# 11Lei da Grandiosidade - 11/18 Robert Greene
# 11 Lei da Grandiosidade – Conheça os seus Limites
Os seres humanos têm uma profunda
necessidade de pensar bem de si próprios. Se essa opinião da nossa qualidade,
grandeza e brilhantismo divergir suficientemente da realidade, tornamo-nos
arrogantes. Imaginamos a nossa superioridade. Muitas vezes uma pequena dose de
sucesso irá elevar essa grandiosidade natural a níveis ainda mais perigosos. A
nossa autoimagem tem agora de ser confirmada pelos acontecimentos. Esquecemos o
papel que a sorte pode ter desempenhado nesse sucesso ou os contributos dos
outros. Imaginamos possuir o toque de Midas. Ao perder a noção da realidade,
tomamos decisões irracionais. E por isso que o nosso sucesso muitas vezes não dura.
Procure sinais de grandiosidade acentuada em si e nos outros - uma certeza
imperiosa no resultado positivo dos seus planos; suscetibilidade excessiva ao
ser criticado; desprezo por qualquer tipo de autoridade. Contrarie a força da
grandiosidade preservando uma avaliação realista de si e dos seus limites.
Associe quaisquer sentimentos de grandeza ao seu trabalho, às suas conquistas e
aos seus contributos para a sociedade.
A ilusão de sucesso – o Caso de Michael
Eisner
Interpretação: Pode dizer-se que, a
certo ponto da sua carreira, Michael Eisner sucumbiu a uma forma de desilusão
relativamente ao poder, revelando ter um pensamento tão divorciado da realidade
que tomou decisões profissionais com consequências desastrosas. Vamos
acompanhar a evolução desta forma específica de desilusão tal como surgiu e se
apoderou da sua mente.
No início da sua carreira na ABC, o
jovem Eisner tinha uma noção sólida da realidade. Era extremamente prático.
Compreendia e explorava ao máximo os seus pontos fortes — a sua natureza
ambiciosa e competitiva, a sua intensa ética profissional, o seu faro apurado
relativamente aos gostos do americano médio quanto a entretenimento. Eisner
tinha uma mente rápida e a capacidade de incitar os outros a pensar de forma
criativa. Apoiando-se nestes pontos fortes, ascendeu rapidamente. Possuía um
elevado nível de confiança nos seus dotes, e a série de promoções que recebeu
na ABC confirmara a sua autoimagem. Podia dar-se ao luxo de ser um pouco
arrogante, porque aprendera muito na área, e as suas capacidades de programador
tinham melhorado imenso. Avançava para o topo em passo rápido, o qual alcançou
aos trinta e quatro anos, sendo nomeado diretor de programação da ABC para o
horário nobre.
Como pessoa de grandes ambições,
sentiu rapidamente que o mundo da televisão era um pouco acanhado. Havia
limites para o tipo de entretenimento que podia programar. O mundo
cinematográfico oferecia-lhe algo mais livre, maior e mais glamoroso. Era,
portanto, natural para ele aceitar a posição na Paramount. Mas aconteceu algo
na Paramount que deu início ao subtil processo de desequilíbrio da sua mente.
Como o cenário era maior e ele era diretor do estúdio, começou a receber
atenção por parte dos órgãos de comunicação social e do público. Aparecia na
capa de revistas como 0 executivo cinematográfico mais na moda de Hollywood.
Era qualitativamente diferente da atenção e satisfação decorrentes das
promoções na ABC.
Agora tinha milhões de pessoas a admirarem-no. como podiam as opiniões estar
equivocadas? Para eles, era um génio, um novo tipo de herói mudava a paisagem
do sistema dos estúdios.
Era intoxicante. Inevitavelmente,
melhorava-lhe a avaliação das suas capas cidades. Mas vinha acompanhado de um
grande perigo. O sucesso que Eisner tivera na Paramount não era totalmente
responsabilidade sua. Quando chegara ao estúdio, já havia vários filmes em
pré-produção, incluindo Febre de Sábado à Noite, que desencadeariam a
reviravolta. Barry Diller era o adversário perfeito de Eisner. Discutia
interminavelmente com ele sobre as suas ideias, obrigando Eisner a apurá-las.
Mas, inchado pela atenção que estava a receber, Eisner tinha de pensar que
merecia os aplausos recebidos apenas graças aos seus próprios esforços e por
isso eliminou naturalmente do seu sucesso elementos como o momento certo e os
contributos dos outros. Agora a sua mente estava a divorciar-se subtilmente da
realidade. Em vez de se concentrar rigorosamente no público e na forma de
entre_ ter as pessoas, começou cada vez mais a concentrar-se na sua pessoa,
acreditando no mito da sua grandeza tal como promulgada pelos outros. Imaginou
que tinha toque de Midas.
Na Disney o padrão repetiu-se e
intensificou-se. Deliciava-se com o brilho do seu espantoso sucesso na empresa,
esquecendo a inacreditável sorte que tivera ao herdar a biblioteca da Disney na
altura da explosão dos vídeos caseiros e do entretenimento em família.
Descontou o papel determinante que Wells desempenhara nesse equilíbrio. Com a
sua noção de grandeza crescente, encontrava-se perante um dilema. Tornara-se
dependente da atenção decorrente do facto de ter causado sensação, fazendo algo
importante. Não se conseguia satisfazer com o simples sucesso e com os lucros
crescentes. Tinha de alimentar o mito para o manter vivo. A Euro Disney seria a
resposta. Mostraria ao mundo que não era apenas o executivo de uma empresa, mas
um homem da Renascença.
Ao construir o parque, recusou-se a
ouvir conselheiros experientes que recomendavam situá-lo em Barcelona e que
defendiam um parque temático modesto para conter as despesas. Não prestou
atenção à cultura francesa e dirigiu tudo a partir de Burbank. Agiu movido pela
crença de que as suas capacidades como diretor de um estúdio cinematográfico
poderiam ser transferidas para parques temáticos e arquitetura. Estava
certamente a sobrestimar as suas capacidades criativas, e agora as suas
decisões profissionais revelavam um distanciamento suficiente da realidade para
se poderem classificar como delirantes. Quando este desequilíbrio mental se
instala, só pode piorar, porque regressar à terra é reconhecer que a autoimagem
anterior estava errada, e o animal humano quase nunca o fará. Em vez disso a
tendência é para culpar os outros por cada fracasso ou impasse.
Entregue, portanto, ao seu delírio,
cometeu o seu maior erro de todos - despedir Jeffrey Katzenberg. O sistema da
Disney dependia de um fluxo regular de sucessos na categoria dos filmes de
animação, o que alimentava as lojas e os parques temáticos com novas
personagens, mercadoria, atrações e meios para a publicidade. Katzenberg
desenvolvera claramente um talento para criar esses êxitos, exemplificado pelo
sucesso sem precedentes de O Rei Leão. Despedi-lo pôs toda a linha de montagem
em risco. Quem o substituiria? Certamente não Roy Disney ou o próprio Eisner.
Além disso, tinha de saber que Katzenberg levaria os seus dotes para outro
lado, o que fez quando cofundou um novo estúdio, a DreamWorks. Aí, produziu
mais filmes de animação de sucesso, em série. O novo estúdio fez subir o preço
dos animadores especializados, aumentando amplamente o custo de produzir um
filme animado e ameaçando todo o sistema de lucro da Disney. Mas, em vez de
manter pulso firme sobre esta realidade, Eisner estava mais concentrado em
competir por atenção. A ascensão de Katzenberg ameaçava a sua autoimagem
favorável, obrigando-o a sacrificar os lucros e o pragmatismo para acalmar o
ego.
