# 11Lei da Grandiosidade - 11/18 Robert Greene




# 11 Lei da Grandiosidade – Conheça os seus Limites

 

Os seres humanos têm uma profunda necessidade de pensar bem de si próprios. Se essa opinião da nossa qualidade, grandeza e brilhantismo divergir suficientemente da realidade, tornamo-nos arrogantes. Imaginamos a nossa superioridade. Muitas vezes uma pequena dose de sucesso irá elevar essa grandiosidade natural a níveis ainda mais perigosos. A nossa autoimagem tem agora de ser confirmada pelos acontecimentos. Esquecemos o papel que a sorte pode ter desempenhado nesse sucesso ou os contributos dos outros. Imaginamos possuir o toque de Midas. Ao perder a noção da realidade, tomamos decisões irracionais. E por isso que o nosso sucesso muitas vezes não dura. Procure sinais de grandiosidade acentuada em si e nos outros - uma certeza imperiosa no resultado positivo dos seus planos; suscetibilidade excessiva ao ser criticado; desprezo por qualquer tipo de autoridade. Contrarie a força da grandiosidade preservando uma avaliação realista de si e dos seus limites. Associe quaisquer sentimentos de grandeza ao seu trabalho, às suas conquistas e aos seus contributos para a sociedade.

A ilusão de sucesso – o Caso de Michael Eisner

 

Interpretação: Pode dizer-se que, a certo ponto da sua carreira, Michael Eisner sucumbiu a uma forma de desilusão relativamente ao poder, revelando ter um pensamento tão divorciado da realidade que tomou decisões profissionais com consequências desastrosas. Vamos acompanhar a evolução desta forma específica de desilusão tal como surgiu e se apoderou da sua mente.

No início da sua carreira na ABC, o jovem Eisner tinha uma noção sólida da realidade. Era extremamente prático. Compreendia e explorava ao máximo os seus pontos fortes — a sua natureza ambiciosa e competitiva, a sua intensa ética profissional, o seu faro apurado relativamente aos gostos do americano médio quanto a entretenimento. Eisner tinha uma mente rápida e a capacidade de incitar os outros a pensar de forma criativa. Apoiando-se nestes pontos fortes, ascendeu rapidamente. Possuía um elevado nível de confiança nos seus dotes, e a série de promoções que recebeu na ABC confirmara a sua autoimagem. Podia dar-se ao luxo de ser um pouco arrogante, porque aprendera muito na área, e as suas capacidades de programador tinham melhorado imenso. Avançava para o topo em passo rápido, o qual alcançou aos trinta e quatro anos, sendo nomeado diretor de programação da ABC para o horário nobre.

Como pessoa de grandes ambições, sentiu rapidamente que o mundo da televisão era um pouco acanhado. Havia limites para o tipo de entretenimento que podia programar. O mundo cinematográfico oferecia-lhe algo mais livre, maior e mais glamoroso. Era, portanto, natural para ele aceitar a posição na Paramount. Mas aconteceu algo na Paramount que deu início ao subtil processo de desequilíbrio da sua mente. Como o cenário era maior e ele era diretor do estúdio, começou a receber atenção por parte dos órgãos de comunicação social e do público. Aparecia na capa de revistas como 0 executivo cinematográfico mais na moda de Hollywood. Era qualitativamente diferente da atenção e satisfação decorrentes das promoções na ABC. Agora tinha milhões de pessoas a admirarem-no. como podiam as opiniões estar equivocadas? Para eles, era um génio, um novo tipo de herói mudava a paisagem do sistema dos estúdios.

Era intoxicante. Inevitavelmente, melhorava-lhe a avaliação das suas capas cidades. Mas vinha acompanhado de um grande perigo. O sucesso que Eisner tivera na Paramount não era totalmente responsabilidade sua. Quando chegara ao estúdio, já havia vários filmes em pré-produção, incluindo Febre de Sábado à Noite, que desencadeariam a reviravolta. Barry Diller era o adversário perfeito de Eisner. Discutia interminavelmente com ele sobre as suas ideias, obrigando Eisner a apurá-las. Mas, inchado pela atenção que estava a receber, Eisner tinha de pensar que merecia os aplausos recebidos apenas graças aos seus próprios esforços e por isso eliminou naturalmente do seu sucesso elementos como o momento certo e os contributos dos outros. Agora a sua mente estava a divorciar-se subtilmente da realidade. Em vez de se concentrar rigorosamente no público e na forma de entre_ ter as pessoas, começou cada vez mais a concentrar-se na sua pessoa, acreditando no mito da sua grandeza tal como promulgada pelos outros. Imaginou que tinha toque de Midas.

