
descobrir que o sangue que lhe corre nas veias já não é o sangue de um escravo,
mas de um verdadeiro ser humano.»
A maior descoberta da minha geração
foi o facto de os seres humanos poderem alterar as suas vidas pelo facto de
mudarem os seus estados de espírito.
—William
James
Explicações para a natureza humana
Os seres humanos gostam de pensar
que têm um conhecimento objetivo do mundo. Tomamos por garantido que aquilo que
captamos diariamente é a realidade sendo esta realidade mais ou menos a mesma
para toda a gente. Mas trata-se
de uma ilusão. Não há duas pessoas
que vejam ou captem o mundo da mesma maneira. O que percecionamos é a nossa
versão pessoal da realidade, uma criação nossa. Compreendê-lo será um passo
determinante para compreendermos a natureza humana.
Imagine o seguinte cenário: Um
jovem norte-americano tem de passar um ano a estudar em Paris. É um pouco
tímido e cauteloso, com tendência para sentimentos depressivos e para uma baixa
autoestima, mas está genuinamente entusiasmado com esta oportunidade. Já em
Paris, tem dificuldade em falar a língua, e os erros que comete e a atitude
ligeiramente trocista dos parisienses dificultam-lhe ainda mais a aprendizagem.
Não acha as pessoas nada simpáticas. O tempo está húmido e sombrio. A comida é
demasiado pesada. Até a catedral de Notre Dame lhe parece dececionante, com a
área em volta apinhada de turistas. Embora viva momentos agradáveis, de modo
geral sente-se marginalizado e infeliz. Conclui que Paris está sobrevalorizada
e que é um local bastante desagradável.
Agora imagine o mesmo cenário, mas
com uma jovem que seja mais extrovertida e que tenha um espírito aventureiro.
Não se sente incomodada pelo facto de cometer erros de francês nem com as
observações por vezes sarcásticas de um ou outro parisiense. Considera a
aprendizagem da língua um desafio agradável. As outras pessoas acham que tem um
espírito cativante. Faz amigos com mais facilidade, e com estes contactos
adicionais o seu conhecimento do francês melhora. Acha o clima romântico e
bastante adequado ao local. Para ela, a cidade representa um sem-fim de
aventuras e acha-a encantadora.
Neste caso, duas pessoas veem e
avaliam a mesma cidade de formas contrárias. Por uma questão de realidade
objetiva, o tempo em Paris não tem características positivas ou negativas. As
nuvens limitam-se a passar. A simpatia ou antipatia dos parisienses é um juízo
de valor subjetivo - depende das pessoas que conhece e das suas semelhanças com
os seus conterrâneos. A catedral de Notre Dame é apenas um aglomerado de pedras
esculpidas. O mundo simplesmente existe como é - as coisas e os acontecimentos
não são bons ou maus, certos ou errados, feios ou belos.
São as nossas perspetivas
particulares que adicionam ou retiram cor às coisas e às pessoas.
Concentramo-nos ou na bela arquitetura gótica ou nos turistas incómodos. Com a
nossa atitude, podemos fazer que as pessoas nos respondam de forma Simpática ou
antipática, dependendo da nossa ansiedade e abertura. Moldamos grande parte da
realidade que captamos, sendo esta ditada pelos nossos estados de espírito e
emoções.
Compreender: Cada um de nós vê o mundo através
de uma lente especial que dá cor e forma às nossas perceções. Vamos chamar a
esta lente atitude. O grande psicólogo suíço Carl Jung definiu-o do
seguinte modo: «A atitude é a disponibilidade de a psique agir ou reagir de
determinada maneira. Ter uma atitude significa estar pronto para fazer algo
definitivo, mesmo que este algo seja inconsciente; porque ter uma atitude é
sinónimo de uma orientação a priori para algo definitivo.»
O que isto significa é o seguinte:
ao longo do dia, a mente responde a milhares de estímulos do meio envolvente.
Dependendo da forma como o nosso cérebro está preparado e da nossa constituição
psicológica, certos estímulos — as nuvens no céu, multidões de pessoas — levam
a resultados e respostas mais fortes. Quanto mais forte for a resposta, mais
atenção prestamos. Algumas pessoas são mais sensíveis a estímulos que outras,
fundamentalmente, ignorariam. Se formos inconscientemente, por qualquer motivo,
propensos a sentimentos de tristeza, é mais provável que captemos sinais que
promovam este sentimento. Se tivermos uma natureza desconfiada, somos mais
sensíveis a expressões faciais que apresentem qualquer tipo de possível
negatividade e exageramos aquilo que captamos. É esta a «disponibilidade da
psique [...] para reagir de determinada maneira».
Nunca temos consciência deste
processo. Sofremos apenas os efeitos secundários destas sensibilidades e
respostas do cérebro; estas formam um estado de espírito geral ou um
antecedente emocional a que podemos chamar depressão, hostilidade, insegurança,
entusiasmo ou espírito de aventura. Experimentamos muitos estados de espírito
diferentes, mas em geral podemos dizer que temos uma forma particular de ver e
interpretar o mundo, dominados por uma emoção ou por uma combinação de várias,
como hostilidade e ressentimento. E esta a nossa atitude. As pessoas com uma
atitude bastante depressiva podem sentir momentos de alegria, mas tendem mais a
experimentar tristeza; antecipam esse sentimento nas suas vivências diárias.