A espiral descendente começara. A
aquisição da ABC, na crença de que maior é melhor, revelou o seu afastamento
progressivo da realidade. A televisão era um modelo de negócio moribundo na era
dos novos meios de comunicação social. Não foi uma decisão de negócio realista,
mas uma encenação para obter publicidade. Criara um monstro do entretenimento,
um borrão sem identidade clara. A contratação e o despedimento de Ovitz
revelaram um nível ainda maior de desilusão. As pessoas tornaram-se meros
instrumentos para Eisner usar. Ovitz era considerado o homem mais temido e
poderoso de Hollywood. Talvez Eisner tenha sido inconscientemente levado pelo
desejo de humilhar Ovitz. Se tivera o poder de obrigar Ovitz a suplicar por
migalhas, ele próprio deveria ser o homem mais poderoso de Hollywood.
Em breve todos os problemas com
origem na sua forma delirante de pensar começaram a suceder-se em cascata -os
custos cada vez mais elevados da Euro Disney, o bónus de Katzenberg, a falta de
êxitos em ambas as categorias cinematográficas, a ABC como sorvedouro
permanente de recursos, a indemnização de Ovitz. Os elementos do Conselho de
Administração já não podiam ignorar a queda do preço das ações. O despedimento
de Katzenberg e de Ovitz fez de Eisner o homem mais odiado de Hollywood, e, à
medida que a sua sorte se dissipava, todos Os seus inimigos apareceram para
acelerar a sua destruição. A sua queda do poder foi rápida e espetacular.
Compreender: A história de Michael Eisner é-lhe muito mais próxima do
que imagina. O seu destino poderia facilmente ser o seu, embora muito
provavelmente em menor escala. O motivo é simples: os seres humanos possuem uma
fragilidade que é latente em todos nós e que nos empurra para o processo
delirante sem que alguma vez tenhamos consciência da dinâmica. Essa fragilidade
tem origem nossa tendência natural para sobrestimar as nossas capacidades.
Normalmente temos uma autoimagem que é um pouco inflacionada em relação à
realidade. Temos uma necessidade profunda de nos sentimos superiores aos outros
em alguma coisa - inteligência, beleza, encanto, popularidade, bondade. Isto
pode ser algo positivo. Um nível de confiança impele-nos a aceitar desafios, a
ultrapassar os nossos supostos limites e a aprender no processo. Mas, depois de
termos conhecido o sucesso a qualquer nível - mais atenção por parte de um
indivíduo grupo, uma promoção, financiamento para um projeto -, essa confiança
tenderá a aumentar demasiado depressa e haverá uma discrepância crescente entre
a nossa autoimagem e a realidade.
Qualquer sucesso que tenhamos na
vida depende inevitavelmente de alguma sorte, do sentido de oportunidade, dos
contributos dos outros, dos professores que nos ajudaram no nosso percurso, dos
caprichos do público, em busca de algo novo. A nossa tendência é para esquecer
tudo isto e imaginar que qualquer sucesso tem origem no nosso eu superior.
Começamos por presumir que conseguimos lidar com novos desafios muito antes de
estarmos prontos. Afinal, as pessoas confirmaram a nossa grandeza com a sua
atenção, e queremos que esta nos continue a ser oferecida. Imaginamos que temos
o toque de Midas e que podemos transferir magicamente as nossas capacidades
para outra área ou campo. Sem termos noção disso, ficamos mais sintonizados com
o nosso ego e fantasias do que as pessoas para quem trabalhamos e o nosso
público. Afastamo-nos de quem nos ajuda, considerando-os ferramentas a serem
usadas. E, em quaisquer fracassos que venham a ocorrer, tendemos a culpar os
outros. O sucesso tem um poder irresistível que tende a turvar-nos a mente.
A sua missão é a seguinte: Depois de qualquer tipo de sucesso, analise as suas componentes. Procure o fator sorte, que inevitavelmente está presente, bem como o papel que as outras pessoas, incluindo mentores, desempenharam no nosso percurso favorável. Isto irá neutralizar a tendência para inflacionar as suas capacidades Lembre-se de que o sucesso vem acompanhado da satisfação, visto que a atenção se torna mais importante do que o trabalho e que se repetem velhas estratégias. Com o sucesso deverá aumentar a vigilância. Faça tábua rasa a cada novo projeto recomeçando do zero. Tente prestar menos atenção ao aplauso à medida que este se torna mais ensurdecedor. Identifique os limites do que pode alcançar e aceite-os, trabalhando com o que possui. Não acredite que maior é melhor; consolidar e concentrar as forças é muitas vezes a melhor opção. Tenha cuidado para não ser ofensivo com a sua impressão crescente de superioridade - irá precisar dos seus aliados. Compense o efeito tóxico do sucesso mantendo os pés bem assentes no chão. O poder que construirá de forma lenta e orgânica será mais leal e duradouro.
Lembre-se: os deuses são impiedosos
com aqueles que voam demasiado alto nas asas da soberba e irão obrigá-lo a
pagar o preço.
A existência apenas nunca fora
suficiente para ele; sempre desejara mais. Talvez fosse apenas pela força dos
seus desejos que se considerara um homem a quem se permitia mais do que a
outros.
-
Fiódor Dostoiévski, Crime e Castigo
Explicações
para a natureza humana
Vamos imaginar que tem um projeto para realizar ou um indivíduo ou grupo de pessoas que deseja convencer a fazer alguma coisa. Poderíamos descrever da seguinte forma uma atitude realista em relação a alcançar esses objetivos: obter o que desejamos raramente é fácil. O sucesso dependerá de muito esforço e de alguma sorte. Para que o seu projeto resulte, provavelmente precisará de se libertar da estratégia anterior — as circunstâncias estão sempre a mudar, e deve manter alguma abertura de espírito. As pessoas que está a tentar alcançar nunca respondem exatamente como poderia ter imaginado ou esperado. De facto, irão geralmente surpreendê-lo e frustrá-lo nas suas reações. Têm as suas próprias necessidades, experiências e psicologia particular, que são diferentes das suas. Para impressionar os seus alvos, terá de se concentrar neles e no seu espírito. Se não conseguir alcançar que deseja, deverá analisar cuidadosamente o que fez mal e procurar aprender com a experiência. Pode pensar no projeto ou tarefa que tem pela frente como um bloco de mármore a esculpir numa forma precisa e bela. O bloco é muito maior do que o seu próprio corpo, e o material bastante resistente, mas a tarefa não é impossível. Com o esforço, a concentração e a determinação suficientes, pode esculpi-lo lentamente até chegar à forma necessária. No entanto, deve começar com uma noção adequada de proporção — os objetivos são difíceis de atingir, as pessoas resistentes, e há limites para aquilo que pode fazer. Com uma atitude realista como esta, pode convocar a paciência necessária e passar à ação. Imagine, porém, que o seu cérebro sucumbiu a uma doença psicológica que afeta a sua perceção de tamanho e proporção. Em vez de ver a tarefa que tem pela frente como bastante avultada e o material como resistente, sob a influência desta doença, perde o bloco de mármore como sendo relativamente pequeno e maleável. Ao perder o sentido de proporção, acredita que não irá demorar muito a moldar o bloco na imagem mental que tem do produto acabado. Imagina que as pessoas que está a tentar alcançar não são naturalmente resistentes, mas bastante previsíveis. como irão responder à sua grande ideia irão adorá-la. De facto, precisam do seu trabalho mais do que o leitor precisa delas. Deveriam ser elas a procurá-lo. A ênfase não está no que tem de fazer para ser bem-sucedido, mas no que sente merecer. Pode antecipar muita atenção concedida à sua pessoa com este projeto, mas, se falhar, a culpa será de outrem, porque é dotado, a sua causa é a mais nobre e só os malévolos ou invejosos poderiam interpor-se no seu caminho.
