Leis da Natureza Humana por Robert Greene - Intro





Resumo alargado das Leis da Natureza Humana por Robert Green

 

# 1 Lei da Irracionalidade – Domine o Eu emocional

# 2 Lei do Narcisismo - Transforme amor-próprio em empatia

# 3 Lei da Dramatização – Veja para além das máscaras das pessoas

# 4 Lei dos Comportamentos Compulsivos - Determine a força da personalidade de alguém

# 5 Lei da Cobiça - Tornar-se um objeto de desejo esquivo

# 6 Lei da Falta de Visão – Eleve a sua perspetiva

# 7 Lei da Defensiva – Atenue a resistência das pessoas confirmando a sua autoimagem

# 8 Lei da Autossabotagem - Mude as circunstâncias mudando a sua atitude

# 9 Lei da Repressão – Enfrente o seu lado negro

# 10 Lei da Inveja – Vigie um ego frágil

# 11 Lei da Grandiosidade – Conheça os seus limites

# 12 Rigidez dos Géneros – Ressintonize-se com os seus lados masculino e feminino

# 13 Lei da Futilidade – Avance com uma noção de propósito

# 14 Lei do Conformismo – Resista à força gravítica descendente do grupo

# 15 Lei da Volubilidade - Façam com que te queiram seguir

# 16 Lei da Agressão – Detete a hostilidade sob uma fachada amistosa

# 17 Lei da Miopia Geracional – Aproveite o momento histórico

# 18 Lei da Negação da Morte – Medite na mortalidade do ser humano

 

 

Introdução

 

Ao longo da vida, temos inevitavelmente de lidar com uma série de pessoas que nos provocam problemas e nos dificultam a existência, tornando-a desagradável. Algumas destas pessoas são líderes ou chefes, outras são colegas, outras ainda amigos. Podem ser agressivas ou passivo-agressivas, mas, de modo geral, são especialistas no que diz respeito a brincar com as emoções. Parecem com frequência encantadoras e maravilhosamente confiantes, a transbordar de ideias e de entusiasmo, e deixamo-nos enfeitiçar por elas. Só quando é demasiado tarde descobrimos que a sua confiança é irracional e as suas ideias mal concebidas. Em contexto profissional, podem ser os colegas que nos sabotam o trabalho ou a carreira devido a alguma inveja secreta, empolgados pelo facto de nos poderem deitar abaixo. Serão também, porventura, funcionários da mesma empresa, que revelam, para nosso espanto, que só pensam em si próprios, usando-nos como trampolim.

O que inevitavelmente acontece nestas situações é sermos apanhados desprevenidos, por não estarmos à espera desse comportamento. Com frequência, estes indivíduos irão contar-nos histórias elaboradas para justificarem as suas ações ou usar bodes expiatórios que estejam à mão de semear. Sabem como confundir-nos e atrair-nos para dramas que controlam. Podemos protestar ou ficar zangados, mas acabamos por nos sentir bastante impotentes — o mal está feito. E é então que outro destes indivíduos entra na nossa vida, repetindo-se a história.

Notamos muitas vezes uma sensação semelhante de confusão e impotência quando se trata da nossa pessoa ou comportamento. Por exemplo, dizemos subitamente   algo que ofende um chefe, um colega ou um amigo — não sabemos bem de onde veio essa observação, mas sentimo-nos frustrados por descobrir que libertámos raiva e tensão de uma forma que lamentamos. Ou podemos insurgir-nos contra algum projeto ou esquema, para nos apercebermos depois de que se tratou de um comportamento bastante tolo e de uma terrível perda de tempo. É possível também que nos apaixonemos por alguém completamente desadequado para nós, e sabemo-lo, mas não o conseguimos evitar. O que nos terá passado pela cabeça, pensamos?

Nestas situações, damos connosco a cair em padrões autodestrutivos de comportamento que não parecemos conseguir controlar. E como se tivéssemos um estranho dentro de nós, um diabinho que opera independentemente da nossa força de vontade e que nos instiga a fazer as coisas erradas. E este estranho que vive dentro de nós é bastante esquisito ou pelo menos mais estranho do que imaginamos ser.