Jung ilustra esta ideia da seguinte
forma: Imagine que, durante uma caminhada, algumas pessoas deparam com um
riacho que deverá ser atravessado para se poder continuar a viagem. Uma delas,
sem pensar muito nisso, simplesmente salta por cima dele, pousando o pé numa ou
noutra pedra, sem se preocupar de todo com a possibilidade de uma queda. Gosta
do puro prazer físico de saltar e não se preocupa em cair. Outra pessoa está
igualmente entusiasmada, mas isso tem menos a ver com a alegria física do que
com o desafio mental que o riacho representa. Irá calcular a forma mais eficaz
de o atravessar e obterá satisfação desse exercício mental. Outro caminhante,
de natureza cautelosa, demorará mais tempo a pensar em tudo.
Pense mais uma vez no cenário do
jovem em Paris. Ao sentir-se tenso e inseguro, reage de forma defensiva a erros
que cometeu ao aprender a língua. Isto dificulta-lhe ainda mais a aprendizagem,
o que, por sua vez, impede que conheça outras pessoas, o que o faz sentir-se
mais isolado. À medida que a sua energia desce para um nível depressivo, este
ciclo perpetua-se. As suas inseguranças podem afugentar as pessoas. A forma
como pensamos nos outros tende a ter efeito semelhante sobre elas. Se nos
sentirmos hostis e críticas, tendemos a inspirar emoções críticas no outro. Se
nos sentirmos na defensiva, faremos os outros sentirem-se na defensiva. A
atitude do jovem tende a fechá-lo nesta dinâmica negativa.
Por outro lado, a atitude da
rapariga desencadeia uma dinâmica positiva consegue aprender a língua e
conhecer pessoas, o que lhe eleva o estado de espírito e reforça os níveis de
energia, tornando-a mais atrativa e interessante para os outros, e por aí fora.
Embora as atitudes surjam em muitas
variantes e combinações, podemos de modo geral categorizá-las como negativas e
estreitas ou positivas e expansivas. Os indivíduos que apresentam uma atitude
negativa tendem a agir a partir de uma postura básica de medo perante a vida.
Desejam inconscientemente limitar o que veem e sentem para ganharem maior
controlo. As pessoas que têm uma atitude positiva têm uma abordagem muito menos
temerosa. Abrem-se a experiências, ideias e emoções novas. Se a atitude for
como uma lente que temos para o mundo, a atitude negativa reduz a abertura
dessa lente, e a positiva expande-a o mais possível. Podemos oscilar entre
estes dois polos, mas, de modo geral, tendemos a ver o mundo com uma mente mais
fechada ou aberta.
A sua missão como estudioso da
natureza humana assume duas vertentes: em primeiro lugar, tem de tomar consciência
da sua própria atitude e de como determina as duas perceções. É difícil
observar este aspeto na vida do dia a dia porque é tudo muito próximo, mas há
formas de captar vislumbres do processo em curso. Pode vê-lo na forma como
julga as pessoas quando já não se encontram na sua presença. Concentra-se
rapidamente nas suas qualidades e opiniões negativas ou é mais generoso e
condescendente quando se trata dos seus defeitos? Verá sinais decisivos da sua
atitude na forma como encara a adversidade ou a resistência. Esquece-se
rapidamente de quaisquer erros da sua parte ou desvaloriza-os? Culpa
instintivamente os outros por coisas negativas que lhe aconteçam? Receia
qualquer tipo de mudança? Tende a agarrar-se a rotinas e a evitar tudo o que
seja inesperado ou invulgar? Insurge-se quando alguém desafia as suas ideias e
presunções?
Também irá captar sinais deste
aspeto no modo como as pessoas lhe respondem, especialmente de forma não
verbal. Sente-as nervosas na sua presença? Tende a atrair pessoas que desempenham
o papel de mãe e de pai na sua vida?
Depois de estudar bem os traços
gerais da sua própria atitude, da sua inclinação negativa ou positiva, terá
muito mais capacidade de a alterar, de a desviar mais para o sentido positivo.
Em segundo lugar, não deve estar
apenas consciente da sua atitude, mas também acreditar na sua capacidade
suprema de alterar as suas circunstâncias. Não é um peão num jogo controlado
por outros; é um jogador ativo que pode deslocar peças a seu bel-prazer e até
reescrever as regras. Encare a sua saúde como algo extremamente dependente da
sua atitude. Ao sentir-se empolgado e aberto à aventura, pode usar reservas de
energia que não sabia possuir. A mente e o corpo são um só, e os seus
pensamentos afetam as suas respostas físicas. As pessoas podem recuperar muito
mais depressa de uma doença por simples desejo e força de vontade. Não nascemos
com uma inteligência fixa e com limites inerentes. Encare o seu cérebro como um
órgão milagroso concebido para a aprendizagem e o aperfeiçoamento constantes,
até uma idade bastante avançada. As ligações neuronais ricas do seu cérebro, as
suas capacidades criativas, são algo que desenvolve ao ponto de se abrir a
novas experiências e ideias. Perspetive os problemas e os fracassos como formas
de aprender e de endurecer. Pode ultrapassar todos os obstáculos com
persistência. Encare a forma como as pessoas o tratam como algo que decorre de
modo geral da sua própria atitude, algo que não consegue controlar.
Não tenha medo de exagerar o papel
da força de vontade. E um exagero com um objetivo. Leva a uma dinâmica positiva
autorrealizada, e é apenas isso que importa. Veja esta modelação da sua atitude
como a sua criação mais importante na vida e nunca a deixe ao acaso.