Chamamos a esta doença psicológica
grandiosidade. A medida que sente os seus efeitos, as proporções realistas
normais são invertidas — o seu eu torna-se maior e melhor do que tudo o que o
rodeia. E a lente através da qual vemos a tarefa e as pessoas que temos de
alcançar. Não se trata apenas de narcisismo profundo, em que tudo tem de girar
à sua volta. Trata-se de se ver aumentado (sendo a origem da palavra
grandiosidade «grande» ou «grandioso»), de se ver como alguém superior e
merecedor não só de atenção, mas mesmo de adoração. Consiste na noção de não
ser apenas humano mas divino.
Pode pensar em líderes poderosos e
egotistas conhecidos do público, como aqueles que contraem esta doença, e não
estará muito enganado nessa presunção. Decerto podemos encontrar muitas pessoas
influentes, como Michael Eisner, com versões acentuadas de grandiosidade, em
que a atenção e os aplausos que recebem criam uma hipertrofia mais intensa do
eu. Mas existe uma versão menos acentuada e mais habitual da doença que é comum
a quase todas as pessoas porque é um traço enraizado na natureza humana. Tem
origem na nossa necessidade profunda de nos sentirmos importantes, amados pelas
pessoas e superiores aos outros em algum aspeto.
Raramente temos consciência da
nossa grandiosidade porque, pela sua natureza, esta altera a sua perceção da
realidade e dificulta uma avaliação correta de si mesmo. E por isso não temos
consciência dos problemas que nos pode causar neste preciso momento. A sua
grandiosidade ligeira irá levá-lo a sobrestimar as suas próprias competências e
capacidades e a subestimar os obstáculos que enfrenta. E por isso irá aceitar
tarefas que ultrapassam a sua verdadeira capacidade. Terá a certeza de que as
pessoas irão responder à sua ideia de uma forma particular e quando não o
fizerem, sentir-se-á perturbado e culpará os outros.
Pode ficar inquieto e mudar
subitamente de profissão, não se apercebendo de que a grandiosidade está na
origem dessa decisão - o seu trabalho presente não confirma a sua excelência e
superioridade porque ser verdadeiramente bom exigiria mais anos de formação e o
desenvolvimento de outras competências. É preferível desistir e ser atraído
pelas possibilidades que uma nova carreira oferece, permitindo-lhe acalentar
fantasias de grandeza. Desta forma, nunca chegará a especializar-se em coisa
alguma. Pode ter dezenas de boas ideias que nunca tenta pôr em prática, porque
isso o faria enfrentar a realidade do seu verdadeiro nível de competência. Sem
ter consciência disso, pode tornar-se ligeiramente passivo — espera que as
outras pessoas o compreendam, lhe dêem o que deseja, o tratem bem.
Em vez de ganhar o seu louvor,
sente que tem direito a ele.
Em todos estes casos, a sua
grandiosidade ligeira irá impedi-lo que aprender com os seus erros e de se
aperfeiçoar, porque começa pela presunção de que já é bom e grande, e é
demasiado difícil reconhecer o contrário.
A sua missão como estudioso da
natureza humana assume três sentidos: em primeiro lugar, deve compreender o
fenómeno da grandiosidade em si, porque está extremamente enraizado na natureza
humana e porque irá descobrir muito mais pessoas arrogantes no mundo de hoje do
que dantes. Em segundo lugar, deve reconhecer os sinais da grandiosidade e
saber lidar com as pessoas que os exibem. E, em terceiro e o mais importante,
deve identificar os sinais da doença em si e aprender não só a controlar as
suas tendências para a grandiosidade, mas também a canalizar esta energia para
algo.
De acordo com o conhecido
psicanalista Heinz Kohut (1913—1981), a grandiosidade tem origem nos primeiros
anos de vida. Nos primeiros meses, a maior parte das crianças está
completamente ligada à mãe. Não tínhamos noção de uma identidade separada. Ela
satisfazia todas as nossas necessidades. Acabámos por acreditar que o seio que
nos alimentava na verdade fazia parte de nós próprios. Eramos omnipotentes —
bastava sentirmos fome ou qualquer outra necessidade, e a mãe estava ali para a
satisfazer, como se tivéssemos poderes mágicos para a controlar. Então,
lentamente, tínhamos de passar por uma segunda fase da vida em que éramos
obrigados a enfrentar a realidade — a mãe era um ser separado que tinha outras
pessoas a quem dar atenção. Não éramos omnipotentes, mas fracos, muito Pequenos
e dependentes. Esta noção foi dolorosa e a fonte de muita representação da
nossa parte - tínhamos uma necessidade profunda de nos afirmarmos, de mostrar
que não éramos assim tão impotentes e de fantasiar sobre os poderes que não
possuíamos. (As crianças muitas vezes imaginam a capacidade de ver através das
paredes, de voar ou de ler as mentes das pessoas, e é por isso que são atraídas
para histórias de super-heróis.) A medida que envelhecemos, podemos já não ser
fisicamente pequenos, mas a nossa ideia de insignificância piora. Acabamos por perceber
que somos uma pessoa não só dentro de uma família maior, de uma escola ou de
uma cidade, mas de um planeta inteiro, cheio de milhares milhões de pessoas. As
nossas vidas são relativamente breves. Temos competências e capacidades
cerebrais limitadas. Há muita coisa que não conseguimos controlar,
especialmente nas nossas carreiras e nas tendências globais. A ideia de que
iremos morrer e ser rapidamente esquecidos, engolidos pela eternidade, é
bastante intolerável. Queremos sentir-nos significativos de alguma maneira,
protestar contra a nossa pequenez natural, alargar a nossa ideia de eu. O que
vivemos aos três ou quatro anos de idade atormenta-nos inconscientemente para o
resto da vida. Alternamos entre momentos em que sentimos a nossa pequenez e
tentar negá-la. Isto torna-nos atreitos a descobrir formas de imaginar a nossa
superioridade.
Algumas crianças não passam por
essa segunda fase da primeira infância em que têm de enfrentar a sua pequenez
relativa, e estas crianças são mais vulneráveis a formas mais profundas de
grandiosidade mais tarde na vida. São mimadas, apaparicadas. A mãe e o pai
continuam a fazer estas crianças sentir-se como se estivessem no centro do
universo, protegendo-as da dor de se confrontarem com a realidade. Todos os
seus desejos tornam-se ordens. No caso de se tentar instilar a menor
disciplina, os pais são confrontados com uma birra. Além disso, estas crianças
acabam por desprezar qualquer forma de autoridade. Quando comparada com elas e
com o que conseguem alcançar, a figura paternal parece bastante fraca.
Este mimo inicial excessivo
marca-as para o resto da vida. Precisam de ser adoradas. Tornam-se
especialistas em manipular os outros para as apaparicarem e inundarem de
atenções. Sentem-se naturalmente melhores do que qualquer outra pessoa acima
delas. Se tiverem algum talento, poderão ir bastante longe, visto que a sua
ideia de terem nascido com uma coroa na cabeça se torna uma profecia
autorrealizada. Ao contrário das outras pessoas, nunca alternam realmente entre
sentimentos de pequenez e de grandeza; conhecem apenas a última. Eisner teve
seguramente antecedentes deste tipo, visto que tinha uma mãe que satisfazia todos
os seus desejos, que lhe terminava os trabalhos de casa e que o protegia do seu
pai frio e por vezes cruel.
