Leis da Natureza Humana por Robert Greene - Intro
Resumo alargado das Leis
da Natureza Humana por Robert Green
# 1 Lei da Irracionalidade – Domine o Eu emocional
# 2 Lei do Narcisismo - Transforme amor-próprio em
empatia
# 3 Lei da Dramatização – Veja para além das máscaras das
pessoas
# 4 Lei dos Comportamentos
Compulsivos -
Determine a força da personalidade de alguém
# 5 Lei da Cobiça - Tornar-se um objeto de desejo
esquivo
# 6 Lei da Falta de Visão – Eleve a sua perspetiva
# 7 Lei da Defensiva – Atenue a resistência das pessoas
confirmando a sua autoimagem
# 8 Lei da Autossabotagem - Mude as circunstâncias mudando a
sua atitude
# 9 Lei da Repressão – Enfrente o seu lado negro
# 10 Lei da Inveja – Vigie um ego frágil
# 11 Lei da Grandiosidade – Conheça os seus limites
# 12 Rigidez dos Géneros – Ressintonize-se com os seus
lados masculino e feminino
# 13 Lei da Futilidade – Avance com uma noção de
propósito
# 14 Lei do Conformismo – Resista à força gravítica
descendente do grupo
# 15 Lei da Volubilidade - Façam com que te queiram seguir
# 16 Lei da Agressão – Detete a hostilidade sob uma
fachada amistosa
# 17 Lei da Miopia Geracional – Aproveite o momento histórico
# 18 Lei da Negação da Morte – Medite na mortalidade do ser
humano
Introdução
Ao longo da vida, temos
inevitavelmente de lidar com uma série de pessoas que nos provocam problemas
e nos dificultam a existência, tornando-a desagradável. Algumas destas pessoas
são líderes ou chefes, outras são colegas, outras ainda amigos. Podem ser
agressivas ou passivo-agressivas, mas, de modo geral, são especialistas no que
diz respeito a brincar com as emoções. Parecem com frequência encantadoras e
maravilhosamente confiantes, a transbordar de ideias e de entusiasmo, e
deixamo-nos enfeitiçar por elas. Só quando é demasiado tarde descobrimos que a
sua confiança é irracional e as suas ideias mal concebidas. Em contexto
profissional, podem ser os colegas que nos sabotam o trabalho ou a carreira
devido a alguma inveja secreta, empolgados pelo facto de nos poderem deitar
abaixo. Serão também, porventura, funcionários da mesma empresa, que revelam,
para nosso espanto, que só pensam em si próprios, usando-nos como trampolim.
O que inevitavelmente acontece
nestas situações é sermos apanhados desprevenidos, por não estarmos à espera
desse comportamento. Com frequência, estes indivíduos irão contar-nos histórias
elaboradas para justificarem as suas ações ou usar bodes expiatórios que
estejam à mão de semear. Sabem como confundir-nos e atrair-nos para dramas que
controlam. Podemos protestar ou ficar zangados, mas acabamos por nos sentir
bastante impotentes — o mal está feito. E é então que outro destes indivíduos
entra na nossa vida, repetindo-se a história.
Notamos muitas vezes uma sensação
semelhante de confusão e impotência quando se trata da nossa pessoa ou
comportamento. Por exemplo, dizemos subitamente algo que ofende um chefe, um colega ou um
amigo — não sabemos bem de onde veio essa observação, mas sentimo-nos
frustrados por descobrir que libertámos raiva e tensão de uma forma que
lamentamos. Ou podemos insurgir-nos contra algum projeto ou esquema, para nos apercebermos
depois de que se tratou de um comportamento bastante tolo e de uma terrível
perda de tempo. É possível também que nos apaixonemos por alguém completamente
desadequado para nós, e sabemo-lo, mas não o conseguimos evitar. O que nos terá
passado pela cabeça, pensamos?
Nestas situações, damos connosco a
cair em padrões autodestrutivos de comportamento que não parecemos conseguir
controlar. E como se tivéssemos um estranho dentro de nós, um diabinho que
opera independentemente da nossa força de vontade e que nos instiga a fazer as
coisas erradas. E este estranho que vive dentro de nós é bastante esquisito ou
pelo menos mais estranho do que imaginamos ser.