A atitude redutora (negativa)
A vida é intrinsecamente caótica e
imprevisível. No entanto, o animal humano não reage bem à incerteza. As pessoas
que se sentem particularmente fracas e vulneráveis tendem a adotar uma atitude
face à vida que limita aquilo que experienciam para poderem reduzir a possibilidade
de acontecimentos inesperados. Esta atitude negativa e redutora tem muitas
vezes origem na primeira infância. Algumas crianças recebem pouco carinho ou
apoio ao enfrentarem um mundo assustador. Desenvolvem várias estratégias
psicológicas para limitar o que têm de ver e de experimentar. Constroem defesas
elaboradas para deixar de lado outros pontos de vista. Tornam-se cada vez mais
autocentradas. Na maior parte das situações, acabam por esperar que aconteçam
coisas más, e os seus objetivos na vida giram em torno de antecipar e
neutralizar más experiências para as conseguirem controlar melhor.
À medida que envelhecem, esta
atitude torna-se mais enraizada e mais tornando qualquer tipo de crescimento
psicológico praticamente impossível.
Estas atitudes têm uma dinâmica de
autossabotagem. Indivíduos fazem os outros sentir uma emoção negativa que
domina a sua atitude, a confirmar as suas crenças sobre as pessoas. Tentam não
ver o papel que as próprias ações desempenham, que muitas vezes são aquilo que
instiga a resposta negativa. Veem apenas outros indivíduos a persegui-las ou o
azar a oprimi-las
Ao afastarem as pessoas, tornam
ainda mais difícil ter algum sucesso na vida, e, no seu isolamento, a sua
atitude piora. Ficam presas num círculo vicioso.
As cinco formas que se seguem são as mais comuns da atitude
redutora.
As emoções negativas têm uma força
compulsiva — é mais provável uma pessoa zangada sentir desconfiança,
inseguranças profundas, revolta, etc. E por isso encontramos com frequência
combinações destas várias atitudes negativas, com cada uma delas a alimentar e
a reforçar as outras. O seu objetivo é reconhecer os vários sinais dessas
atitudes que existem em si de formas latentes e enfraquecidas e erradicá-las;
ver de que forma operam numa versão mais forte, noutras pessoas, compreendendo
melhor a sua perspetiva sobre a vida; e aprender a lidar com os indivíduos que
assumem essas atitudes.
A atitude hostil. Algumas crianças apresentam uma
atitude agressiva em muito tenra idade. Interpretam o desmame e a separação
natural dos pais como ações adversas. Outras crianças têm de lidar com um
progenitor que gosta de as castigar e de lhes infligir sofrimento. Em ambos os
casos, a criança olha para um mundo que parece carregado de hostilidade e a sua
resposta é procurar controlá-lo tornando-se a fonte dessa mesma hostilidade.
Pelo menos assim esta deixa de ser tão arbitrária e súbita. A medida que
crescem, procuram estimular a raiva e a frustração nos outros, o que justifica
a sua atitude original — «Vês, as pessoas estão contra mim, não gostam de mim,
e sem que haja qualquer motivo para isso.»
Num relacionamento, um marido com
uma atitude hostil acusa a mulher de não o amar realmente. Se ela protestar e
ficar na defensiva, ele irá encarar o facto como um sinal de que a mulher não
consegue disfarçar a verdade. Se ela se sentir intimidada e ficar calada, ele
vê-lo-á como sinal de que sempre teve razão. Sentindo-se baralhada, a esposa
acabará por detetar alguma hostilidade da sua parte, confirmando a opinião do marido.
As pessoas com esta atitude têm muitos truques subtis na manga para provocarem
a agressão que secretamente querem sentir dirigida contra si — retirarem a sua
cooperação num projeto precisamente no momento menos conveniente, chegarem
sempre atrasadas, fazerem um trabalho, deixarem deliberadamente uma má
impressão inicial. Mas nunca se veem como alguém que desempenha qualquer tipo
de papel na instigação dessa resposta.
A hostilidade permeia tudo o que
fazem: a forma como argumentam e provocam (têm sempre razão); o tom
desagradável das suas piadas; a avidez com que pedem atenção; o prazer que têm
em criticar outras pessoas e vê-las falhar. Pode reconhecê-las pela forma como
se enfurecem rapidamente nestas situações. A sua vida, tal como a descrevem, está
cheia de batalhas, de traições, de perseguições, mas aparentemente isso não tem
origem nelas. Essencialmente, projetam os seus sentimentos hostis nas outras
pessoas e estão preparadas para as ler em quase todas as ações aparentemente
inocentes. O seu objetivo na vida é sentirem-se perseguidas e desejarem
qualquer forma de vingança. Estes tipos de modo geral vivem problemas
profissionais, visto que a sua raiva e hostilidade normalmente fervem em pouca
água. Isso dá-lhes outro motivo para se queixarem e uma base a partir da qual
podem culpar o mundo por estar contra eles.
Se detetar sinais desta atitude na
sua pessoa, essa autoconsciência é um passo fundamental para se tornar capaz de
se livrar dela. Também pode experimentar algo simples: aborde as pessoas que
encontra pela primeira vez ou que conhece apenas superficialmente com vários
pensamentos positivos — «Gosto delas», «Parecem inteligentes», etc. Nada disto
deve ser verbalizado, mas dê o seu melhor para sentir essas emoções. Se elas
responderem de forma hostil ou defensiva, talvez o mundo esteja mesmo contra
si. Muito provavelmente não verá nada que possa ser remotamente interpretado
como negativo. De facto, verá precisamente o contrário. Logo, como é evidente,
a fonte de qualquer resposta hostil é o próprio leitor.