No passado, os seres humanos eram
capazes de canalizar as suas necessidades de grandiosidade para a religião. Nos
tempos mais remotos, a nossa noção pequenez não era apenas algo instilado em
nós pelos muitos anos que passávamos a depender dos nossos pais; decorria
também das nossas fragilidades em relação às forças hostis da natureza. Os
deuses e os espíritos representavam estas forças da natureza que diminuíam as
nossas. Ao adorá-las, podíamos obter a sua proteção. Ligados a algo muito maior
do que nós próprios, sentíamo-nos aumentados. Afinal, os deuses ou Deus
preocupavam-se com o destino da nossa tribo ou cidade; preocupavam-se com a
nossa alma individual, um sinal da nossa importância. Não morríamos ou
desaparecíamos simplesmente. Muitos séculos mais tarde e de uma forma
semelhante, canalizávamos esta energia para a adoração de líderes que
«presentavam uma grande causa e promoviam uma utopia futura, como Napoleão
Bonaparte e a Revolução Francesa ou Mao Tsé-Tung e o comunismo.
Hoje em dia, no mundo ocidental, as
religiões e grandes causas perderam a sua capacidade de unir as pessoas; temos
dificuldade em acreditar nelas e satisfazer a nossa energia arrogante através
da identificação com uma grande força ou poder. No entanto, a necessidade de
nos sentirmos grandes e significativos não desaparece simplesmente; é mais
forte do que nunca. E, na ausência de outros canais, as pessoas tendem a dirigir
esta energia para si mesmas. Irão arranjar uma maneira de alargar a sua noção
de eu, de se sentirem grandes e superiores. Embora raramente tenhamos
consciência disto, o que escolhem idealizar e adorar é o eu. por esse motivo,
encontramos cada vez mais indivíduos entre nós a sofrerem de grandiosidade.
Outros fatores também contribuíram
para o aumento da grandiosidade. Em primeiro lugar, encontramos mais
pessoas que são mimadas na infância hoje do que no passado. Sentirem-se o
centro do universo torna-se algo difícil de abalar. Acabam por acreditar que
tudo o que fazem ou produzem deveria ser considerado precioso e digno de
atenção. Em segundo lugar, encontramos cada vez mais pessoas que têm
pouco ou nenhum respeito pela autoridade ou pelos especialistas em qualquer
assunto, independentemente do nível de formação e experiência destes
especialistas, dos quais elas próprias carecem. <<Porque deve a sua
opinião ser mais válida do que a minha?», podem perguntar a si mesmos. «Ninguém
é assim tão bom; as pessoas com poder são apenas mais privilegiadas.» «A minha
escrita e música são tão legítimas e válidas como as de qualquer outra pessoa.»
Sem terem a noção de que outrem pode estar, em boa justiça, acima delas e ser
digno de autoridade, podem posicionar-se entre os melhores.
Em terceiro lugar, a tecnologia dá-nos a impressão
de que tudo na vida pode ser tão rápido e simples como a informação que podemos
reunir online. Instila a crença de que já não temos de passar anos a aprender
uma competência; em vez disso, com alguns truques e algumas horas de prática
por semana, podemos tornar-nos capazes em tudo. Do mesmo modo, as pessoas
acreditam que as suas capacidades podem ser facilmente transferidas: «O meu
talento para a escrita significa que também posso realizar um filme.» Mas,
acima de tudo, são os órgãos de Comunicação social que espalham o vírus da
grandiosidade. Através das redes sociais, temos capacidades praticamente
ilimitadas de alargar a nossa presença, de criar a ilusão de que temos a
atenção e mesmo a adoração de milhares ou milhões de pessoas. Podemos possuir a
fama e a ubiquidade dos reis e rainhas no passado ou até dos próprios deuses.
Com todos estes elementos
combinados, é mais difícil do que nunca para qualquer um de nós manter uma
atitude realista e uma noção adequada de eu.
Ao olhar para as pessoas que o
rodeiam, deverá perceber que a sua grandiosidade e a do leitor podem surgir de
formas diferentes. Habitualmente, os seres humanos desejarão satisfazer a
necessidade de ganhar prestígio social. Alguns poderão alegar que estão
interessados no seu próprio trabalho ou em Contribuir para a humanidade, mas
muitas vezes, bem lá no fundo, o que realmente os motiva é o desejo de
receberem atenção, de terem uma autoimagem elevada, Confirma_ do por outros,
que os admirem, de se sentirem poderosos e inchados. Se forem talentosos, estes
indivíduos podem obter a atenção de que precisam durante vários anos ou mais,
mas, inevitavelmente, tal como acontece na história de Eisner, a sua
necessidade de aplauso irá levá-los a excederem-se.
Se estas pessoas se sentirem
dececionadas profissionalmente, mas ainda acreditarem que são boas e que o seu
valor não lhes é reconhecido, poderão recorrer a várias compensações - drogas,
álcool, sexo com o máximo de parceiros possível, compras, uma atitude superior
e sarcástica, etc. Os indivíduos com uma grandiosidade insatisfeita irão com
frequência sentir-se inundados de uma energia furiosa - num momento, falam a
toda a gente dos guiões que vão escrever ou das muitas mulheres que irão
seduzir e, no seguinte, caem em depressão, quando a realidade se imiscui.
As pessoas continuam a tender
idealizar os líderes e a adorá-los, e deverá encarar este fenómeno como uma
forma de grandiosidade. Ao acreditar que outra pessoa fará tudo bem, os
seguidores poderão sentir indiretamente alguma da sua excelência. As suas
mentes elevam-se com a retórica do líder. Podem sentir-se superiores aos
descrentes. A um nível mais pessoal, os seres humanos tendem com frequência a
idealizar aqueles que amam, elevando-os a um estatuto divino e, por extensão,
sentindo algum do seu poder refletido em si próprias.
No mundo de hoje, irá notar a
prevalência de formas negativas de grandiosidade. Muitas pessoas sentem a
necessidade de disfarçar os seus impulsos arrogantes não apenas dos outros, mas
de si mesmas. Irão exibir com frequência a sua humildade - não estão
interessadas em poder ou em sentirem-se importantes ou pelo menos e o que
afirmam. Estão satisfeitas com o seu pequeno quinhão na vida. Não desejam
muitos bens, não têm carro e desprezam o estatuto. Mas irá verificar que
precisam de exibir esta humildade de forma pública. Trata-se de uma humildade
arrogante — é a sua forma de obterem atenção e de se sentirem moralmente
superiores•
Uma variante neste aspeto
corresponde à vítima arrogante — sofreram multo e foram vítimas várias vezes.
Embora possam gostar de o encarar como algo resultante do facto de simplesmente
terem tido pouca sorte ou oportunidades, poderão ter tendência para cair nos
piores tipos de relacionamentos íntimos ou para se colocar em circunstâncias em
que certamente irão fracassar e sofrer. São essencialmente impelidas a criar
dramas que as transforma em vítimas. No entanto, qualquer relacionamento com
elas terá de girar em torno das suas necessidades; sofreram demasiado no
passado para velarem pelas do outro. São o centro do universo. Sentir e
expressar a sua infelicidade dá-lhes a sua noção de importância, de serem
superiores em sofrimento.
Pode medir os níveis de arrogância
das pessoas de várias maneiras. Por exemplo, repare de que forma as pessoas
respondem às críticas que lhes fazem no trabalho. É normal qualquer um de nós
pôr-se na defensiva e ficar um pouco perturbado quando é criticado. Mas algumas
pessoas ficam enfurecidas e histéricas pelo facto de termos posto em causa a
sua ideia de grandeza. Uma pessoa com esta reação tem certamente elevados
níveis de grandiosidade. Do mesmo modo, estes indivíduos poderão esconder a
raiva por detrás de uma expressão martirizada e compungida destinada a fazê-lo
sentir-se culpado. A ênfase não reside na crítica em si e no que precisam de
aprender, mas na noção que têm de agravo.