Na Disney o padrão repetiu-se e intensificou-se. Deliciava-se com o brilho do seu espantoso sucesso na empresa, esquecendo a inacreditável sorte que tivera ao herdar a biblioteca da Disney na altura da explosão dos vídeos caseiros e do entretenimento em família. Descontou o papel determinante que Wells desempenhara nesse equilíbrio. Com a sua noção de grandeza crescente, encontrava-se perante um dilema. Tornara-se dependente da atenção decorrente do facto de ter causado sensação, fazendo algo importante. Não se conseguia satisfazer com o simples sucesso e com os lucros crescentes. Tinha de alimentar o mito para o manter vivo. A Euro Disney seria a resposta. Mostraria ao mundo que não era apenas o executivo de uma empresa, mas um homem da Renascença.

Ao construir o parque, recusou-se a ouvir conselheiros experientes que recomendavam situá-lo em Barcelona e que defendiam um parque temático modesto para conter as despesas. Não prestou atenção à cultura francesa e dirigiu tudo a partir de Burbank. Agiu movido pela crença de que as suas capacidades como diretor de um estúdio cinematográfico poderiam ser transferidas para parques temáticos e arquitetura. Estava certamente a sobrestimar as suas capacidades criativas, e agora as suas decisões profissionais revelavam um distanciamento suficiente da realidade para se poderem classificar como delirantes. Quando este desequilíbrio mental se instala, só pode piorar, porque regressar à terra é reconhecer que a autoimagem anterior estava errada, e o animal humano quase nunca o fará. Em vez disso a tendência é para culpar os outros por cada fracasso ou impasse.

Entregue, portanto, ao seu delírio, cometeu o seu maior erro de todos - despedir Jeffrey Katzenberg. O sistema da Disney dependia de um fluxo regular de sucessos na categoria dos filmes de animação, o que alimentava as lojas e os parques temáticos com novas personagens, mercadoria, atrações e meios para a publicidade. Katzenberg desenvolvera claramente um talento para criar esses êxitos, exemplificado pelo sucesso sem precedentes de O Rei Leão. Despedi-lo pôs toda a linha de montagem em risco. Quem o substituiria? Certamente não Roy Disney ou o próprio Eisner. Além disso, tinha de saber que Katzenberg levaria os seus dotes para outro lado, o que fez quando cofundou um novo estúdio, a DreamWorks. Aí, produziu mais filmes de animação de sucesso, em série. O novo estúdio fez subir o preço dos animadores especializados, aumentando amplamente o custo de produzir um filme animado e ameaçando todo o sistema de lucro da Disney. Mas, em vez de manter pulso firme sobre esta realidade, Eisner estava mais concentrado em competir por atenção. A ascensão de Katzenberg ameaçava a sua autoimagem favorável, obrigando-o a sacrificar os lucros e o pragmatismo para acalmar o ego.

A espiral descendente começara. A aquisição da ABC, na crença de que maior é melhor, revelou o seu afastamento progressivo da realidade. A televisão era um modelo de negócio moribundo na era dos novos meios de comunicação social. Não foi uma decisão de negócio realista, mas uma encenação para obter publicidade. Criara um monstro do entretenimento, um borrão sem identidade clara. A contratação e o despedimento de Ovitz revelaram um nível ainda maior de desilusão. As pessoas tornaram-se meros instrumentos para Eisner usar. Ovitz era considerado o homem mais temido e poderoso de Hollywood. Talvez Eisner tenha sido inconscientemente levado pelo desejo de humilhar Ovitz. Se tivera o poder de obrigar Ovitz a suplicar por migalhas, ele próprio deveria ser o homem mais poderoso de Hollywood.