Ao lidar com os casos extremos que
se enquadram neste tipo, procure o mais possível não responder com o
antagonismo que esperam. Mantenha a neutralidade. Isto irá confundi-los e
interromper-lhes temporariamente o jogo. Alimentam-se da sua hostilidade, por
isso evite abastecê-los.
A atitude ansiosa. Estes tipos antecipam todo o tipo
de obstáculos e dificuldades em qualquer situação com que lidem. Com as
pessoas, muitas vezes esperam algum tipo de crítica ou mesmo a traição. Tudo
isto estimula quantidades Invulgares de ansiedade perante o facto. O que
realmente receiam é perder o Controlo da situação. A sua solução é limitar o
que pode eventualmente acontecer, reduzir o mundo com que têm de lidar. Isto
significa limitar onde vão e o que irão experimentar. Num relacionamento,
dominarão subtilmente os rituais e hábitos domésticos; parecerão frágeis e
exigirão uma atenção adicional. Isso irá dissuadir os outros de as criticarem.
Tudo deverá decorrer dentro das suas condições. No trabalho, serão perfecionistas
fervorosos e microgestores, acabando por se sabotar a si mesmos tentando
controlar demasiadas coisas. Quando saem da sua zona de conforto — a casa ou o
relacionamento que dominam —, tornam-se invulgarmente inquietos.
Por vezes conseguem disfarçar a sua
necessidade de controlo de uma forma de amor e de preocupação. Quando Franklin
Roosevelt ficou com poliomielite, em 1921, aos trinta e nove anos de idade, a
mãe, Sara, fez tudo o que para limitar a sua vida e para o manter numa divisão
da casa. Teria de desistir da sua carreira política e de se entregar aos seus
cuidados. Mas Eleanor, mulher de Franklin conhecia-o melhor. O que ele desejava
e do que precisava era de regressar lentamente a algo que se assemelhasse à sua
vida anterior. Tornou-se uma batalha entre a mãe e a nora, que Eleanor acabou
por ganhar. A mãe conseguiu disfarçar atitude ansiosa e a necessidade de
dominar o filho através do seu amor aparente transformando-o num inválido
indefeso.
Se identificar estas tendências na
sua pessoa, o melhor antídoto será pôr as suas energias a trabalhar. Concentrar
a sua atenção no exterior, num projeto de algum tipo, terá um efeito calmante.
Desde que domine a sua tendência para o perfecionismo, pode canalizar essa
necessidade de controlo para algo produtivo. Com as pessoas, experimente
abrir-se lentamente aos seus hábitos e ao seu ritmo de realização das coisas,
em vez do contrário. Isto pode mostrar-lhe que não tem nada a recear ao perder
o controlo. Coloque-se deliberadamente nas circunstâncias que mais receia,
descobrindo que os seus medos são de modo geral exagerados. Estará lentamente a
introduzir um pouco de caos na sua vida excessivamente ordenada.
Ao lidar com quem tem esta atitude,
tente não se sentir contagiado pela sua ansiedade e, em vez disso, procure
providenciar a influência tranquilizadora de que esse interlocutor tanto
precisou nos seus primeiros anos de vida. Se irradiar calma, os seus modos
terão mais efeito do que as suas palavras.
A atitude de evitamento. As pessoas com esta atitude veem o
mundo através das suas inseguranças, geralmente relativas a dúvidas sobre a
própria competência e inteligência. Talvez em criança as tenham feito sentir-se
culpadas e desconfortáveis com qualquer esforço no sentido de se destacarem por
si e dos irmãos; ou as tenham feito sentir-se mal sobre algum tipo de erro ou
possível mau comportamento. Aquilo que passaram a recear mais foi o juízo de
valor dos pais. A medida que estas pessoas envelhecem, o seu principal objetivo
na vida é evitar qualquer tipo de responsabilidade ou desafio em que a sua
autoestima possa estar em causa e pela qual possam ser julgados. Se não se
esforçarem muito na vida, não poderá0 falhar ou ser criticados.
Para pôr em prática esta
estratégia, têm de estar sempre a escapar aos itinerários, de forma consciente
ou inconsciente. Irão encontrar o motivo perfeito para se despedirem antes do
prazo e para mudarem de carreira ou para acabarem com relacionamento. No meio
de um projeto de grande responsabilidade, ficam subitamente doentes e têm de
desistir, São propensas a todo o tipo de doenças psicossomáticas. Ou então
tornam-se alcoólicas, com algum tipo de dependência, sempre a descarrilar na
altura certa, mas atribuindo as culpas à «doença» de que sofrem e à educação
inadequada que receberam e que lhes causou essa dependência. Não fosse o
álcool, podiam ter sido escritores ou empresários, é o que dizem.
Outras estratégias incluem
desperdiçar tempo ou chegar demasiado tarde a um compromisso, sempre com uma
desculpa pronta para o ocorrido. Não podem ser responsabilizadas pelos seus
resultados medíocres.