Se forem bem-sucedidas, repare como
as pessoas agem em momentos mais privados. Conseguem relaxar e rir-se de si
mesmas, libertando-se da sua máscara pública, ou identificaram-se de tal forma
com a sua imagem exterior de poder que esta perpassa para a sua vida privada?
No último caso, acabaram por acreditar no seu próprio mito e são dominadas por
uma grandiosidade poderosa.
As pessoas que sofrem de
grandiosidade geralmente falam muito. Assumem os créditos por tudo, mesmo que
se trate de algo tangencial ao seu trabalho, e inventam sucessos passados.
Falam da sua presciência, referem antever certas tendências ou antecipar certos
acontecimentos, nenhum dos quais pode ser verificado. Toda esta conversa
deveria deixá-lo duplamente hesitante. Se as pessoas expostas ao olhar público
fazem subitamente uma observação insensível que as possa deixar malvistas, pode
atribuí-lo à sua grandiosidade acentuada. Estão tão absortas nas suas
magníficas opiniões que presumem que toda a gente irá interpretá-las no
espírito certo e concordar consigo.
Os indivíduos com uma grandiosidade
mais grave geralmente apresentam baixos níveis de empatia. Não são bons
ouvintes. Quando a atenção não está centrada neles, assumem um olhar ausente, e
os seus dedos crispam-se de impaciência. Apenas quando os holofotes incidem sobre
eles ficam mais animados. Tendem a ver as pessoas como extensões de si mesmas -
instrumentos a usar nos seus esquemas, fontes de atenção. Finalmente, exibem um
comportamento não verbal que só pode ser descrito como arrogante. Os seus
gestos são expressivos e dramáticos.
Em reuniões, têm uma presença muito
notória. A sua voz tende a ser mais alta do que a dos outros e falam num ritmo
rápido, não dando a ninguém tempo para os interromper.
Deverá ser indulgente com quem
exibe doses moderadas de grandiosidade. Quase todos nós alternamos entre
períodos em que nos sentimos superiores e bons e outros em que regressamos à
terra. Procure esses momentos de realismo nas pessoas como sinais de
normalidade. Contudo, com pessoas cuja autoimagem é tão positiva que não admitem
quaisquer dúvidas, será melhor evitar relações ou envolvimentos. A nível
íntimo, tenderão a pedir uma atenção unilateral de adoração. Se forem
funcionários, sócios ou chefes, apregoarão as suas competências. Os seus níveis
de confiança irão distraí-lo das falhas nas suas ideias, hábitos de trabalho e
temperamento. Se não conseguir evitar um relacionamento como este, tenha
cuidado com a sua tendência para se sentirem seguros acerca do sucesso das suas
ideias e mantenha o ceticismo. Procure as ideias em si e não se deixe enredar
pela sua autoimagem sedutora. Não alimente a ilusão de que os pode confrontar e
tentar fazer regressar à terra; poderá desencadear uma resposta irada. Se tiver
um destes indivíduos como rival, pense apenas que está com sorte. São fáceis de
picar e de atrair para reações exageradas. Lançar dúvidas sobre a sua
excelência irá deixá-los apopléticos e duplamente irracionais.
Finalmente, terá de lidar com as
suas próprias tendências para a grandiosidade. A grandiosidade encontra algumas
utilizações positivas e produtivas. A exuberância e a autoimagem muito
favorável que decorrem da mesma podem ser canalizadas para o trabalho e
ajudá-lo como forma de inspiração. No entanto, de modo geral, seria preferível
aceitar as limitações e trabalhar com o que tem, em vez de fantasiar sobre
poderes divinos que nunca irá alcançar. A maior proteção que pode encontrar
contra a grandiosidade é manter uma atitude realista. Sabe para que temas e
atividades é naturalmente atraído. Não pode ser dotado em tudo. Tem de jogar
com os seus pontos fortes e não imaginar que pode ser bom em tudo aquilo em que
se envolve. Precisa de alcançar uma compreensão profunda dos seus níveis de
energia, de quão longe pode ir de forma razoável e de como isso muda com a
idade. E deve ter uma noção clara da sua posição social - os seus aliados, as
pessoas com quem tem o melhor entendimento, o público óbvio para o seu
trabalho. Não pode agradar a toda a gente.
Esta autoconsciência inclui uma
componente física a que deve ser sensível. Quando realiza atividades que se
prendem com as suas inclinações naturais, sentirá que o esforço é fácil.
Aprenderá mais depressa. Terá mais energia e poderá suportar melhor o esforço
envolvido no processo de aprendizagem. Quando demasiadas coisas, mais do que
aquilo com que consegue lidar, sentir-se-á não só exausto, mas também irritável
e nervoso. Ficará mais atreito a dores de cabeça. Quando tiver sucesso na vida,
sentirá naturalmente uma pontada de medo, como se a sua sorte pudesse chegar ao
fim. Sente com este medo os perigos que decorrem de subir demasiado alto (quase
como uma vertigem) e de se sentir demasiado superior. A sua ansiedade está a
pedir-lhe que volte a descer à terra. Oiça o seu corpo quando este lhe indicar
que está a trabalhar contra as suas forças.
Ao conhecer-se, aceitará os seus
limites. Será simplesmente uma pessoa entre muitas no mundo, e não naturalmente
superior a ninguém. Não é um deus ou um anjo, mas um ser humano com defeitos,
como toda a gente. Aceite o facto de que não consegue controlar as pessoas que
o rodeiam e de que nenhuma estratégia é infalível. A natureza humana é
demasiado imprevisível. Com este autoconhecimento e aceitação dos limites terá
uma noção das proporções. Procurará a excelência no seu trabalho. E, quando sentir
o impulso de pensar em si sob um prisma mais elevado do que for razoável, este
autoconhecimento servirá como força gravítica, puxando-o de volta e dirigindo-o
para as ações e decisões que servirão melhor a sua natureza particular.
Ser realista e pragmático é aquilo
que torna os seres humanos tão poderosos. Foi assim que ultrapassámos as nossas
fragilidades físicas num ambiente hostil há muitos milhares de anos e que
aprendemos a trabalhar com os outros e a formar comunidades poderosas e
ferramentas para sobreviver. Embora nos tenhamos desviado deste pragmatismo,
visto que já não temos de confiar na nossa perspicácia para sobreviver, ele é
de facto a nossa verdadeira natureza como animal social dominante no planeta.
Ao tornarmo-nos mais realistas, estamos simplesmente a tornar-nos mais humanos.
O líder arrogante
Se pessoas com níveis elevados de
grandiosidade também possuírem algum talento e muita energia assertiva, poderão
ascender a posições de grande poder. A sua ousadia e confiança atraem atenção e
concedem-lhes uma presença considerável. Hipnotizados pela sua imagem, muitas
vezes não conseguimos captar a irracionalidade que subjaz ao seu processo de
tomada de decisões e por isso seguimo-las até a catástrofe. Podem ser bastante
destrutivas.
Deverá compreender um aspeto
simples relativamente a estes indivíduos - dependem da atenção que lhes damos.
Sem a nossa atenção, sem serem adorados pelo público, não conseguem validar a
sua autoimagem, e, nesses casos, a própria confiança de que dependem definha.
Para nos intimidarem e distraírem da realidade, recorrem a determinados
instrumentos dramáticos. E imperativo que vejamos para lá dos seus truques de
palco, que os desmistifiquemos e que os devolvamos à sua dimensão humana. Ao
fazê-lo, podemos resistir ao seu encanto e evitar os perigos que representam.
As seis ilusões comuns que se seguem são as que gostam de criar.
Sou predestinado.