O que podemos dizer acerca destes
dois aspetos - as ações feias das pessoas e o lado surpreendente do nosso
próprio comportamento, de vez em quando - é que normalmente não fazemos a menor
ideia do que os causa. Poderemos agarrar-nos a explicações simples: «Aquela
pessoa é má, um sociopata>> ou <<Foi qualquer coisa que me deu; não
estava em mim». Mas estas descrições condescendentes não levam a um
entendimento ou evitam a recorrência dos mesmos padrões. A verdade é que os
seres humanos vivem à superfície, reagindo emocionalmente àquilo que as pessoas
dizem e fazem. Formamos opiniões acerca dos outros e de nós próprios que se
afiguram bastante simplificadas. Conformamo-nos em apresentar a explicação mais
fácil e conveniente.
Mas, e se pudéssemos mergulhar
abaixo da superfície e observar profundamente o nosso interior, aproximando-nos
das verdadeiras origens do comportamento humano? E se conseguíssemos
compreender por que motivo algumas pessoas sentem inveja e tentam sabotar o
nosso trabalho ou por que razão a sua confiança excessiva e desajustada as leva
a imaginarem-se como sendo divinas e infalíveis? E se conseguíssemos
compreender verdadeiramente por que razão as pessoas se comportam subitamente
de forma irracional e revelam um lado muito mais negro da sua personalidade ou
porque estão sempre prontas a oferecer uma racionalização do seu comportamento
ou porque seguem constantemente líderes que apelam ao seu pior lado? E se
pudéssemos olhar bem fundo e avaliar o caráter humano, evitando contratar as
pessoas erradas e estabelecer relações pessoais que nos causam tantos danos
emocionais?
Se compreendêssemos realmente as
origens do comportamento humano, seria muito mais difícil os indivíduos mais
destrutivos saírem impunes das suas ações. Não seríamos tão facilmente
seduzidos e ludibriados. Seríamos
capazes de antecipar as suas manobras maldosas e manipuladoras e ver para lá
dos seus subterfúgios. Não nos permitiríamos ser arrastados para os seus
dramas, sabendo com antecedência que o nosso interesse é aquilo de que dependem
para exercer o controlo. Despojá-los-íamos, por fim, do seu poder através da
capacidade de olhar para as profundezas da sua personalidade.
Do mesmo modo, em relação a nós
próprios, que tal seria conseguirmos observarmo-nos interiormente e detetar a
fonte das nossas emoções mais perturbadoras, percebendo o motivo pelo qual
dirigem o nosso comportamento, muitas vezes contra a nossa própria vontade? E
se conseguíssemos compreender porque somos tão compelidos a desejar o que as
outras pessoas possuem ou a identificarmo-nos de tal forma com determinado
grupo que sentimos desprezo por aqueles que não lhe pertencem? E se pudéssemos
descobrir o que nos faz mentir sobre quem somos ou afastar inadvertidamente as
pessoas?
Ser capaz de compreender de forma
mais clara esse estranho que vive dentro de nós ajudar-nos-ia a tomar
consciência de que não se trata de um estranho, de todo, mas de uma parte
integrante de nós mesmos e que somos muito mais misteriosos, complexos e
interessantes do que imaginámos. Com essa consciência, seríamos capazes de
destruir os padrões negativos das nossas vidas, parar de dar desculpas a nós
próprios e alcançar um maior controlo sobre o que fazemos e o que nos acontece.
Olhar com essa clarividência para
nós próprios e para os outros poderia mudar o curso das nossas vidas de muitas
formas, mas primeiro convém esclarecer um equívoco comum: tendemos a pensar no
nosso comportamento como algo amplamente consciente e deliberado. Pensar que
nem sempre controlamos o que fazemos é uma ideia assustadora, mas é de facto a
realidade. Estamos sujeitos a forças que vêm dos nossos mais fundos recessos e
que dominam o nosso comportamento e operam fora do nível consciente. Vemos os
resultados — os nossos pensamentos, estados de espírito e ações —, mas temos
pouco acesso consciente àquilo que efetivamente mobiliza as nossas emoções e
nos compele a comportarmo-nos de determinadas maneiras.