Estes indivíduos têm dificuldade em
comprometer-se com alguma coisa, por um bom motivo. Se permanecessem num
emprego ou num relacionamento, os seus defeitos poderiam tornar-se demasiado
visíveis para os outros. E preferível fugir no momento certo e manter a ilusão
— para si e para os outros — da sua possível grandeza, para a eventualidade
de... embora sejam de modo geral motivados pelo grande medo de falhar e pelos
juízos de valor que se seguem, também têm secretamente medo do sucesso — porque
com o sucesso vêm as responsabilidades e a necessidade de estar à altura das
mesmas. O sucesso também pode desencadear os seus velhos medos de se destacarem
e notabilizarem.
E possível reconhecer facilmente
estas pessoas pelas suas carreiras acidentadas e pelos seus relacionamentos
pessoais de curto prazo. Podem tentar disfarçar a fonte dos seus problemas
parecendo cheios de virtudes — desprezam o sucesso e as pessoas que têm de
provar o seu valor. Apresentam-se muitas vezes como idealistas nobres,
propagando ideias intemporais, mas que irão conferir a desejada aura de
santidade ao projeto. Ter de representar ideais expõe-nos à crítica ou ao
fracasso, por isso preferem pessoas demasiado condescendentes ou irrealistas
para a época em que vivem. Não se deixem enganar pela fachada de «eu sou mais
nobre do que tu» que apresentam. Observem as suas ações, a falta de
realizações, os grandes projetos que nunca começam, sempre acompanhados de uma
boa desculpa.
Se detetar sinais desta atitude na
sua pessoa, uma boa estratégia será aceitar um projeto, mesmo que muito
pequeno, levando-o até ao fim e abraçando a perspetiva de fracasso. Se falhar,
terá amortecido o golpe porque o antecipou, e inevitavelmente este não irá
magoar tanto como imaginou. A sua autoestima irá melhorar por finalmente ter
experimentado e concluído algo. Depois de ter reduzido este medo, o progresso
será fácil. Irá desejar tentar de novo. E, se for bem-sucedido, tanto melhor.
Em qualquer dos casos, sairá a ganhar.
Quando encontrar outras pessoas com
esta atitude, tenha muito cuidado se pensar constituir parcerias com elas. São
especialistas em fugir na pior altura, em pô-lo a realizar o trabalho mais
difícil e a descartar-se da culpa, se este falhar. São excelentes no jogo do
evitamento.
A atitude depressiva. Na infância, estes indivíduos não
se sentiam ou respeitados pelos pais. Para crianças indefesas, é quase impossível
imaginar os pais possam estar enganados ou que a sua educação tenha falhas.
Mesmo não sejam amadas, continuam a estar dependentes deles. E por isso as suas
defesas consistem com frequência em interiorizar a sua avaliação negativa e em
imaginar que de facto não merecem ser amadas, que existe de facto algo errado
nelas. Desta forma, podem manter a ilusão de que os pais são fortes e
competentes. Tudo isto acontece de forma quase inconsciente, mas a sensação de
serem indignas atormentará estas pessoas para o resto das suas vidas. No fundo,
sentem-se envergonhadas de quem são e não sabem bem porque se sentem assim.
Em adultos, anteciparão abandono,
perda e tristeza nas suas experiências e verão sinais potencialmente
depressivos no mundo que as rodeia. São secretamente atraídas pelo que é
sombrio no mundo, pelo lado desagradável da vida. Se conseguirem processar
parte da depressão que sentem desta forma, pelo menos esta estará sob o seu
controlo. Consolam-se com o pensamento de que o mundo é um lugar desolador. Uma
estratégia que utilizam ao longo das suas vidas é retirarem-se temporariamente
da existência e das pessoas. Isto irá alimentar a sua depressão e também
torná-la algo que possam gerir até certo ponto, em oposição às experiências
traumáticas que lhes foram impostas. Este tipo de indivíduo tem muitas vezes
uma necessidade secreta de magoar os outros, incitando comportamentos como a
traição ou a crítica, que lhes alimentam a depressão. Também se autossabotam se
conhecem algum tipo de sucesso, sabendo bem lá no fundo que não o merecem.
Desenvolvem bloqueios ao trabalho ou aceitam críticas de forma a mostrar que
não deveriam continuar com as suas carreiras. Os tipos depressivos podem muitas
vezes atrair as pessoas, em virtude da sua natureza sensível; estimulam nos
outros o desejo de querer ajudar. Este vaivém origina confusão, mas, quando
alguém se sente fascinado por elas, é difícil libertar-se sem se sentir
culpado. Têm um dom para fazer as outras pessoas sentirem-se deprimidas na sua
presença. Isso dá-lhes ainda mais motivos para continuar.
A maior parte das pessoas tem
tendências e momentos depressivos. A melhor maneira de lidar com eles é estar
consciente da sua necessidade são a forma de o corpo e da mente nos obrigarem a
abrandar, a reduzir as energias e a afastarmo-nos. Os ciclos depressivos podem
ter resultados positivos. A solução é perceber a sua utilidade e qualidade
temporária. A depressão que sente hoje não estará consigo dentro de uma semana
e é possível pôr-lhe fim. Se conseguir, arranje maneiras de elevar os seus
níveis de energia, o que o irá ajudar fisicamente a levantar o moral. A melhor
maneira de lidar com uma depressão recorrente é canalizar as suas energias para
o trabalho, especialmente para as artes. Estando habituado a afastar-se e a estar
sozinho, use esse tempo para aceder ao seu inconsciente. Exteriorize a sua
sensibilidade única e os seus sentimentos mais obscuros através do trabalho.