Os líderes marcados pela grandiosidade tentam dar a impressão de que estão de
alguma forma destinados à grandeza. Contam histórias da sua infância e
juventude que anunciam a sua singularidade, como se o destino os tivesse
marcado. Destacam acontecimentos que mostravam desde cedo a sua resistência ou
criatividade invulgares, inventando essas histórias ou reinterpretando o
passado. Referem episódios do início da sua carreira em que ultrapassaram
reveses impossíveis. O líder grandioso do futuro já se encontrava em gestação
desde muito cedo ou é isso que querem fazer parecer. Quando ouvir este tipo de
coisas, deverá manter-se cético. Estão a tentar forjar um mito, em que eles
próprios provavelmente acabaram por acreditar. Procure os factos mais mundanos
por detrás das histórias em torno do seu destino e, se possível, torne-os
públicos.
Sou o homem/a mulher comum. Em
alguns casos, os líderes marcados pela grandiosidade provieram das classes mais
baixas, mas em geral ou têm antecedentes relativamente privilegiados ou, graças
ao seu sucesso, viveram muito tempo afastados das preocupações das pessoas
comuns. Seja como for, é absolutamente essencial apresentarem-se ao público
como altamente representativos do homem ou da mulher comuns. Apenas através de
uma apresentação deste tipo podem atrair a atenção e veneração de um número
suficiente de pessoas para se se sentirem satisfeitos
Indira Gandhi, a primeira-ministra
da India de 1966 a 1977 e de 1980 a 1984, era oriunda da realeza política,
tendo o seu pai, Jawaharlal Nehru, sido o primeiro-ministro do país. Foi
educada na Europa e viveu a maior parte da sua vida afastada das camadas mais
pobres da India. Mas, como líder grandiosa que mais tarde se tornou bastante
ditatorial, assumiu uma posição de unidade com as pessoas levando-as a falar
através da sua voz. Alterava a sua linguagem quando se dirigia a grandes
multidões e usava metáforas despretensiosas quando visitava aldeias pequenas.
Usava o seu sari como as mulheres locais e comia com as mãos. Gostava de se
apresentar como «Mãe Indira», que governou a India de uma forma familiar e
maternal. E este estilo que assumiu foi altamente eficaz para ganhar as
eleições' embora que tenha sido perfeitamente encenado.
O truque que os líderes marcados
pela grandiosidade aplicam reside em enfatizar os seus gostos culturais, não a
classe de que verdadeiramente provêm. Podem voar na classe executiva e usar os
fatos mais caros, mas contrariam este aspeto parecendo ter os mesmos gostos
culinários que o público, apreciar os mesmos filmes que as outras pessoas
ocupam e evitar a esforços a todo o para custo qualquer indício as elites,
mesmo que dependam desses especialistas para os orientarem. São simplesmente
como as pessoas comuns, mas com muito mais dinheiro e poder. O público agora
pode identificar-se com eles, apesar das contradições óbvias. Mas a
grandiosidade deste aspeto vai mais longe do que obter simplesmente mais
atenção. Estes líderes excedem-se bastante através desta identificação com as
massas. Não são apenas um homem ou uma mulher, mas personificam toda uma nação
ou grupo de interesses. segui-los é ser leal ao próprio grupo. Criticá-los é
desejar crucificar o líder e trair a causa.
Mesmo no mundo corporativo e
prosaico dos negócios encontramos uma identificação religiosa deste tipo:
Eisner, por exemplo, gostava de se apresentar como a personificação de todo o
espírito da Disney, fosse o que fosse que isso significasse. Se reparar em
paradoxos como estes e nas formas primitivas da associação popular,
distancie-se um pouco e analise a realidade do que está a acontecer. Lá no
fundo, irá descobrir algo quase místico, altamente irracional e bastante
perigoso nesse líder grandioso que agora se sente autorizado a fazer o que quer
que lhe apeteça em nome do público.
Cumprirei o prometido. Estes tipos
muitas vezes chegam ao poder em tempos de agitação e crise. A sua autoconfiança
é reconfortante para o público ou para os acionistas. Serão aqueles que
libertarão as pessoas dos muitos problemas que enfrentam. Para o conseguirem,
as suas promessas têm de ser grandes, mas vagas. Sendo grandes, podem inspirar
sonhos; sendo vagas, ninguém poderá responsabilizá-los se não conseguirem
cumpri-las, visto que não há nada de específico a que se possa agarrar. Quanto
mais grandiosas forem as promessas e visões do futuro, mais grandiosa será a fé
que inspira. A mensagem deve ser simples de digerir, redutível a um slogan e de
prometer algo em grande, que agite as emoções. Como parte desta estratégia,
estes indivíduos exigem bodes expiatórios convenientes, muitas vezes as elites
ou estranhos, para reforçar a identificação de grupo e agitar ainda mais as
emoções. O movimento em torno do líder começa por se cristalizar em torno do
ódio por estes bodes expiatórios, que passam a representar toda a dor e
injustiça que cada pessoa, na multidão, alguma vez experimentou. A promessa do
líder de destruir estes inimigos inventados aumenta exponencialmente o seu
poder.
O que irá descobrir é que estão a criar um culto, mais do que a dirigir um movimento político ou um negócio. Irá ver que o seu nome, imagem e slogans têm de ser reproduzidos em grande número e assumem uma ubiquidade divina. Algumas cores, símbolos e por vezes música são usados para ligar a identidade coletiva e apelar aos instintos humanos mais básicos. As pessoas que acreditam culto ficam então duplamente hipnotizadas e prontas a desculpar qualquer tipo de ação. Neste ponto, nada irá dissuadir os verdadeiros crentes, mas deverá manter alguma distância interior e capacidade e análise.
Reescrevo as regras. Um desejo secreto dos seres
humanos consiste em prescindir das regras e convenções habituais que regem
qualquer área- alcançar o poder seguindo apenas a sua luz interior. Quando os
líderes marcados pela grandiosidade alegam ter essa capacidade, ficamos
secretamente empolgados e desejamos acreditar neles.
Michael Cimino foi o realizador do
filme O Caçador [The Deer Hunter] (1978) galardoado pela Academia de Cinema. No
entanto, para quem trabalhou com ele e para ele, este homem não era apenas um
realizador de cinema, mas um génio único, comprometido com a missão de cortar
com o sistema rígido e corporativo de Hollywood. Para o seu filme seguinte, As
Portas do Céu [Heaven's Gate] (1980) negociou um contrato que foi completamente
excecional na história de Hollywood, o qual lhe permitiu aumentar o orçamento
da forma que considerava adequada e criar precisamente o filme que havia
imaginado, sem quaisquer reservas ou compromissos. No local das filmagens,
Cimino passou semanas a ensaiar os atores de modo a alcançar o tipo de
interpretação de que precisava para determinada cena. Um dia, esperou horas até
pôr as câmaras a filmar, apenas para que a nuvem perfeita pudesse passar pelo
enquadramento. Os custos dispararam, e o filme que inicialmente realizou tinha
mais de cinco horas de duração. As Portas do Céu acabaram por ser um dos
maiores desastres da história de Hollywood, e praticamente destruiu a carreira
de Cimino. Parecia que o contrato tradicional afinal tinha um objetivo refrear
a grandiosidade natural de qualquer realizador e fazê-lo trabalhar dentro de
limites. A maior parte das regras afinal decorre do senso comum e tem a
racionalidade como base.
Como variante, os líderes marcados
pela grandiosidade muitas vezes têm de confiar nas instituições, negligenciando
a necessidade de se concentrarem em grupos ou em qualquer forma de resposta
científica. Estabelecem uma ligação interior e especial com a verdade. Gostam
de desenvolver o mito de que os seus palpites conduziram a sucessos
fantásticos, mas uma análise mais criteriosa revelará que esses mesmos palpites
falham com a mesma frequência com que acertam. Quando ouve líderes a
apresentarem-se como pioneiros consumados, capazes de prescindir das regras e
da ciência, deve encará-lo apenas como sinal de loucura, não de inspiração
divina.