O que podemos dizer acerca destes dois aspetos - as ações feias das pessoas e o lado surpreendente do nosso próprio comportamento, de vez em quando - é que normalmente não fazemos a menor ideia do que os causa. Poderemos agarrar-nos a explicações simples: «Aquela pessoa é má, um sociopata>> ou <<Foi qualquer coisa que me deu; não estava em mim». Mas estas descrições condescendentes não levam a um entendimento ou evitam a recorrência dos mesmos padrões. A verdade é que os seres humanos vivem à superfície, reagindo emocionalmente àquilo que as pessoas dizem e fazem. Formamos opiniões acerca dos outros e de nós próprios que se afiguram bastante simplificadas. Conformamo-nos em apresentar a explicação mais fácil e conveniente.

Mas, e se pudéssemos mergulhar abaixo da superfície e observar profundamente o nosso interior, aproximando-nos das verdadeiras origens do comportamento humano? E se conseguíssemos compreender por que motivo algumas pessoas sentem inveja e tentam sabotar o nosso trabalho ou por que razão a sua confiança excessiva e desajustada as leva a imaginarem-se como sendo divinas e infalíveis? E se conseguíssemos compreender verdadeiramente por que razão as pessoas se comportam subitamente de forma irracional e revelam um lado muito mais negro da sua personalidade ou porque estão sempre prontas a oferecer uma racionalização do seu comportamento ou porque seguem constantemente líderes que apelam ao seu pior lado? E se pudéssemos olhar bem fundo e avaliar o caráter humano, evitando contratar as pessoas erradas e estabelecer relações pessoais que nos causam tantos danos emocionais?

Se compreendêssemos realmente as origens do comportamento humano, seria muito mais difícil os indivíduos mais destrutivos saírem impunes das suas ações. Não seríamos tão facilmente seduzidos e ludibriados.  Seríamos capazes de antecipar as suas manobras maldosas e manipuladoras e ver para lá dos seus subterfúgios. Não nos permitiríamos ser arrastados para os seus dramas, sabendo com antecedência que o nosso interesse é aquilo de que dependem para exercer o controlo. Despojá-los-íamos, por fim, do seu poder através da capacidade de olhar para as profundezas da sua personalidade.

Do mesmo modo, em relação a nós próprios, que tal seria conseguirmos observarmo-nos interiormente e detetar a fonte das nossas emoções mais perturbadoras, percebendo o motivo pelo qual dirigem o nosso comportamento, muitas vezes contra a nossa própria vontade? E se conseguíssemos compreender porque somos tão compelidos a desejar o que as outras pessoas possuem ou a identificarmo-nos de tal forma com determinado grupo que sentimos desprezo por aqueles que não lhe pertencem? E se pudéssemos descobrir o que nos faz mentir sobre quem somos ou afastar inadvertidamente as pessoas?

Ser capaz de compreender de forma mais clara esse estranho que vive dentro de nós ajudar-nos-ia a tomar consciência de que não se trata de um estranho, de todo, mas de uma parte integrante de nós mesmos e que somos muito mais misteriosos, complexos e interessantes do que imaginámos. Com essa consciência, seríamos capazes de destruir os padrões negativos das nossas vidas, parar de dar desculpas a nós próprios e alcançar um maior controlo sobre o que fazemos e o que nos acontece.

Olhar com essa clarividência para nós próprios e para os outros poderia mudar o curso das nossas vidas de muitas formas, mas primeiro convém esclarecer um equívoco comum: tendemos a pensar no nosso comportamento como algo amplamente consciente e deliberado. Pensar que nem sempre controlamos o que fazemos é uma ideia assustadora, mas é de facto a realidade. Estamos sujeitos a forças que vêm dos nossos mais fundos recessos e que dominam o nosso comportamento e operam fora do nível consciente. Vemos os resultados — os nossos pensamentos, estados de espírito e ações —, mas temos pouco acesso consciente àquilo que efetivamente mobiliza as nossas emoções e nos compele a comportarmo-nos de determinadas maneiras.