Nunca tente animar pessoas
depressivas apregoando as maravilhas que a vida tem. Em vez disso, é preferível
alinhar com a sua opinião sombria do mundo, ao mesmo tempo que as atrai
subtilmente para experiências positivas que possam elevar o seu estado de
espírito e energia, sem apelos diretos.
A atitude de ressentimento. Em criança, estes tipos nunca sentem
ter amor e afeto suficientes por parte dos pais — estão sempre ávidos de mais
atenção. Transportam esta impressão de insatisfação e desapontamento ao longo
das suas vidas. Nunca consideram estar a receber o reconhecimento merecido. São
especialistas em perscrutar os rostos dos outros em busca de sinais de possível
desrespeito ou desprezo. Tudo o que acontece parece estar relacionado com a
pessoa; se alguém tem mais do que eles, é sinal de injustiça, uma afronta
pessoal quando sentem esta falta de respeito e de reconhecimento, não explodem
de raiva. Geralmente são prudentes e gostam de controlar as suas emoções. Em
vez disso, a dor incuba dentro deles, com o sentido de injustiça a crescer cada
vez mais forte à medida que refletem sobre o assunto. Não esquecem com
facilidade. A dada altura, vingam-se num ato astuciosamente maquinado de
sabotagem ou de agressão passiva.
Como têm a sensação permanente de
estarem a ser injustiçados, tendem a projetar este aspeto no mundo, vendo
opressores por toda a parte. Desta forma, muitas vezes tornam-se líderes dos
que se sentem descontentes e oprimidos. No caso de alcançarem o poder,
tornam-se bastante perversos e vingativos, acabando por descarregar os seus
ressentimentos em várias vítimas. De modo geral, apresentam um ar de
arrogância; estão acima dos outros, mesmo que ninguém o reconheça andam com a
cabeça por vezes excessivamente levantada; exibem com frequência um sorriso
ligeiramente afetado ou um olhar de desprezo. A medida que envelhecem, tendem a
embrenhar-se em discussões mesquinhas, incapazes de conter por completo os seus
ressentimentos, acumulados ao longo do tempo. A sua atitude amarga afasta
muitas pessoas, e por isso acabam por conviver apenas com indivíduos que tenham
a mesma atitude, numa forma particular de comunidade.
Se detetar uma tendência para o
ressentimento na sua pessoa, o melhor antídoto reside em aprender a libertar-se
das mágoas e das deceções da vida. É preferível explodir na raiva do momento,
ainda que irracional, do que ficar a matutar em desconsiderações que
provavelmente imaginou ou exagerou. As pessoas normalmente são indiferentes ao
seu destino, não tão antagónicas como imagina. Muito poucas das suas ações se
dirigem realmente a si. Pare de encarar tudo de forma pessoal. O respeito é algo
que deve ser merecido através de conquistas, não algo que lhe é concedido
simplesmente pelo facto de ser humano. Quebre o ciclo do ressentimento
tornando-se mais generoso para com as pessoas e para com a natureza humana.
Ao lidar com indivíduos deste tipo,
deverá ter um extremo cuidado. Embora possam sorrir e parecer agradáveis, estão
na verdade a estudá-lo em busca de um possível insulto. Pode reconhecê-los pela
sua história de batalhas anteriores e súbitas ruturas com as pessoas, bem como
pela facilidade com que julgam os outros. Poderá tentar recuperar lentamente a
confiança e reduzir as suas suspeitas, mas tenha consciência de que, quanto
mais tempo passar com eles, mais irá alimentar a sua necessidade de terem algo
com que se ofender, e a sua resposta pode ser bastante perversa. E preferível
evitar este tipo, se possível.
A
atitude expansiva (positiva)
Há cerca de cinquenta anos, muitos
especialistas em medicina começaram a pensar na saúde de uma forma nova e
revolucionária. Em vez de se concentrarem em problemas específicos, como a
digestão, achaques de pele ou o estado do coração, decidiram que era muito
melhor olhar para o corpo humano como um todo. Se as pessoas melhorassem a sua
dieta alimentar e os seus hábitos de exercício físico, isso teria um efeito
benéfico em todos os seus órgãos, porque o corpo é um todo interligado.
Agora parece-nos óbvio, mas esta
forma de pensar em termos orgânicos também tem grande utilidade na nossa saúde
psicológica. Agora, mais do que nunca, as pessoas concentram-se em problemas
específicos — na sua depressão, na sua falta de motivação, nas suas inaptidões
sociais, no seu tédio. Mas aquilo que rege todos estes problemas aparentemente
separados é a nossa atitude, o modo como encaramos o mundo diariamente. E a
forma como vemos e interpretamos os acontecimentos. Melhore a atitude a nível
geral, e tudo o resto também irá sofrer uma melhoria as competências criativas,
a capacidade de lidar com o stresse, os níveis de confiança, os relacionamentos
com as pessoas. Foi uma ideia defendida pela primeira vez nos anos noventa do
século XIX, pelo grande psicólogo norte americano William James, mas continua a
ser uma revolução à espera de acontecer.
Uma atitude redutora e negativa
limita a riqueza da vida prejudicando as capas cidades criativas, a sensação de
realização, os prazeres sociais e as energias vitais, Não desperdice nem mais
um dia nestas condições. O seu objetivo deverá ser libertar-se, expandir aquilo
que vê e as suas experiências. Pretenderá abrir a lente na sua amplitude máxima.
Eis algumas orientações que lhe permitirão fazê-lo.