Tenho o toque de Midas. Os indivíduos com uma grandiosidade
acentuada tentarão criar a lenda de que nunca falharam de facto. Se houve
falhas ou reveses na sua carreira, foi sempre por culpa de outros, que os
traíram. O general do exército Douglas MacArthur era um génio a defletir a
culpa; nas suas palavras, durante a sua longa carreira, nunca perdera uma
batalha, embora de facto tivesse perdido muitas, mas, ao anunciar os seus
sucessos e ao arranjar desculpas intermináveis, como traições, para as suas
derrotas, criou o mito de possuir capacidades mágicas no campo de batalha. Os
líderes marcados pela grandiosidade recorrem inevitavelmente a este tipo de
magia como forma de marketing.
Relacionada com este aspeto está a
crença de que podem transferir facilmente
as suas competências — um executivo
do cinema pode tornar-se criador de parques temáticos, um homem de negócios
pode tornar-se líder de uma nação. Por serem magicamente dotados, podem
experimentar tudo o que os atraia. Isto representa muitas vezes um passo fatal
da sua parte, visto que tentam coisas que ultrapassam a sua competência e ficam
rapidamente assoberbados pela complexidade e pelo caos
que decorrem da sua falta de
experiência. Ao lidar com estes indivíduos, analise cuidadosamente o seu
currículo e veja quantos fracassos flagrantes conheceram. Embora as pessoas que
se encontram sob a influência da grandiosidade de outras provavelmente não lhe
dêem ouvidos, anuncie o seu verdadeiro historial da forma mais neutra possível.
Sou invulnerável. O líder marcado pela grandiosidade
corre riscos. É o que normalmente atrai atenção à partida, e, combinado com o
sucesso que muitas vezes aguarda os mais ousados, estes parecem maiores do que
a vida. Mas esta audácia, na verdade, não se encontra sob controlo. Têm de tomar
medidas para dar nas vistas de modo a permitir que a atenção que alimenta a sua
autoimagem lhes continue a ser concedida. Não podem parar ou recuar, porque
isso levaria a uma quebra publicitária. Para piorar, acabam por se sentir
invulneráveis porque muitas vezes no passado se saíram bem com manobras
arriscadas, e, se enfrentaram reveses, conseguiram ultrapassá-los recorrendo a
ações ainda mais audazes. Além disso, estas atividades temerárias fazem-nos
sentir vivos e estimulados. Tornam-se uma droga. Precisam de desafios e de
recompensas maiores para manterem a impressão de uma invulnerabilidade divina.
Podem trabalhar vinte horas por dia quando se encontram sob este tipo de
pressão. Podem caminhar sobre brasas.
Na verdade, são bastante
invulneráveis, até enveredarem por uma manobra arrogante em que acabam por ir
demasiado longe e tudo se desmorona. Pode tratar-se de algo como a viagem de
MacArthur pelos Estados Unidos depois da Guerra da Coreia, em que a sua necessidade
irracional de atenção de tornou dolorosamente visível; ou a decisão fatal de
Mao de desencadear a Revolução Cultural; Ou Stan O'Neal, diretor-executivo da
Merrill Lynch, a agarrar-se aos seus títulos garantidos por créditos
hipotecários quando toda a gente se queria libertar deles, destruindo
essencialmente uma das mais antigas instituições financeiras do país.
Subitamente, a aura de ser invulnerável é desfeita. E isto acontece porque as
decisões destes indivíduos são determinadas não pelas considerações racionais,
mas pela necessidade de atenção e de glória, e a realidade acaba por levar a
melhor, de forma agressiva.
De modo geral, ao lidar com o líder
marcado pela grandiosidade, procure destruir a imagem sagrada e gloriosa que
estes criaram. Reagirão exageradamente, e os seus seguidores irão enfurecer-se,
mas, aos poucos, alguns deles poderão ficar com dúvidas. Criar um desencanto
viral será a sua melhor hipótese.
A
grandiosidade prática
A grandiosidade é uma forma de
energia primordial que todos possuímos. Impele-nos a desejarmos mais do que
temos, a sermos reconhecidos e estimados pelos outros e a sentirmo-nos ligados
a algo maior. O problema não reside na energia em si, que pode ser usada para
alimentar as nossas ambições, mas no sentido que esta assume. Normalmente, a
grandiosidade faz-nos imaginar que somos maiores e com uma excelência superior
à que realmente se verifica. Podemos chamar-lhe grandiosidade fantástica porque
se baseia nas nossas fantasias e na impressão enviesada que temos de qualquer
atenção que recebemos. A outra forma, a que iremos chamar grandiosidade
prática, não é fácil de alcançar e não nos surge naturalmente, mas pode ser a
origem de um extraordinário poder e de autorrealização.
A grandiosidade prática não se
baseia na fantasia, mas na realidade. A energia é canalizada para o trabalho e
desejo de alcançar objetivos, de resolver problemas ou de melhorar
relacionamentos. Impele-nos a desenvolver e a apurar as nossas capacidades.
Através das nossas conquistas, podemos sentir-nos maiores. Atrairemos a atenção
através do trabalho. A atenção que recebemos desta forma será gratificante e
manter-nos-á energizados, mas a maior impressão de gratificação decorre do
próprio trabalho e do facto de ultrapassarmos as nossas fraquezas. O desejo de
atenção encontrar-se-á sob controlo e subordinado. A autoestima será elevada,
mas estará ligada a conquistas reais, não a fantasias vagas e subjetivas.
Sentimos a nossa presença ampliada através do trabalho, daquilo com que
contribuímos para a sociedade.
Embora a forma precisa de canalizar
a energia dependa da sua área e do nível de competências, os cinco princípios
básicos que se seguem são essenciais para alcançar o elevado nível de
realização que pode decorrer desta forma de grandiosidade baseada na realidade.
Aceite a necessidade de
grandiosidade. Deverá
começar numa posição de sinceridade. Reconheça para si mesmo que se quer sentir
importante e ser o centro das atenções. É algo natural. Sim, quer sentir-se
superior. Tem ambições, como qualquer pessoa. No passado, a sua necessidade de
grandiosidade pode tê-lo conduzido a algumas más decisões, que pode agora
reconhecer e analisar. A negação é o seu pior inimigo. Apenas com esta
autoconsciência poderá começar a transformar a energia em algo prático e
produtivo.
Concentre as energias. A grandiosidade fantástica fá-lo-á
saltar de uma ideia fantástica para outra, imaginando todos os aplausos e
atenção que irá receber, mas nunca se apercebendo de nenhum deles. Terá de
fazer o contrário. Adquira o hábito de se concentrar profunda e completamente
num único projeto ou problema. Irá desejar que o objetivo seja relativamente
simples de alcançar e num período temporal de meses e não anos. Divida-o em
minietapas e metas parciais. O seu objetivo será entrar num estado de fluxo, em
que a mente se concentre cada vez mais no trabalho, ao ponto de as ideias lhe
surgirem apenas de vez em quando. Esta sensação de fluxo deve ser agradável e
viciante. Não se permita enredar-se em fantasias sobre outros projetos que se
encontrem no horizonte. Concentre-se no trabalho o mais profundamente possível.
Se não entrar neste estado de fluxo, estará inevitavelmente a entrar no
multitasking e a interromper a concentração. Procure vencer este processo. Pode
ser um projeto em que trabalha fora da profissão. Não é o número de horas
investidas que importa, mas a intensidade e o esforço coerente que lhe
empresta.