Veja a raiva, por exemplo.
Normalmente identificamos um indivíduo ou um grupo como constituindo a causa
desta emoção. Mas, se formos sinceros e aprofundarmos um pouco a questão,
veremos que aquilo que com frequência espoleta a nossa raiva ou frustração tem
raízes mais fundas. Pode ser algo com origem na infância ou um conjunto
particular de circunstâncias a desencadear a emoção. Podemos distinguir padrões
diferentes através da observação quando acontece isto ou aquilo, ficamos
zangados. Mas, no momento em que sentimos raiva, não somos ponderados ou
racionais — limitamo-nos a ir atrás da emoção e a apontar o dedo. Poderíamos
dizer algo de semelhante sobre uma série de outras emoções que experimentamos -
tipos específicos de acontecimentos desencadeiam uma confiança súbita,
insegurança, ansiedade, atração por uma pessoa em particular ou desejo de
atenção.
Relembre-se o conjunto destas
forças que nos impelem e nos puxam, profundamente enraizadas na natureza humana.
A natureza humana tem origem na ligação particular dos cérebros, na
configuração do sistema nervoso e na forma como os seres humanos processam as
emoções, todas desenvolvidas e surgidas ao longo dos cinco milhões de anos,
aproximadamente, da nossa evolução enquanto espécie. Podemos atribuir muitos
dos pormenores da natureza humana à forma distinta como evoluímos como animal
social para garantir a sobrevivência — aprendendo a cooperar com os outros,
coordenando as ações particulares com as do grupo a um nível elevado, criando
novas formas de comunicação e modos de manter a disciplina coletiva. Este
desenvolvimento precoce vive dentro de nós e continua a determinar o nosso
comportamento, mesmo no mundo moderno em que vivemos.
Para dar um exemplo, pense na evolução
da emoção humana. A sobrevivência dos nossos mais remotos antepassados dependia
da sua capacidade de comunicarem uns com os outros muito antes da invenção da
linguagem. Desenvolveram emoções novas e complexas — alegria, vergonha,
gratidão, ciúme, ressentimento etc. As manifestações destas emoções podiam
ler-se imediatamente nos rostos, comunicando os seus estados de espírito de
forma rápida e eficaz. Tornaram-se extremamente permeáveis às emoções dos
outros como forma de ligar o grupo mais fortemente — sentir alegria ou dor como
um só — ou para permanecerem unidos face ao perigo.
Até hoje, os seres humanos
permanecem altamente suscetíveis aos estados de espírito e emoções de quem os
rodeia, os quais incitam todo o tipo de comportamento da nossa parte — imitamos
inconscientemente os outros, desejamos o que eles possuem, somos arrastados por
sentimentos virais de raiva ou de indignação. Pensamos que estamos a agir por
vontade própria, desconhecendo quão profundamente a nossa suscetibilidade às
emoções dos outros, no grupo, afeta aquilo que fazemos e a forma como
respondemos.
Podemos apontar para outras forças
deste tipo que emergiram deste passado profundo e que de modo semelhante moldam
o nosso comportamento diário — por exemplo, a necessidade permanente de nos
classificarmos e de apurarmos o nosso valor através do estatuto é um traço que
se destaca entre todas as culturas de caçadores-recolectores, e até entre os
chimpanzés, tal como os nossos instintos tribais, que nos levam a dividir as
pessoas em membros e estranhos. Podemos acrescentar a estas qualidades
primitivas a necessidade de usar máscaras para disfarçar qualquer comportamento
que seja reprovado pela tribo, conduzindo à formação de uma
personalidade-sombra derivada de todos os desejos obscuros que reprimimos. Os
nossos antepassados compreendiam esta sombra e o perigo que ela representava,
imaginando que tinha origem em espíritos e demónios que deviam ser exorcizados.
Baseamo-nos num mito diferente — «foi uma coisa que me deu».
Depois de esta corrente ou força
primeva alcançar o nível de consciência, temos de reagir à mesma, e fazemo-lo
dependendo do espírito individual e das circunstâncias, normalmente
explicando-o de forma superficial, sem realmente o compreendermos. Precisamente
devido à forma como evoluímos, existe um número limitado destas forças da
natureza humana, as quais conduzem ao comportamento mencionado — inveja,
arrogância, irracionalidade, tacanhez, conformismo, agressão e agressão
passiva, para referir alguns deles apenas. Também conduzem à empatia e a outras
formas positivas de comportamento humano.