Veja a raiva, por exemplo. Normalmente identificamos um indivíduo ou um grupo como constituindo a causa desta emoção. Mas, se formos sinceros e aprofundarmos um pouco a questão, veremos que aquilo que com frequência espoleta a nossa raiva ou frustração tem raízes mais fundas. Pode ser algo com origem na infância ou um conjunto particular de circunstâncias a desencadear a emoção. Podemos distinguir padrões diferentes através da observação quando acontece isto ou aquilo, ficamos zangados. Mas, no momento em que sentimos raiva, não somos ponderados ou racionais — limitamo-nos a ir atrás da emoção e a apontar o dedo. Poderíamos dizer algo de semelhante sobre uma série de outras emoções que experimentamos - tipos específicos de acontecimentos desencadeiam uma confiança súbita, insegurança, ansiedade, atração por uma pessoa em particular ou desejo de atenção.

Relembre-se o conjunto destas forças que nos impelem e nos puxam, profundamente enraizadas na natureza humana. A natureza humana tem origem na ligação particular dos cérebros, na configuração do sistema nervoso e na forma como os seres humanos processam as emoções, todas desenvolvidas e surgidas ao longo dos cinco milhões de anos, aproximadamente, da nossa evolução enquanto espécie. Podemos atribuir muitos dos pormenores da natureza humana à forma distinta como evoluímos como animal social para garantir a sobrevivência — aprendendo a cooperar com os outros, coordenando as ações particulares com as do grupo a um nível elevado, criando novas formas de comunicação e modos de manter a disciplina coletiva. Este desenvolvimento precoce vive dentro de nós e continua a determinar o nosso comportamento, mesmo no mundo moderno em que vivemos.

Para dar um exemplo, pense na evolução da emoção humana. A sobrevivência dos nossos mais remotos antepassados dependia da sua capacidade de comunicarem uns com os outros muito antes da invenção da linguagem. Desenvolveram emoções novas e complexas — alegria, vergonha, gratidão, ciúme, ressentimento etc. As manifestações destas emoções podiam ler-se imediatamente nos rostos, comunicando os seus estados de espírito de forma rápida e eficaz. Tornaram-se extremamente permeáveis às emoções dos outros como forma de ligar o grupo mais fortemente — sentir alegria ou dor como um só — ou para permanecerem unidos face ao perigo.

Até hoje, os seres humanos permanecem altamente suscetíveis aos estados de espírito e emoções de quem os rodeia, os quais incitam todo o tipo de comportamento da nossa parte — imitamos inconscientemente os outros, desejamos o que eles possuem, somos arrastados por sentimentos virais de raiva ou de indignação. Pensamos que estamos a agir por vontade própria, desconhecendo quão profundamente a nossa suscetibilidade às emoções dos outros, no grupo, afeta aquilo que fazemos e a forma como respondemos.

Podemos apontar para outras forças deste tipo que emergiram deste passado profundo e que de modo semelhante moldam o nosso comportamento diário — por exemplo, a necessidade permanente de nos classificarmos e de apurarmos o nosso valor através do estatuto é um traço que se destaca entre todas as culturas de caçadores-recolectores, e até entre os chimpanzés, tal como os nossos instintos tribais, que nos levam a dividir as pessoas em membros e estranhos. Podemos acrescentar a estas qualidades primitivas a necessidade de usar máscaras para disfarçar qualquer comportamento que seja reprovado pela tribo, conduzindo à formação de uma personalidade-sombra derivada de todos os desejos obscuros que reprimimos. Os nossos antepassados compreendiam esta sombra e o perigo que ela representava, imaginando que tinha origem em espíritos e demónios que deviam ser exorcizados. Baseamo-nos num mito diferente — «foi uma coisa que me deu».

Depois de esta corrente ou força primeva alcançar o nível de consciência, temos de reagir à mesma, e fazemo-lo dependendo do espírito individual e das circunstâncias, normalmente explicando-o de forma superficial, sem realmente o compreendermos. Precisamente devido à forma como evoluímos, existe um número limitado destas forças da natureza humana, as quais conduzem ao comportamento mencionado — inveja, arrogância, irracionalidade, tacanhez, conformismo, agressão e agressão passiva, para referir alguns deles apenas. Também conduzem à empatia e a outras formas positivas de comportamento humano.