Em breve todos os problemas com origem na sua forma delirante de pensar começaram a suceder-se em cascata -os custos cada vez mais elevados da Euro Disney, o bónus de Katzenberg, a falta de êxitos em ambas as categorias cinematográficas, a ABC como sorvedouro permanente de recursos, a indemnização de Ovitz. Os elementos do Conselho de Administração já não podiam ignorar a queda do preço das ações. O despedimento de Katzenberg e de Ovitz fez de Eisner o homem mais odiado de Hollywood, e, à medida que a sua sorte se dissipava, todos Os seus inimigos apareceram para acelerar a sua destruição. A sua queda do poder foi rápida e espetacular.

 

Compreender: A história de Michael Eisner é-lhe muito mais próxima do que imagina. O seu destino poderia facilmente ser o seu, embora muito provavelmente em menor escala. O motivo é simples: os seres humanos possuem uma fragilidade que é latente em todos nós e que nos empurra para o processo delirante sem que alguma vez tenhamos consciência da dinâmica. Essa fragilidade tem origem nossa tendência natural para sobrestimar as nossas capacidades. Normalmente temos uma autoimagem que é um pouco inflacionada em relação à realidade. Temos uma necessidade profunda de nos sentimos superiores aos outros em alguma coisa - inteligência, beleza, encanto, popularidade, bondade. Isto pode ser algo positivo. Um nível de confiança impele-nos a aceitar desafios, a ultrapassar os nossos supostos limites e a aprender no processo. Mas, depois de termos conhecido o sucesso a qualquer nível - mais atenção por parte de um indivíduo grupo, uma promoção, financiamento para um projeto -, essa confiança tenderá a aumentar demasiado depressa e haverá uma discrepância crescente entre a nossa autoimagem e a realidade.

Qualquer sucesso que tenhamos na vida depende inevitavelmente de alguma sorte, do sentido de oportunidade, dos contributos dos outros, dos professores que nos ajudaram no nosso percurso, dos caprichos do público, em busca de algo novo. A nossa tendência é para esquecer tudo isto e imaginar que qualquer sucesso tem origem no nosso eu superior. Começamos por presumir que conseguimos lidar com novos desafios muito antes de estarmos prontos. Afinal, as pessoas confirmaram a nossa grandeza com a sua atenção, e queremos que esta nos continue a ser oferecida. Imaginamos que temos o toque de Midas e que podemos transferir magicamente as nossas capacidades para outra área ou campo. Sem termos noção disso, ficamos mais sintonizados com o nosso ego e fantasias do que as pessoas para quem trabalhamos e o nosso público. Afastamo-nos de quem nos ajuda, considerando-os ferramentas a serem usadas. E, em quaisquer fracassos que venham a ocorrer, tendemos a culpar os outros. O sucesso tem um poder irresistível que tende a turvar-nos a mente.

A sua missão é a seguinte: Depois de qualquer tipo de sucesso, analise as suas componentes. Procure o fator sorte, que inevitavelmente está presente, bem como o papel que as outras pessoas, incluindo mentores, desempenharam no nosso percurso favorável. Isto irá neutralizar a tendência para inflacionar as suas capacidades Lembre-se de que o sucesso vem acompanhado da satisfação, visto que a atenção se torna mais importante do que o trabalho e que se repetem velhas estratégias. Com o sucesso deverá aumentar a vigilância. Faça tábua rasa a cada novo projeto recomeçando do zero. Tente prestar menos atenção ao aplauso à medida que este se torna mais ensurdecedor. Identifique os limites do que pode alcançar e aceite-os, trabalhando com o que possui. Não acredite que maior é melhor; consolidar e concentrar as forças é muitas vezes a melhor opção. Tenha cuidado para não ser ofensivo com a sua impressão crescente de superioridade - irá precisar dos seus aliados. Compense o efeito tóxico do sucesso mantendo os pés bem assentes no chão. O poder que construirá de forma lenta e orgânica será mais leal e duradouro.

Lembre-se: os deuses são impiedosos com aqueles que voam demasiado alto nas asas da soberba e irão obrigá-lo a pagar o preço.

A existência apenas nunca fora suficiente para ele; sempre desejara mais. Talvez fosse apenas pela força dos seus desejos que se considerara um homem a quem se permitia mais do que a outros.