Como encarar o mundo: Veja-se a si mesmo como um
explorador. Com o dom da consciência, encontra-se perante um universo vasto e
desconhecido que os seres humanos só agora começam a investigar. A maior parte
das pessoas prefere agarrar-se a certas ideias e princípios, muitos deles
adotados muito cedo na vida. Têm secretamente medo do que não é familiar e
seguro. Substituem curiosidade por convicção. Quando chegam à casa dos trinta,
agem como se já soubessem tudo o que precisam de saber. Na sua qualidade de
explorador, deite todas essas incertezas para trás das costas. Procure novas
ideias e formas de pensar, permanentemente. Não há limites para as deambulações
da sua mente, e não deverá ficar preocupado se parecer subitamente incoerente
ou se desenvolver ideias que contradigam diretamente aquilo em que acreditava
há alguns meses. As ideias são coisas com que se pode brincar. Se nos
agarrarmos demasiado a elas, tornam-se inanimadas. Neste momento, irá regressar
ao espírito e à curiosidade infantis, ao ponto da sua vida em que ainda não
possuía ego e em que estar certo não era mais importante do que relacionar-se
com o mundo. Explore todas as formas de conhecimento, de todas as culturas e
períodos temporais. Deixe-se desafiar.
Ao abrir a mente desta maneira,
libertará capacidades criativas não realizadas e permitirá a si mesmo um grande
prazer intelectual. Como parte do processo mantenha-se aberto a explorar as
visões que lhe chegam do inconsciente, tal como se revelam nos sonhos, em
momentos de cansaço e nos desejos reprimidos que se manifestam em determinados
momentos. Não tem nada a recear ou a recalcar nesse campo. O inconsciente é
apenas mais um reino que pode explorar livremente,
Como encarar a adversidade: A sua vida implica inevitavelmente
obstáculos frustrações, sofrimento e separações. A forma como acabamos por
lidar com esses momentos nos nossos primeiros anos de vida desempenha um papel
fundamental no desenvolvimento da atitude geral perante a vida. Para muitas
pessoas, esses momentos difíceis inspiram-nas a limitar o que veem e
experienciam. Passam pela vida a tentar evitar qualquer tipo de adversidade,
mesmo que isso signifique nunca se desafiarem realmente ou terem grande sucesso
profissional. Em vez de aprenderem com as experiências negativas, querem
reprimi-las. O seu objetivo será avançar no sentido contrário, abraçar todos os
obstáculos como experiências de aprendizagem, como formas de se tornar mais
forte. Desta forma, aceite a vida em si.
Em 1946, Malcolm Little (mais tarde
conhecido como Malcolm X), com vinte anos de idade, começou a cumprir uma pena
de prisão de oito anos por furto. A prisão geralmente tinha o efeito de
endurecer o criminoso e de estreitar a sua visão já limitada do mundo. Em vez
disso, Malcolm decidiu reanalisar a sua vida. Começou a passar tempo na
biblioteca da prisão e apaixonou-se pelos livros e pela aprendizagem. Como
agora percebia, a prisão forneceu-lhe a melhor maneira possível de mudar a sua
pessoa e a sua atitude perante a vida. Com tanto tempo disponível, podia
estudar e obter um diploma. Podia desenvolver a disciplina que sempre lhe
faltara. Podia treinar-se de modo a tornar-se um orador experiente. Aceitou a
experiência sem qualquer amargura e sentiu-se mais forte do que nunca. Quando
saiu da prisão, encarava qualquer dificuldade, grande ou pequena, como forma de
se testar e de endurecer. Embora a adversidade e o sofrimento normalmente
estejam para lá do nosso controlo, temos o poder de definir a nossa resposta e
o destino que daí decorre.
A medida que envelhecemos, tendemos a Impor
limites ao ponto a que conseguimos chegar na vida. Com os anos, interiorizamos
as críticas e dúvidas dos outros. Ao aceitar o que pensamos serem os limites da
nossa inteligência e capacidades criativas, desenvolvemos uma dinâmica
autorrealizada. Aquelas tornam-se os nossos limites.
Não tem de ser tão humilde e
discreto neste mundo. Essa humildade não é uma virtude, mas um valor que as
pessoas promovem para o ajudar a limitar. Seja o que for que esteja a fazer
neste momento, é de facto capaz de muito mais, e pensá-lo, estará a originar
uma dinâmica diferente.
Não precisa de ceder a pensamentos
arrogantes, mas sentir que está destinado a algo grandioso ou importante irá dar-lhe
algum nível de resiliência quando as pessoas se lhe opuserem ou lhe resistirem.
Não interiorize as dúvidas que decorrem destes momentos. Assuma um espírito
empreendedor. Tente constantemente coisas novas, chegando a correr riscos,
confiante na sua capacidade de recuperar dos fracassos e sentindo-se destinado
ao sucesso.
O psicólogo norte-americano Abraham
Maslow chamou uma «experiência de pico». São momentos em que somos elevados da
rotina diária e pressentimos que existe algo maior e mais sublime na vida que
estamos a perder.