Ao longo de milhares de anos, tem
sido o nosso destino basicamente tatear por entre as sombras quando se trata de
nos compreendermos a nós e à nossa natureza. Agimos com base em inúmeras
ilusões acerca do animal humano imaginando que descendíamos magicamente de uma
fonte divina, de anjos, não de primatas. Achámos todos os sinais da nossa
natureza primitiva e das nossas origens animais profundamente perturbadoras,
algo a rejeitar e a reprimir. Escondemos os nossos impulsos mais obscuros com
todo o tipo de desculpas e racionalizações, tornando mais fácil para algumas
pessoas saírem impunes com o comportamento mais desagradável. Mas
encontramo-nos finalmente num ponto em que podemos ultrapassar a resistência à
verdade acerca de quem somos simplesmente através do volume de conhecimentos
acumulados sobre a natureza humana.
Podemos explorar a vasta literatura
sobre psicologia reunida ao longo dos últimos cem anos, incluindo estudos
pormenorizados sobre a infância e o impacto do nosso desenvolvimento precoce
(Melanie Klein, John Bowlby, Donald Winnicott), bem como obras sobre as origens
do narcisismo (Heinz Kohut), os lados negros da nossa personalidade (Carl
Jung), as origens da empatia (Simon Baron-Cohen) e a configuração das emoções
(Paul Ekman). Podemos agora escolher por entre os muitos avanços científicos
que nos podem ajudar a compreendermo-nos a nós mesmos — estudos acerca do
cérebro (António Damásio, Joseph E. LeDoux), da nossa configuração biológica
única (Edward O, Wilson), da relação entre corpo e mente (V. S. Ramachandran),
dos primatas (Frans de Waal) e dos caçadores-recoletores (Jared Diamond), do
nosso comportamento económico (Daniel Kahneman) e da forma como operamos em
grupos (Wilfred Bion, Elliot Aronson).
Também podemos incluir neste rol as
obras de alguns filósofos (Arthur Schopenhauer, Friedrich Nietzsche, José
Ortega y Gasset) que iluminaram muitos aspetos da natureza humana, bem como as
perspetivas de vários romancistas (George Eliot, Henry James, Ralph Ellison),
que muitas vezes constituem as partes mais sensíveis do nosso comportamento. E,
por fim, podemos incluir a biblioteca em rápida expansão de biografias agora
disponível, as quais revelam a natureza humana em profundidade e em ação.
Esta compilação é uma tentativa de
reunir este imenso acervo de conhecimento e de ideias de diferentes ramos, de
apresentar um guia rigoroso e instrutivo acerca da natureza humana, com base em
evidências, não em perspetivas particulares ou juízos morais. É uma análise
brutalmente realista da nossa espécie, que disseca quem somos para que possamos
agir com mais consciência.
Considere As Leis da Natureza
Humana uma espécie de manual para decifrar o comportamento das pessoas — comum,
estranho, destrutivo, tudo o que quiser. Cada capítulo aborda um aspeto ou lei
particular da natureza humana. Podemos chamar-lhes leis, na medida em que, sob
a influência destas forças elementares, os seres humanos tendem a reagir de
formas relativamente previsíveis. Cada capítulo apresenta a história de um
indivíduo ou de indivíduos icónicos que ilustram essa lei (de forma negativa ou
positiva), bem como ideias e estratégias sobre como lidar consigo próprio e com
os outros sob a influência da mesma. Todos os capítulos terminam com uma secção
sobre como transformar esta força humana básica em algo mais positivo e
produtivo, de modo que possamos deixar de ser escravos passivos da natureza
humana para a transformarmos ativamente.
Poderá ser tentado a pensar que
este conhecimento é um pouco antiquado. Afinal, pode argumentar, hoje somos
muito sofisticados e tecnologicamente avançados, muito progressistas e
iluminados; ultrapassámos amplamente as nossas origens primitivas; estamos a
reescrever a nossa natureza. Mas a verdade é de facto o contrário: nunca
estivemos tão prisioneiros da natureza humana e do seu potencial destrutivo
como agora. E, ao ignorarmos este facto, estamos a brincar com o fogo.