                                                                                                       - Fiódor Dostoiévski, Crime e Castigo

 

Explicações para a natureza humana

 

Vamos imaginar que tem um projeto para realizar ou um indivíduo ou grupo de pessoas que deseja convencer a fazer alguma coisa. Poderíamos descrever da seguinte forma uma atitude realista em relação a alcançar esses objetivos: obter o que desejamos raramente é fácil. O sucesso dependerá de muito esforço e de alguma sorte. Para que o seu projeto resulte, provavelmente precisará de se libertar da estratégia anterior — as circunstâncias estão sempre a mudar, e deve manter alguma abertura de espírito. As pessoas que está a tentar alcançar nunca respondem exatamente como poderia ter imaginado ou esperado. De facto, irão geralmente surpreendê-lo e frustrá-lo nas suas reações. Têm as suas próprias necessidades, experiências e psicologia particular, que são diferentes das suas. Para impressionar os seus alvos, terá de se concentrar neles e no seu espírito. Se não conseguir alcançar que deseja, deverá analisar cuidadosamente o que fez mal e procurar aprender com a experiência. Pode pensar no projeto ou tarefa que tem pela frente como um bloco de mármore a esculpir numa forma precisa e bela. O bloco é muito maior do que o seu próprio corpo, e o material bastante resistente, mas a tarefa não é impossível. Com o esforço, a concentração e a determinação suficientes, pode esculpi-lo lentamente até chegar à forma necessária. No entanto, deve começar com uma noção adequada de proporção — os objetivos são difíceis de atingir, as pessoas resistentes, e há limites para aquilo que pode fazer. Com uma atitude realista como esta, pode convocar a paciência necessária e passar à ação. Imagine, porém, que o seu cérebro sucumbiu a uma doença psicológica que afeta a sua perceção de tamanho e proporção. Em vez de ver a tarefa que tem pela frente como bastante avultada e o material como resistente, sob a influência desta doença, perde o bloco de mármore como sendo relativamente pequeno e maleável. Ao perder o sentido de proporção, acredita que não irá demorar muito a moldar o bloco na imagem mental que tem do produto acabado. Imagina que as pessoas que está a tentar alcançar não são naturalmente resistentes, mas bastante previsíveis. como irão responder à sua grande ideia irão adorá-la. De facto, precisam do seu trabalho mais do que o leitor precisa delas. Deveriam ser elas a procurá-lo. A ênfase não está no que tem de fazer para ser bem-sucedido, mas no que sente merecer. Pode antecipar muita atenção concedida à sua pessoa com este projeto, mas, se falhar, a culpa será de outrem, porque é dotado, a sua causa é a mais nobre e só os malévolos ou invejosos poderiam interpor-se no seu caminho.

Chamamos a esta doença psicológica grandiosidade. A medida que sente os seus efeitos, as proporções realistas normais são invertidas — o seu eu torna-se maior e melhor do que tudo o que o rodeia. E a lente através da qual vemos a tarefa e as pessoas que temos de alcançar. Não se trata apenas de narcisismo profundo, em que tudo tem de girar à sua volta. Trata-se de se ver aumentado (sendo a origem da palavra grandiosidade «grande» ou «grandioso»), de se ver como alguém superior e merecedor não só de atenção, mas mesmo de adoração. Consiste na noção de não ser apenas humano mas divino.

Pode pensar em líderes poderosos e egotistas conhecidos do público, como aqueles que contraem esta doença, e não estará muito enganado nessa presunção. Decerto podemos encontrar muitas pessoas influentes, como Michael Eisner, com versões acentuadas de grandiosidade, em que a atenção e os aplausos que recebem criam uma hipertrofia mais intensa do eu. Mas existe uma versão menos acentuada e mais habitual da doença que é comum a quase todas as pessoas porque é um traço enraizado na natureza humana. Tem origem na nossa necessidade profunda de nos sentirmos importantes, amados pelas pessoas e superiores aos outros em algum aspeto.

Raramente temos consciência da nossa grandiosidade porque, pela sua natureza, esta altera a sua perceção da realidade e dificulta uma avaliação correta de si mesmo. E por isso não temos consciência dos problemas que nos pode causar neste preciso momento. A sua grandiosidade ligeira irá levá-lo a sobrestimar as suas próprias competências e capacidades e a subestimar os obstáculos que enfrenta. E por isso irá aceitar tarefas que ultrapassam a sua verdadeira capacidade. Terá a certeza de que as pessoas irão responder à sua ideia de uma forma particular e quando não o fizerem, sentir-se-á perturbado e culpará os outros.