Como encarar a própria saúde e
energia: Embora
todos sejamos mortais e sujeitos a doenças que escapam ao nosso controlo, temos
de reconhecer o papel que a força de vontade desempenha na nossa saúde. Já
todos o sentimos de uma maneira ou de outra. Quando nos apaixonamos ou sentimos
entusiasmados com o trabalho, subitamente temos mais energia e recuperamos mais
depressa de quaisquer doenças. Quando estamos deprimidos ou anormalmente
stressados, tornamo-nos vítimas de todo o tipo de achaques. A atitude
desempenha um papel fundamental na saúde, um papel que a ciência começou a
explorar e que irá analisar de forma mais profunda nas décadas futuras. De modo
geral, pode, em segurança, forçar-se a ir além daquilo que pensa serem os seus limites
ao sentir-se empolgado e desafiado por um projeto ou iniciativa. O tempo passa,
e as pessoas envelhecem prematuramente se aceitarem limites físicos ao que
conseguem fazer, entrando num ciclo autorrealizado. Quem envelhece bem continua
a realizar atividade física, ajustando-a apenas moderadamente. Há fontes de
energia e de saúde a que ainda não acedeu.
Como encarar as outras pessoas: Em primeiro lugar, deve tentar
livrar-se da tendência natural para aceitar aquilo que as pessoas fazem e dizem
como algo que se dirige pessoalmente a si, em particular se o que disserem ou
fizerem for desagradável. Mesmo quando o criticam ou vão contra os seus
interesses, muito frequentemente isso tem origem numa mágoa profunda e antiga
que estarão a reviver; torna-se assim o alvo conveniente de frustrações e
ressentimentos que acumularam ao longo dos anos. Estas pessoas podem estar a
projetar os seus próprios sentimentos negativos. Se conseguir vê-las desta
forma, será mais fácil não reagir, não se incomodar ou envolver numa
questiúncula mesquinha. Se a pessoa for verdadeiramente malévola, pelo facto de
não se deixar enredar emocionalmente, estará numa posição melhor para maquinar
a sua própria jogada. Evitará acumular mágoas e sentimentos amargos.
Encare as pessoas como factos da
natureza. Surgem em todas as variedades, como as flores ou as pedras. Há os
loucos e os santos, os sociopatas, os egotistas e os guerreiros nobres; há os
sensíveis e os insensíveis. Todas elas desempenham um papel na nossa ecologia
social. Isto não significa que não nos possamos esforçar por mudar o
comportamento prejudicial das pessoas que nos são próximas ou que se encontram
na nossa esfera de influência; mas não podemos refazer a natureza humana, e,
mesmo que o conseguíssemos, o resultado podia ser muito pior do que o que
temos. Devemos aceitar a diversidade e o facto de as pessoas serem o que são.
Serem diferentes de si não deveria ser considerado como um desafio ao nosso ego
ou autoestima, mas como algo que acolhemos e aceitamos.
A partir desta atitude mais neutra,
pode tentar compreender as pessoas com quem lida a um nível mais profundo.
Quando mais o fizer, mais tolerante tenderá a tornar-se em relação às pessoas e
à natureza humana em geral. O seu espírito aberto e generoso tornará as suas interações
sociais muito mais suaves, e as pessoas sentir-se-ão atraídas por si.
Finalmente, pense no conceito
moderno de atitude em termos do antigo conceito de alma. O conceito de alma encontra-se em
quase todas as culturas indígenas e nas civilizações pré-modernas. Referia-se
originalmente às forças espirituais que percorriam o universo e que estavam
contidas no ser humano individual sob a forma de alma. A alma não é a mente ou
o corpo, mas o espírito geral que corporizamos, a nossa forma de viver o mundo.
E o que faz de uma pessoa um indivíduo, e o conceito de alma estava relacionado
com as primeiras ideias de personalidade. De acordo com este conceito, a alma
de uma pessoa pode ter profundidade. Algumas pessoas possuíam um nível superior
desta força espiritual, tinham mais alma. Outras tinham uma personalidade que
carecia de força e eram, de alguma forma, «desalmadas», sem alma.
Este aspeto tem grande relevância
para a nossa ideia de atitude. No conceito moderno de alma, substituímos esta
força espiritual externa pela própria vida ou por aquilo que pode ser descrito
como força vital. A vida é inerentemente complexa e imprevisível, vai muito
para lá de tudo o que podemos compreender ou controlar completamente. Esta
força vital reflete-se na natureza e na sociedade humana pela notável
diversidade que encontramos nos dois reinos.
Por um lado, encontramos pessoas
cujo objetivo na vida é inibir e controlar esta força vital. Isto leva-as a
estratégias destrutivas. Têm de limitar os seus pensamentos e de permanecer
verdadeiras face a ideias que perderam relevância. Têm de limitar o que vivem.
Tudo tem a ver com elas e com as suas necessidades insignificantes e problemas
pessoais. Ficam muitas vezes obcecadas com um objetivo específico que domina
todos os seus pensamentos como fazer dinheiro ou obter atenção. Tudo isto as
deixa mortas por dentro, visto que se fecham à riqueza da vida e à variedade da
experiência humana. Desta forma, voltam-se para a ausência de alma, uma
carência interior de profundidade e flexibilidade.
O seu objetivo deverá ser sempre
avançar no sentido contrário. Redescubra a curiosidade que teve em criança.
Tudo e toda a gente podem constituir uma fonte de fascínio para si. Continue a
aprender, a alargar sempre aquilo que sabe e as suas experiências. Com as
pessoas, sinta-se generoso e tolerante, inclusive com os seus inimigos e com os
que se encontram presos na condição de desalmados. Não se escravize face à
amargura e ao rancor. Em vez de culpar os outros ou as circunstâncias, analise
o papel que a sua própria atitude e ações desempenham em qualquer fracasso.
Adapte-se às circunstâncias em vez de se queixar delas. Aceite e acolha a
incerteza e o inesperado como características preciosas da vida.