Ao longo de milhares de anos, tem sido o nosso destino basicamente tatear por entre as sombras quando se trata de nos compreendermos a nós e à nossa natureza. Agimos com base em inúmeras ilusões acerca do animal humano imaginando que descendíamos magicamente de uma fonte divina, de anjos, não de primatas. Achámos todos os sinais da nossa natureza primitiva e das nossas origens animais profundamente perturbadoras, algo a rejeitar e a reprimir. Escondemos os nossos impulsos mais obscuros com todo o tipo de desculpas e racionalizações, tornando mais fácil para algumas pessoas saírem impunes com o comportamento mais desagradável. Mas encontramo-nos finalmente num ponto em que podemos ultrapassar a resistência à verdade acerca de quem somos simplesmente através do volume de conhecimentos acumulados sobre a natureza humana.

Podemos explorar a vasta literatura sobre psicologia reunida ao longo dos últimos cem anos, incluindo estudos pormenorizados sobre a infância e o impacto do nosso desenvolvimento precoce (Melanie Klein, John Bowlby, Donald Winnicott), bem como obras sobre as origens do narcisismo (Heinz Kohut), os lados negros da nossa personalidade (Carl Jung), as origens da empatia (Simon Baron-Cohen) e a configuração das emoções (Paul Ekman). Podemos agora escolher por entre os muitos avanços científicos que nos podem ajudar a compreendermo-nos a nós mesmos — estudos acerca do cérebro (António Damásio, Joseph E. LeDoux), da nossa configuração biológica única (Edward O, Wilson), da relação entre corpo e mente (V. S. Ramachandran), dos primatas (Frans de Waal) e dos caçadores-recoletores (Jared Diamond), do nosso comportamento económico (Daniel Kahneman) e da forma como operamos em grupos (Wilfred Bion, Elliot Aronson).

Também podemos incluir neste rol as obras de alguns filósofos (Arthur Schopenhauer, Friedrich Nietzsche, José Ortega y Gasset) que iluminaram muitos aspetos da natureza humana, bem como as perspetivas de vários romancistas (George Eliot, Henry James, Ralph Ellison), que muitas vezes constituem as partes mais sensíveis do nosso comportamento. E, por fim, podemos incluir a biblioteca em rápida expansão de biografias agora disponível, as quais revelam a natureza humana em profundidade e em ação.

Esta compilação é uma tentativa de reunir este imenso acervo de conhecimento e de ideias de diferentes ramos, de apresentar um guia rigoroso e instrutivo acerca da natureza humana, com base em evidências, não em perspetivas particulares ou juízos morais. É uma análise brutalmente realista da nossa espécie, que disseca quem somos para que possamos agir com mais consciência.

Considere As Leis da Natureza Humana uma espécie de manual para decifrar o comportamento das pessoas — comum, estranho, destrutivo, tudo o que quiser. Cada capítulo aborda um aspeto ou lei particular da natureza humana. Podemos chamar-lhes leis, na medida em que, sob a influência destas forças elementares, os seres humanos tendem a reagir de formas relativamente previsíveis. Cada capítulo apresenta a história de um indivíduo ou de indivíduos icónicos que ilustram essa lei (de forma negativa ou positiva), bem como ideias e estratégias sobre como lidar consigo próprio e com os outros sob a influência da mesma. Todos os capítulos terminam com uma secção sobre como transformar esta força humana básica em algo mais positivo e produtivo, de modo que possamos deixar de ser escravos passivos da natureza humana para a transformarmos ativamente.

Poderá ser tentado a pensar que este conhecimento é um pouco antiquado. Afinal, pode argumentar, hoje somos muito sofisticados e tecnologicamente avançados, muito progressistas e iluminados; ultrapassámos amplamente as nossas origens primitivas; estamos a reescrever a nossa natureza. Mas a verdade é de facto o contrário: nunca estivemos tão prisioneiros da natureza humana e do seu potencial destrutivo como agora. E, ao ignorarmos este facto, estamos a brincar com o fogo.