Note que os meios de comunicação
social mais não fizeram que realçar a permeabilidade às emoções, na medida em
que os seus efeitos virais nos arrastam de forma permanente e que os seus
líderes mais manipuladores conseguem explorar-nos e controlar-nos. Repare na
agressão que se exibe agora no mundo virtual, em que é muito mais fácil revelar
a nossa face obscura sem sofrer as consequências. Veja como a nossa propensão
para nos compararmos com os outros, para sentirmos inveja e para procurarmos
estatuto através da atenção apenas se intensificaram com a capacidade de
comunicar muito rapidamente com um grande número de pessoas. E, por fim,
observe as tendências tribais da humanidade e como encontraram o registo
perfeito para se manifestar — podemos encontrar um grupo com que nos
identifiquemos, reforçar as nossas opiniões tribais numa sala de ressonâncias
virtuais e diabolizar os estranhos, conduzindo a uma intimidação coletiva. Não
fizemos mais do que aumentar o potencial para o caos que decorre do lado
primitivo da nossa natureza.
É simples: a natureza humana é mais
forte do que qualquer indivíduo, do que qualquer instituição ou invenção
tecnológica. Acaba por moldar aquilo que criamos de modo a refletir-se a si e
às suas origens primitivas. Mobiliza-nos como se fossemos peões.
Ignorar estas leis é um risco.
Recusar aceitar a natureza humana significa apenas que se está a condenar a
padrões que ultrapassam o seu controlo e a uma impressão de perplexidade e
impotência.
O livro foi concebido para que
possa mergulhar em todos os aspetos do comportamento humano e elucidar as suas
causas profundas. Se deixar que este livro o guie, ele irá alterar de forma
radical o modo como perceciona as pessoas e a sua abordagem, ao lidar com elas.
Também irá mudar radicalmente o modo como se encara a si próprio. Irei
acompanhar estes desvios de perspetiva das seguintes formas:
Em primeiro lugar,
as leis irão funcionar no sentido de o tornar um observador mais calmo e
estratégico dos outros indivíduos, ajudando-o a libertá-lo de todo o drama
emocional que o deixa desnecessariamente esgotado.
Estar com pessoas provoca-nos
ansiedade e insegurança no que diz respeito à forma como os outros nos
percecionam. Quando sentimos esse tipo de emoções, torna-se muito difícil
observar as pessoas, visto que somos arrastados pelos nossos próprios
sentimentos, avaliando o que os outros dizem e fazem em termos pessoais —
gostam ou não gostam de mim? Estas leis irão ajudá-lo a evitar cair nesta
armadilha, revelando que as pessoas normalmente lidam com emoções e problemas
que tem raízes profundas. Experimentam desejos e deceções que nos por vezes
antecedem em anos e décadas. Cruzamo-nos com elas num determinado momento e
tornamo-nos alvos convenientes para a sua raiva e frustração. As pessoas
projetam em nós características que desejam ver refletidas. Em muitos casos,
não se relacionam connosco como indivíduos.
Este fenómeno não nos deveria
perturbar, mas libertar. Este livro ensina-o a deixar de levar a peito os
comentários insinuantes das outras pessoas, as suas demonstrações de frieza ou
momentos de irritação. Quanto mais se agarrar a esta ideia, mais fácil será
reagir, não com emoções, mas com o desejo de compreender onde o seu
comportamento poderá ter origem. Entretanto, irá sentir-se muito mais calmo. E,
à medida que este procedimento se enraizar em si, tenderá muito menos a
moralizar e a julgar as pessoas; em vez disso irá aceitá-las a elas e às suas
falhas como parte da natureza humana. As pessoas irão gostar mais de si quando
sentirem esta atitude de tolerância da sua parte.
Em segundo, estas leis irão transformá-lo num
mestre da interpretação de sinais que as pessoas estão constantemente a
transmitir, concedendo-lhe muito mais capacidade d avaliar o seu caráter.