Pode ficar inquieto e mudar subitamente de profissão, não se apercebendo de que a grandiosidade está na origem dessa decisão - o seu trabalho presente não confirma a sua excelência e superioridade porque ser verdadeiramente bom exigiria mais anos de formação e o desenvolvimento de outras competências. É preferível desistir e ser atraído pelas possibilidades que uma nova carreira oferece, permitindo-lhe acalentar fantasias de grandeza. Desta forma, nunca chegará a especializar-se em coisa alguma. Pode ter dezenas de boas ideias que nunca tenta pôr em prática, porque isso o faria enfrentar a realidade do seu verdadeiro nível de competência. Sem ter consciência disso, pode tornar-se ligeiramente passivo — espera que as outras pessoas o compreendam, lhe dêem o que deseja, o tratem bem.

Em vez de ganhar o seu louvor, sente que tem direito a ele.

Em todos estes casos, a sua grandiosidade ligeira irá impedi-lo que aprender com os seus erros e de se aperfeiçoar, porque começa pela presunção de que já é bom e grande, e é demasiado difícil reconhecer o contrário.

A sua missão como estudioso da natureza humana assume três sentidos: em primeiro lugar, deve compreender o fenómeno da grandiosidade em si, porque está extremamente enraizado na natureza humana e porque irá descobrir muito mais pessoas arrogantes no mundo de hoje do que dantes. Em segundo lugar, deve reconhecer os sinais da grandiosidade e saber lidar com as pessoas que os exibem. E, em terceiro e o mais importante, deve identificar os sinais da doença em si e aprender não só a controlar as suas tendências para a grandiosidade, mas também a canalizar esta energia para algo.

De acordo com o conhecido psicanalista Heinz Kohut (1913—1981), a grandiosidade tem origem nos primeiros anos de vida. Nos primeiros meses, a maior parte das crianças está completamente ligada à mãe. Não tínhamos noção de uma identidade separada. Ela satisfazia todas as nossas necessidades. Acabámos por acreditar que o seio que nos alimentava na verdade fazia parte de nós próprios. Eramos omnipotentes — bastava sentirmos fome ou qualquer outra necessidade, e a mãe estava ali para a satisfazer, como se tivéssemos poderes mágicos para a controlar. Então, lentamente, tínhamos de passar por uma segunda fase da vida em que éramos obrigados a enfrentar a realidade — a mãe era um ser separado que tinha outras pessoas a quem dar atenção. Não éramos omnipotentes, mas fracos, muito Pequenos e dependentes. Esta noção foi dolorosa e a fonte de muita representação da nossa parte - tínhamos uma necessidade profunda de nos afirmarmos, de mostrar que não éramos assim tão impotentes e de fantasiar sobre os poderes que não possuíamos. (As crianças muitas vezes imaginam a capacidade de ver através das paredes, de voar ou de ler as mentes das pessoas, e é por isso que são atraídas para histórias de super-heróis.) A medida que envelhecemos, podemos já não ser fisicamente pequenos, mas a nossa ideia de insignificância piora. Acabamos por perceber que somos uma pessoa não só dentro de uma família maior, de uma escola ou de uma cidade, mas de um planeta inteiro, cheio de milhares milhões de pessoas. As nossas vidas são relativamente breves. Temos competências e capacidades cerebrais limitadas. Há muita coisa que não conseguimos controlar, especialmente nas nossas carreiras e nas tendências globais. A ideia de que iremos morrer e ser rapidamente esquecidos, engolidos pela eternidade, é bastante intolerável. Queremos sentir-nos significativos de alguma maneira, protestar contra a nossa pequenez natural, alargar a nossa ideia de eu. O que vivemos aos três ou quatro anos de idade atormenta-nos inconscientemente para o resto da vida. Alternamos entre momentos em que sentimos a nossa pequenez e tentar negá-la. Isto torna-nos atreitos a descobrir formas de imaginar a nossa superioridade.

Algumas crianças não passam por essa segunda fase da primeira infância em que têm de enfrentar a sua pequenez relativa, e estas crianças são mais vulneráveis a formas mais profundas de grandiosidade mais tarde na vida. São mimadas, apaparicadas. A mãe e o pai continuam a fazer estas crianças sentir-se como se estivessem no centro do universo, protegendo-as da dor de se confrontarem com a realidade. Todos os seus desejos tornam-se ordens. No caso de se tentar instilar a menor disciplina, os pais são confrontados com uma birra. Além disso, estas crianças acabam por desprezar qualquer forma de autoridade. Quando comparada com elas e com o que conseguem alcançar, a figura paternal parece bastante fraca.