Note que os meios de comunicação social mais não fizeram que realçar a permeabilidade às emoções, na medida em que os seus efeitos virais nos arrastam de forma permanente e que os seus líderes mais manipuladores conseguem explorar-nos e controlar-nos. Repare na agressão que se exibe agora no mundo virtual, em que é muito mais fácil revelar a nossa face obscura sem sofrer as consequências. Veja como a nossa propensão para nos compararmos com os outros, para sentirmos inveja e para procurarmos estatuto através da atenção apenas se intensificaram com a capacidade de comunicar muito rapidamente com um grande número de pessoas. E, por fim, observe as tendências tribais da humanidade e como encontraram o registo perfeito para se manifestar — podemos encontrar um grupo com que nos identifiquemos, reforçar as nossas opiniões tribais numa sala de ressonâncias virtuais e diabolizar os estranhos, conduzindo a uma intimidação coletiva. Não fizemos mais do que aumentar o potencial para o caos que decorre do lado primitivo da nossa natureza.

É simples: a natureza humana é mais forte do que qualquer indivíduo, do que qualquer instituição ou invenção tecnológica. Acaba por moldar aquilo que criamos de modo a refletir-se a si e às suas origens primitivas. Mobiliza-nos como se fossemos peões.

Ignorar estas leis é um risco. Recusar aceitar a natureza humana significa apenas que se está a condenar a padrões que ultrapassam o seu controlo e a uma impressão de perplexidade e impotência.

O livro foi concebido para que possa mergulhar em todos os aspetos do comportamento humano e elucidar as suas causas profundas. Se deixar que este livro o guie, ele irá alterar de forma radical o modo como perceciona as pessoas e a sua abordagem, ao lidar com elas. Também irá mudar radicalmente o modo como se encara a si próprio. Irei acompanhar estes desvios de perspetiva das seguintes formas:

Em primeiro lugar, as leis irão funcionar no sentido de o tornar um observador mais calmo e estratégico dos outros indivíduos, ajudando-o a libertá-lo de todo o drama emocional que o deixa desnecessariamente esgotado.

Estar com pessoas provoca-nos ansiedade e insegurança no que diz respeito à forma como os outros nos percecionam. Quando sentimos esse tipo de emoções, torna-se muito difícil observar as pessoas, visto que somos arrastados pelos nossos próprios sentimentos, avaliando o que os outros dizem e fazem em termos pessoais — gostam ou não gostam de mim? Estas leis irão ajudá-lo a evitar cair nesta armadilha, revelando que as pessoas normalmente lidam com emoções e problemas que tem raízes profundas. Experimentam desejos e deceções que nos por vezes antecedem em anos e décadas. Cruzamo-nos com elas num determinado momento e tornamo-nos alvos convenientes para a sua raiva e frustração. As pessoas projetam em nós características que desejam ver refletidas. Em muitos casos, não se relacionam connosco como indivíduos.

Este fenómeno não nos deveria perturbar, mas libertar. Este livro ensina-o a deixar de levar a peito os comentários insinuantes das outras pessoas, as suas demonstrações de frieza ou momentos de irritação. Quanto mais se agarrar a esta ideia, mais fácil será reagir, não com emoções, mas com o desejo de compreender onde o seu comportamento poderá ter origem. Entretanto, irá sentir-se muito mais calmo. E, à medida que este procedimento se enraizar em si, tenderá muito menos a moralizar e a julgar as pessoas; em vez disso irá aceitá-las a elas e às suas falhas como parte da natureza humana. As pessoas irão gostar mais de si quando sentirem esta atitude de tolerância da sua parte.

Em segundo, estas leis irão transformá-lo num mestre da interpretação de sinais que as pessoas estão constantemente a transmitir, concedendo-lhe muito mais capacidade d avaliar o seu caráter.