Normalmente, quando prestamos
atenção ao comportamento das pessoas temos muita pressa em enquadrar as suas
ações em categorias e tiramos conclusões muito rapidamente, por isso
satisfazemo-nos com o juízo de valor que se adequa aos nossos próprios
preconceitos. Ou, então, aceitamos as suas explicações egoístas. Estas leis
irão libertá-lo deste hábito, deixando claro quão fácil é interpretar
erradamente as pessoas e como as primeiras impressões podem ser enganadoras.
Irá conter a retirada de conclusões, desconfiar do seu julgamento inicial e, em
vez disso, treinar-se a analisar aquilo que vê.
Irá pensar em termos de opostos —
quando as pessoas apresentam abertamente algum traço de personalidade, como
confiança ou hipermasculinidade, escondem com frequência a realidade contrária.
Irá aperceber-se de que os seres humanos estão permanentemente a representar
papéis perante um público, exibindo-se como progressistas e santos, quando só
desejam esconder melhor o seu lado sombrio. Verá os sinais desta sombra a
transparecer na vida de todos os dias.
Se as pessoas assumem uma ação que
parece não se adequar à sua personalidade, tome nota disso: muitas vezes, o que
aparece como desadequado numa determinada personalidade corresponde, na
verdade, ao verdadeiro temperamento. Se as pessoas forem essencialmente
preguiçosas ou tolas, deixam pistas em certos pormenores, as quais se podem
detetar muito antes de o seu comportamento nos prejudicar. A capacidade de
medir o verdadeiro valor das pessoas, o seu nível de lealdade e de consciência,
é uma das competências mais importantes que pode possuir, ajudando-o a evitar
contratações e parcerias indevidas e relacionamentos que podem fazer-lhe a vida
um inferno.
Em terceiro lugar, estas leis irão capacitá-lo para
continuar e para se libertar dos tipos tóxicos que inevitavelmente se
atravessam no seu caminho e que tendem a causar danos emocionais a longo prazo
As pessoas agressivas, invejosas e
manipuladoras normalmente não se anunciam como tal. Aprenderam a apresentar-se
nos encontros iniciais sob uma aparência encantadora, a recorrer à bajulação e
a outros meios para nos desarmar. Quando nos surpreendem com o seu
comportamento menos agradável sentimo-nos traídos, zangados e impotentes. Esses
indivíduos exercem uma pressão constante, sabendo que, ao fazê-lo, nos
sobrecarregam mentalmente com a sua presença, tornando-nos duplamente difícil
pensar de forma racional ou planear uma forma de estratégia.
Estas leis irão ensiná-lo a
identificar estes tipos humanos com antecedência, o que constitui a sua maior
defesa contra os mesmos. Ou se mantém afastado deles ou, prevendo as suas ações
manipuladoras, não se deixará ofuscar e, assim, conseguirá conservar o seu
equilíbrio emocional de modo mais eficiente. Aprenderá a reduzir mentalmente a
sua importância e a concentrar-se nas fragilidades e inseguranças gritantes que
se destacam por detrás de toda a sua algazarra. Não se deixará enganar pelo
mito que essas pessoas podem encarnar, e isso neutralizará a intimidação em que
se fundam. Rir-se-á das desculpas e explicações elaboradas que darão para o seu
comportamento egoísta. A sua capacidade de permanecer calmo irá enfurecer estes
indivíduos e muitas vezes obrigá-los a passar dos limites ou a cometer erros.
Em vez de sair diminuído destes
encontros, poderá até acabar por os apreciar como oportunidade de aprimorar as
suas competências de autodomínio e de se tornar mais duro. Ludibriar apenas um
destes indivíduos dar-lhe-á a enorme confiança de que saberá lidar com o pior
da natureza humana.
Em quarto lugar, estas leis irão revelar-lhe os
verdadeiros estímulos para motivar e influenciar pessoas, tornando o seu
percurso de vida muito mais fácil.