Relacionado com este aspeto,
procure que este projeto envolva capacidades que já possui ou que se encontram
em desenvolvimento. O seu objetivo será identificar uma melhoria constante no
seu nível de competências, o que irá certamente surgir a partir de uma
concentração profunda. A sua confiança irá melhorar. Deverá ser o suficiente
para lhe permitir continuar a avançar.
Mantenha-se em diálogo
com a realidade. O seu
projeto começa com uma ideia. Tente apurar esta ideia, deixando a sua
imaginação voar e mantendo-se aberto a várias possibilidades. A dado momento,
passará da fase de planeamento à execução. Deve agora procurar ativamente
feedback e críticas das pessoas que respeita ou do seu público natural. Oiça as
suas opiniões sobre as falhas e as inadequações do seu plano, pois essa é a
única maneira de melhorar as suas competências. Se o projeto não alcançar os
resultados que imaginou ou se o problema não tiver sido resolvido, encare-o
como a melhor maneira de aprender. Analise profundamente o que fez mal, sendo o
mais frontal possível.
Quando tiver recebido feedback e
analisado os resultados, regresse a este projeto ou comece outro novo, deixando
que a imaginação voe novamente, mas incorporando o que aprendeu com a
experiência. Continue este ciclo de forma incessante, reparando, com
entusiasmo, que melhora, no processo. Se se demorar demasiado na fase de imaginação,
o que cria tenderá a ser grandioso e distanciado da realidade. Se ouvir apenas
o feedback e tentar fazer uma reflexão aturada acerca do que os outros lhe
dizem ou do que pretendem, o trabalho será convencional e insípido. Ao manter
um diálogo constante entre a realidade (feedback) e a imaginação, criará algo
prático e poderoso.
O momento em que conhecer sucesso
com os seus projetos é aquele em que deve distanciar-se da atenção que está a
receber. Pense no papel que a sorte poderá ter desempenhado ou na ajuda que
recebeu de outros. Resista a cair na ilusão do sucesso. A medida que se
concentra na próxima ideia, veja-se de volta ao ponto de partida. Cada novo
projeto representa um novo desafio e uma abordagem inédita. Poderá
perfeitamente falhar. Precisará do mesmo nível de concentração que teve no
último projeto. Nunca aceite os louros como garantidos ou abrande a
intensidade.
Procure mudanças
calibradas. O problema
da grandiosidade fantástica reside em imaginar um objetivo novo e grande a
alcançar — o romance brilhante que irá escrever, a empresa que irá criar. O
desafio é tão grande que até o poderá começar, mas esgota-se rapidamente, ao
tomar consciência de que não está à altura do mesmo. Ou, se for do tipo
ambicioso e assertivo, poderá tentar ir até ao fim, mas acabará na síndrome
Euro Disney, assoberbado, falhando em toda a linha, culpando os outros pelo
fiasco e nunca aprendendo com a experiência.
O seu objetivo na grandiosidade
prática consiste em procurar constantemente desafios um pouco acima do seu
nível de competências. Se os projetos em que se envolver estiverem abaixo do
seu nível ou ao mesmo nível, sentir-se-á facilmente aborrecido e menos
concentrado. Se forem demasiado ambiciosos, sentir-se-á esmagado pelo seu
fracasso. No entanto, se forem calibrados para serem mais desafiadores do que o
último projeto, mas a um nível moderado, descobrir-se-á empolgado e energizado.
Deverá estar ao nível deste desafio, por isso os seus níveis de concentração
também irão melhorar. Este é o caminho ideal para a aprendizagem. Se falhar,
não se sentirá esmagado e aprenderá ainda mais. Se for bem-sucedido, a sua
confiança aumentará, mas ficará ligada ao seu trabalho e ao facto de ter estado
à altura do desafio. A sua sensação de realização irá satisfazer a necessidade
de grandeza.
Liberte-se da energia
arrogante. Quando
tiver domado esta energia permita que esta sirva as suas ambições e objetivos.
Sentir-se-á seguro para a deixar transparecer ocasionalmente. Pense nela como
um animal selvagem que precisa de vaguear livremente de vez em quando, caso
contrário enlouquecerá de inquietação. O que isto significa é permitir-se, de
quando em vez, ter ideias ou projetos que representem desafios maiores do que
aqueles que considerou no passado. sentir-se-á cada vez mais confiante e
desejará testar-se. Pense em desenvolver uma nova competência num campo não
relacionado ou em escrever o romance que em tempos considerou ser uma distração
do mundo real. Ou, simplesmente, dê rédea solta à sua imaginação quando se
encontrar no processo de planeamento.
Se estiver exposto ao olhar do
público e tiver de representar perante outros, liberte-se do controlo que
desenvolveu e deixe que a sua energia arrogante o encha de elevados níveis de
autoestima. Isto irá animar os seus gestos e dar-lhe maior carisma. Se for um
líder e o seu grupo enfrentar dificuldades ou uma crise, permita-se sentir-se
invulgarmente grandioso e confiante no sucesso da sua missão, para motivar e
inspirar as tropas. Foi este o tipo de grandiosidade que fez de Winston
Churchill um líder tão eficaz durante a Segunda Guerra Mundial.
Em qualquer circunstância, pode
permitir-se sentir-se divino por ter chegado tão longe com as suas competências
melhoradas e com as conquistas atuais. Se se tiver demorado a trabalhar devidamente
nos outros princípios, irá regressar naturalmente a terra depois de alguns dias
ou horas de exuberância grandiosa.
FINALMENTE, NA ORIGEM DA NOSSA
GRANDIOSIDADE INFANTIL ESTAVA UM SENTIMENTO DE ligação intensa com a mãe. Era
tão completo e satisfatório que passámos muito do nosso tempo a tentar
recuperar esse sentimento de alguma forma. E a origem do desejo de transcender
a existência banal, de ansiar por algo tão grande que não conseguimos expressar
o que é. Temos vislumbres dessa ligação original nos relacionamentos íntimos e
em momentos de amor incondicional, mas são raros e fugazes. Entrar num estado
de fluxo com o trabalho e cultivar níveis mais profundos de empatia com as
pessoas (ver capítulo 2) dar-nos-á mais destes momentos e satisfará essa ânsia.
Sentir-nos-emos ligados ao trabalho e às outras pessoas. Podemos levá-lo ainda
mais longe experimentando uma ligação mais profunda com a própria vida, aquilo
a que Sigmund Freud chamou «o sentimento oceânico».
Pense nisto da seguinte forma: A
formação da própria vida no planeta Terra, há tantos milhares de milhões de
anos, exigiu uma concatenação de eventos altamente improváveis. O início da
vida foi uma experiência ténue que poderia ter terminado em qualquer momento,
logo no início. Desde então, a evolução de tantas formas de vida é espantosa, e
no ponto final dessa evolução está apenas o animal que sabemos ter consciência
de todo este processo, o ser humano.
O facto de estarmos vivos é
igualmente um fenómeno improvável e misterioso. Exigiu um encadeamento
particular de acontecimentos que levou a que os nossos pais se conhecessem e ao
nosso nascimento, o que poderia ter corrido de forma completamente diferente.
Neste momento, enquanto lê estas linhas, está consciente da vida, juntamente
com milhares de milhões de que outras pessoas, e apenas durante um breve
período de tempo, até morrer. Assimilar completamente esta realidade é aquilo a
que iremos chamar o Sublime. Trata-se de algo que não se pode expressar em palavras.
É demasiado espantoso. Sentir-se parte dessa ténue experiência da vida
constitui uma espécie de grandiosidade reversa — não ficará perturbado pela sua
pequenez relativa, mas em êxtase pela sensação de ser uma gota neste oceano.