Normalmente, quando prestamos atenção ao comportamento das pessoas temos muita pressa em enquadrar as suas ações em categorias e tiramos conclusões muito rapidamente, por isso satisfazemo-nos com o juízo de valor que se adequa aos nossos próprios preconceitos. Ou, então, aceitamos as suas explicações egoístas. Estas leis irão libertá-lo deste hábito, deixando claro quão fácil é interpretar erradamente as pessoas e como as primeiras impressões podem ser enganadoras. Irá conter a retirada de conclusões, desconfiar do seu julgamento inicial e, em vez disso, treinar-se a analisar aquilo que vê.

Irá pensar em termos de opostos — quando as pessoas apresentam abertamente algum traço de personalidade, como confiança ou hipermasculinidade, escondem com frequência a realidade contrária. Irá aperceber-se de que os seres humanos estão permanentemente a representar papéis perante um público, exibindo-se como progressistas e santos, quando só desejam esconder melhor o seu lado sombrio. Verá os sinais desta sombra a transparecer na vida de todos os dias.

Se as pessoas assumem uma ação que parece não se adequar à sua personalidade, tome nota disso: muitas vezes, o que aparece como desadequado numa determinada personalidade corresponde, na verdade, ao verdadeiro temperamento. Se as pessoas forem essencialmente preguiçosas ou tolas, deixam pistas em certos pormenores, as quais se podem detetar muito antes de o seu comportamento nos prejudicar. A capacidade de medir o verdadeiro valor das pessoas, o seu nível de lealdade e de consciência, é uma das competências mais importantes que pode possuir, ajudando-o a evitar contratações e parcerias indevidas e relacionamentos que podem fazer-lhe a vida um inferno.

Em terceiro lugar, estas leis irão capacitá-lo para continuar e para se libertar dos tipos tóxicos que inevitavelmente se atravessam no seu caminho e que tendem a causar danos emocionais a longo prazo

As pessoas agressivas, invejosas e manipuladoras normalmente não se anunciam como tal. Aprenderam a apresentar-se nos encontros iniciais sob uma aparência encantadora, a recorrer à bajulação e a outros meios para nos desarmar. Quando nos surpreendem com o seu comportamento menos agradável sentimo-nos traídos, zangados e impotentes. Esses indivíduos exercem uma pressão constante, sabendo que, ao fazê-lo, nos sobrecarregam mentalmente com a sua presença, tornando-nos duplamente difícil pensar de forma racional ou planear uma forma de estratégia.

Estas leis irão ensiná-lo a identificar estes tipos humanos com antecedência, o que constitui a sua maior defesa contra os mesmos. Ou se mantém afastado deles ou, prevendo as suas ações manipuladoras, não se deixará ofuscar e, assim, conseguirá conservar o seu equilíbrio emocional de modo mais eficiente. Aprenderá a reduzir mentalmente a sua importância e a concentrar-se nas fragilidades e inseguranças gritantes que se destacam por detrás de toda a sua algazarra. Não se deixará enganar pelo mito que essas pessoas podem encarnar, e isso neutralizará a intimidação em que se fundam. Rir-se-á das desculpas e explicações elaboradas que darão para o seu comportamento egoísta. A sua capacidade de permanecer calmo irá enfurecer estes indivíduos e muitas vezes obrigá-los a passar dos limites ou a cometer erros.

Em vez de sair diminuído destes encontros, poderá até acabar por os apreciar como oportunidade de aprimorar as suas competências de autodomínio e de se tornar mais duro. Ludibriar apenas um destes indivíduos dar-lhe-á a enorme confiança de que saberá lidar com o pior da natureza humana.

Em quarto lugar, estas leis irão revelar-lhe os verdadeiros estímulos para motivar e influenciar pessoas, tornando o seu percurso de vida muito mais fácil.