Normalmente, quando as nossas
ideias ou planos são acolhidos com resistência, não podemos evitar tentar
modificar diretamente as mentes das pessoas argumentando, discursando ou
persuadindo, o que as deixa ainda mais na defensiva. Estas leis irão
mostrar-lhe que as pessoas são naturalmente teimosas e resistentes ao exercício
da influência. Deve começar por reduzir a sua resistência e nunca alimentar
inadvertidamente as suas tendências defensivas. Irá treinar-se para detetar as
suas inseguranças e para nunca as acicatar inadvertidamente. Pensará em termos
do interesse próprio e da autoestima que essas pessoas possuem e que precisam
de ver reconhecidos.
Ao compreender a permeabilidade das
emoções, aprenderá que as formas mais eficazes de influência consistem em
alterar os seus estados de espírito e a sua atitude. As pessoas respondem mais
à sua energia e comportamento do que às suas palavras. Libertar-se-á de
qualquer atitude defensiva. Em vez disso, sentir-se relaxado e genuinamente
interessado na outra pessoa terá um efeito positivo e hipnótico. Aprenderá que,
como líder, a melhor maneira de fazer que as pessoas o sigam reside em definir
o tom certo através da sua atitude, empatia e ética profissional.
Em quinto lugar,
estas Leis irão fazê-lo perceber quão profundamente as forças da natureza
humana operam dentro de si, dando-lhe a capacidade de alterar os seus próprios
padrões negativos.
A nossa resposta natural quando
lemos ou ouvimos falar das facetas mais negras da natureza humana é
excluirmo-nos. É sempre a outra pessoa que é narcisista, irracional, invejosa,
arrogante, agressiva ou passiva-agressiva. Vemo-nos quase sempre como tendo as
melhores intenções. Se nos desviámos do caminho foi por causa das
circunstâncias ou das pessoas que nos obrigaram a reagir de forma negativa.
Estas leis irão permitir interromper de uma vez por todas este processo de
autoilusão. Somos todos farinha do mesmo saco, e todos partilhamos as mesmas
tendências. Quanto mais depressa nos apercebermos disto, maior será a nossa
capacidade de ultrapassar estes potenciais traços negativos. Analisará os seus
condicionantes pessoais, olhará para a sua sombra e tomará consciência das suas
tendências passivo-agressivas. Este procedimento tornará muito mais fácil
detetar esses traços nos outros.
Também se tornará mais humilde, ao
aperceber-se de que não é superior aos outros, como imaginou. Isto não o irá
fazer sentir-se culpado ou reduzido pela sua autoconsciência, mas precisamente
o contrário. Aceitar-se-á como um indivíduo completo, abraçando tanto o bom
como o mau, libertando-se da sua autoimagem falsificada de santo. Sentir-se-á
liberto das suas hipocrisias e pronto a ser mais genuíno. As pessoas serão
atraídas por esta sua qualidade.
Em sexto lugar,
estas leis irão transformá-lo num indivíduo mais empático, capaz de criar laços
mais profundos e mais satisfatórios com as pessoas que o rodeiam.
Os seres humanos nasceram com um
enorme potencial para compreender as pessoas a um nível que não é apenas
intelectual. E uma capacidade desenvolvida pelos nossos mais remotos
antepassados, com a qual aprenderam a intuir os estados de espírito e
sentimentos dos outros, pondo-se no seu lugar.
Estas leis irão mostrar-lhe como
pode destacar esta capacidade latente ao mais alto nível. Aprenderá a
interromper o seu incessante monólogo interior e a prestar mais atenção.
Treinar-se-á a assumir da melhor maneira possível o ponto de vista do outro. E
usará a sua imaginação e experiências de modo a sentir o que ele poderia sentir.
Se essa pessoa estiver a descrever algo doloroso, terá os seus próprios
momentos de dor para estabelecer analogias. Não será apenas intuitivo, mas, em
vez disso, analisará a informação que colhe desta forma empática, ganhando
perspetiva. Alternará entre empatia e análise, atualizando permanentemente
aquilo que observa e aumentando a sua capacidade de ver o mundo através de
olhos alheios. Sentirá uma ligação entre si e os outros emergir através desta
prática.
Irá precisar de alguma humildade
neste processo. Nunca saberá o que as pessoas estão a pensar e pode cometer
erros facilmente, por isso não deve apressar-se a fazer juízos de valor, mas
manter-se aberto as mais conhecimento. As pessoas são mais complexas do que
imagina. O seu propósito reside apenas em perceber melhor o seu ponto de vista.