Normalmente, quando as nossas ideias ou planos são acolhidos com resistência, não podemos evitar tentar modificar diretamente as mentes das pessoas argumentando, discursando ou persuadindo, o que as deixa ainda mais na defensiva. Estas leis irão mostrar-lhe que as pessoas são naturalmente teimosas e resistentes ao exercício da influência. Deve começar por reduzir a sua resistência e nunca alimentar inadvertidamente as suas tendências defensivas. Irá treinar-se para detetar as suas inseguranças e para nunca as acicatar inadvertidamente. Pensará em termos do interesse próprio e da autoestima que essas pessoas possuem e que precisam de ver reconhecidos.

Ao compreender a permeabilidade das emoções, aprenderá que as formas mais eficazes de influência consistem em alterar os seus estados de espírito e a sua atitude. As pessoas respondem mais à sua energia e comportamento do que às suas palavras. Libertar-se-á de qualquer atitude defensiva. Em vez disso, sentir-se relaxado e genuinamente interessado na outra pessoa terá um efeito positivo e hipnótico. Aprenderá que, como líder, a melhor maneira de fazer que as pessoas o sigam reside em definir o tom certo através da sua atitude, empatia e ética profissional.

Em quinto lugar, estas Leis irão fazê-lo perceber quão profundamente as forças da natureza humana operam dentro de si, dando-lhe a capacidade de alterar os seus próprios padrões negativos.

A nossa resposta natural quando lemos ou ouvimos falar das facetas mais negras da natureza humana é excluirmo-nos. É sempre a outra pessoa que é narcisista, irracional, invejosa, arrogante, agressiva ou passiva-agressiva. Vemo-nos quase sempre como tendo as melhores intenções. Se nos desviámos do caminho foi por causa das circunstâncias ou das pessoas que nos obrigaram a reagir de forma negativa. Estas leis irão permitir interromper de uma vez por todas este processo de autoilusão. Somos todos farinha do mesmo saco, e todos partilhamos as mesmas tendências. Quanto mais depressa nos apercebermos disto, maior será a nossa capacidade de ultrapassar estes potenciais traços negativos. Analisará os seus condicionantes pessoais, olhará para a sua sombra e tomará consciência das suas tendências passivo-agressivas. Este procedimento tornará muito mais fácil detetar esses traços nos outros.

Também se tornará mais humilde, ao aperceber-se de que não é superior aos outros, como imaginou. Isto não o irá fazer sentir-se culpado ou reduzido pela sua autoconsciência, mas precisamente o contrário. Aceitar-se-á como um indivíduo completo, abraçando tanto o bom como o mau, libertando-se da sua autoimagem falsificada de santo. Sentir-se-á liberto das suas hipocrisias e pronto a ser mais genuíno. As pessoas serão atraídas por esta sua qualidade.

Em sexto lugar, estas leis irão transformá-lo num indivíduo mais empático, capaz de criar laços mais profundos e mais satisfatórios com as pessoas que o rodeiam.

Os seres humanos nasceram com um enorme potencial para compreender as pessoas a um nível que não é apenas intelectual. E uma capacidade desenvolvida pelos nossos mais remotos antepassados, com a qual aprenderam a intuir os estados de espírito e sentimentos dos outros, pondo-se no seu lugar.

Estas leis irão mostrar-lhe como pode destacar esta capacidade latente ao mais alto nível. Aprenderá a interromper o seu incessante monólogo interior e a prestar mais atenção. Treinar-se-á a assumir da melhor maneira possível o ponto de vista do outro. E usará a sua imaginação e experiências de modo a sentir o que ele poderia sentir. Se essa pessoa estiver a descrever algo doloroso, terá os seus próprios momentos de dor para estabelecer analogias. Não será apenas intuitivo, mas, em vez disso, analisará a informação que colhe desta forma empática, ganhando perspetiva. Alternará entre empatia e análise, atualizando permanentemente aquilo que observa e aumentando a sua capacidade de ver o mundo através de olhos alheios. Sentirá uma ligação entre si e os outros emergir através desta prática.

Irá precisar de alguma humildade neste processo. Nunca saberá o que as pessoas estão a pensar e pode cometer erros facilmente, por isso não deve apressar-se a fazer juízos de valor, mas manter-se aberto as mais conhecimento. As pessoas são mais complexas do que imagina. O seu propósito reside apenas em perceber melhor o seu ponto de vista. E, à medida que avançar neste processo, essa capacidade transformar-se-á num músculo que se torna mais forte à medida que o exercita.