E, à medida que avançar neste processo, essa capacidade transformar-se-á num
músculo que se torna mais forte à medida que o exercita.
Cultivar este tipo de empatia terá
muitos benefícios. Todos estamos obcecados com nós próprios, fechados nos
nossos mundos. E uma experiência terapêutica e libertadora descentrarmo-nos e
mergulharmos no mundo dos outros. E isso que nos atrai nos filmes e em qualquer
outra forma de ficção, entrarmos nas mentes e nas perspetivas de pessoas muito
diferentes de nós próprios. Através desta prática, toda a sua forma de pensar
irá mudar. Estará a treinar-se para se libertar dos preconceitos, para estar
desperto na altura e para ajustar constantemente as suas ideias sobre as
pessoas. Irá perceber que essa fluidez afeta a forma como enfrenta os problemas
em geral — descobrir-se-á a considerar outras possibilidades, a assumir visões
alternativas. Esta é a essência do pensamento criativo.
Finalmente, estas leis alteram o modo como
encara o seu potencial, tornando-o consciente de um eu superior e ideal que
existe dentro de si e que vai desejar trazer à luz.
Podemos dizer que os seres humanos
têm dois seres contraditórios dentro de si — um inferior e um superior. O
inferior tende a ser mais forte. Os seus impulsos puxam-nos para reações
emocionais e posturas defensivas, fazendo-nos sentir sobranceiros e superiores
aos outros. Fazem-nos agarrar aos prazeres e distrações imediatos, seguindo
sempre o caminho que ofereça menor resistência. Induz-nos a adotar aquilo que
outras pessoas estão a pensar, perdendo-nos no grupo.
Sentimos os impulsos do eu superior
quando somos arrastados para fora de nós, desejando ligar-nos mais
profundamente aos outros, para concentrar a mente no trabalho, para pensar em
vez de reagir, para seguir o nosso caminho na vida e para descobrir o que nos
torna únicos. O eu inferior é o lado mais animal e reativo da nossa natureza,
aquele para o qual resvalamos facilmente. O superior é o lado mais
essencialmente humano da nossa natureza, o lado que nos torna mais ponderados e
autoconscientes. Visto que o impulso superior é mais fraco, sintonizarmo-nos
com ele exige esforço e visão.
Revelar este ser ideal que existe
dentro de nós é aquilo que realmente desejamos, porque é apenas desenvolvendo
esta faceta que os seres humanos se sentem verdadeiramente realizados. Este
livro irá ajudá-lo a alcançar esta proeza tornando-o consciente dos elementos
potencialmente positivos e ativos contidos em cada lei.
Conhecendo a sua propensão para a
irracionalidade, irá aprender a tornar-se consciente do modo como as suas
emoções tingem a sua forma de pensar dando-lhe a capacidade de se subtrair a
elas e de se tornar verdadeiramente racional. Sabendo que a nossa atitude na
vida se projeta naquilo que nos acontece e quão naturalmente as nossas mentes
tendem a fechar-se de medo, irá aprender a desenvolver uma atitude expansiva e
destemida. Sabendo que tem propensão para se comparar com os outros, irá usar
este aspeto como estímulo para se destacar na sociedade através de uma
atividade superior, para admirar aqueles que realizam grandes feitos e para ser
inspirado pelo seu exemplo de modo a conseguir emulá-los. Irá operar este passe
de mágica em cada uma das qualidades primordiais, usando o seu conhecimento
alargado da natureza humana de maneira a resistir à forte atração da nossa natureza
inferior.
Pense neste livro da seguinte
forma: está prestes a tornar-se um aprendiz da natureza humana. Irá desenvolver
algumas competências — como observar e avaliar a personalidade dos outros seres
humanos e ver-se a si mesmo, profundamente. Irá trabalhar no sentido de revelar
o seu eu superior. E, com a prática, transformar-se-á num mestre nessa arte,
capaz de contrariar tudo aquilo que de pior as outras pessoas lhe conseguirem
fazer e de se moldar num indivíduo mais racional, autoconsciente e produtivo.
“O homem só se tornará melhor quando lhe conseguirem fazer ver como é.” - Anton
Tchekhov