Cultivar este tipo de empatia terá muitos benefícios. Todos estamos obcecados com nós próprios, fechados nos nossos mundos. E uma experiência terapêutica e libertadora descentrarmo-nos e mergulharmos no mundo dos outros. E isso que nos atrai nos filmes e em qualquer outra forma de ficção, entrarmos nas mentes e nas perspetivas de pessoas muito diferentes de nós próprios. Através desta prática, toda a sua forma de pensar irá mudar. Estará a treinar-se para se libertar dos preconceitos, para estar desperto na altura e para ajustar constantemente as suas ideias sobre as pessoas. Irá perceber que essa fluidez afeta a forma como enfrenta os problemas em geral — descobrir-se-á a considerar outras possibilidades, a assumir visões alternativas. Esta é a essência do pensamento criativo.

Finalmente, estas leis alteram o modo como encara o seu potencial, tornando-o consciente de um eu superior e ideal que existe dentro de si e que vai desejar trazer à luz.

Podemos dizer que os seres humanos têm dois seres contraditórios dentro de si — um inferior e um superior. O inferior tende a ser mais forte. Os seus impulsos puxam-nos para reações emocionais e posturas defensivas, fazendo-nos sentir sobranceiros e superiores aos outros. Fazem-nos agarrar aos prazeres e distrações imediatos, seguindo sempre o caminho que ofereça menor resistência. Induz-nos a adotar aquilo que outras pessoas estão a pensar, perdendo-nos no grupo.

Sentimos os impulsos do eu superior quando somos arrastados para fora de nós, desejando ligar-nos mais profundamente aos outros, para concentrar a mente no trabalho, para pensar em vez de reagir, para seguir o nosso caminho na vida e para descobrir o que nos torna únicos. O eu inferior é o lado mais animal e reativo da nossa natureza, aquele para o qual resvalamos facilmente. O superior é o lado mais essencialmente humano da nossa natureza, o lado que nos torna mais ponderados e autoconscientes. Visto que o impulso superior é mais fraco, sintonizarmo-nos com ele exige esforço e visão.

Revelar este ser ideal que existe dentro de nós é aquilo que realmente desejamos, porque é apenas desenvolvendo esta faceta que os seres humanos se sentem verdadeiramente realizados. Este livro irá ajudá-lo a alcançar esta proeza tornando-o consciente dos elementos potencialmente positivos e ativos contidos em cada lei.

Conhecendo a sua propensão para a irracionalidade, irá aprender a tornar-se consciente do modo como as suas emoções tingem a sua forma de pensar dando-lhe a capacidade de se subtrair a elas e de se tornar verdadeiramente racional. Sabendo que a nossa atitude na vida se projeta naquilo que nos acontece e quão naturalmente as nossas mentes tendem a fechar-se de medo, irá aprender a desenvolver uma atitude expansiva e destemida. Sabendo que tem propensão para se comparar com os outros, irá usar este aspeto como estímulo para se destacar na sociedade através de uma atividade superior, para admirar aqueles que realizam grandes feitos e para ser inspirado pelo seu exemplo de modo a conseguir emulá-los. Irá operar este passe de mágica em cada uma das qualidades primordiais, usando o seu conhecimento alargado da natureza humana de maneira a resistir à forte atração da nossa natureza inferior.

Pense neste livro da seguinte forma: está prestes a tornar-se um aprendiz da natureza humana. Irá desenvolver algumas competências — como observar e avaliar a personalidade dos outros seres humanos e ver-se a si mesmo, profundamente. Irá trabalhar no sentido de revelar o seu eu superior. E, com a prática, transformar-se-á num mestre nessa arte, capaz de contrariar tudo aquilo que de pior as outras pessoas lhe conseguirem fazer e de se moldar num indivíduo mais racional, autoconsciente e produtivo.


“O homem só se tornará melhor quando lhe conseguirem fazer ver como é.” - Anton Tchekhov

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