Este mimo inicial excessivo marca-as para o resto da vida. Precisam de ser adoradas. Tornam-se especialistas em manipular os outros para as apaparicarem e inundarem de atenções. Sentem-se naturalmente melhores do que qualquer outra pessoa acima delas. Se tiverem algum talento, poderão ir bastante longe, visto que a sua ideia de terem nascido com uma coroa na cabeça se torna uma profecia autorrealizada. Ao contrário das outras pessoas, nunca alternam realmente entre sentimentos de pequenez e de grandeza; conhecem apenas a última. Eisner teve seguramente antecedentes deste tipo, visto que tinha uma mãe que satisfazia todos os seus desejos, que lhe terminava os trabalhos de casa e que o protegia do seu pai frio e por vezes cruel.

No passado, os seres humanos eram capazes de canalizar as suas necessidades de grandiosidade para a religião. Nos tempos mais remotos, a nossa noção pequenez não era apenas algo instilado em nós pelos muitos anos que passávamos a depender dos nossos pais; decorria também das nossas fragilidades em relação às forças hostis da natureza. Os deuses e os espíritos representavam estas forças da natureza que diminuíam as nossas. Ao adorá-las, podíamos obter a sua proteção. Ligados a algo muito maior do que nós próprios, sentíamo-nos aumentados. Afinal, os deuses ou Deus preocupavam-se com o destino da nossa tribo ou cidade; preocupavam-se com a nossa alma individual, um sinal da nossa importância. Não morríamos ou desaparecíamos simplesmente. Muitos séculos mais tarde e de uma forma semelhante, canalizávamos esta energia para a adoração de líderes que «presentavam uma grande causa e promoviam uma utopia futura, como Napoleão Bonaparte e a Revolução Francesa ou Mao Tsé-Tung e o comunismo.

Hoje em dia, no mundo ocidental, as religiões e grandes causas perderam a sua capacidade de unir as pessoas; temos dificuldade em acreditar nelas e satisfazer a nossa energia arrogante através da identificação com uma grande força ou poder. No entanto, a necessidade de nos sentirmos grandes e significativos não desaparece simplesmente; é mais forte do que nunca. E, na ausência de outros canais, as pessoas tendem a dirigir esta energia para si mesmas. Irão arranjar uma maneira de alargar a sua noção de eu, de se sentirem grandes e superiores. Embora raramente tenhamos consciência disto, o que escolhem idealizar e adorar é o eu. por esse motivo, encontramos cada vez mais indivíduos entre nós a sofrerem de grandiosidade.

Outros fatores também contribuíram para o aumento da grandiosidade. Em primeiro lugar, encontramos mais pessoas que são mimadas na infância hoje do que no passado. Sentirem-se o centro do universo torna-se algo difícil de abalar. Acabam por acreditar que tudo o que fazem ou produzem deveria ser considerado precioso e digno de atenção. Em segundo lugar, encontramos cada vez mais pessoas que têm pouco ou nenhum respeito pela autoridade ou pelos especialistas em qualquer assunto, independentemente do nível de formação e experiência destes especialistas, dos quais elas próprias carecem. <<Porque deve a sua opinião ser mais válida do que a minha?», podem perguntar a si mesmos. «Ninguém é assim tão bom; as pessoas com poder são apenas mais privilegiadas.» «A minha escrita e música são tão legítimas e válidas como as de qualquer outra pessoa.» Sem terem a noção de que outrem pode estar, em boa justiça, acima delas e ser digno de autoridade, podem posicionar-se entre os melhores.

Em terceiro lugar, a tecnologia dá-nos a impressão de que tudo na vida pode ser tão rápido e simples como a informação que podemos reunir online. Instila a crença de que já não temos de passar anos a aprender uma competência; em vez disso, com alguns truques e algumas horas de prática por semana, podemos tornar-nos capazes em tudo. Do mesmo modo, as pessoas acreditam que as suas capacidades podem ser facilmente transferidas: «O meu talento para a escrita significa que também posso realizar um filme.» Mas, acima de tudo, são os órgãos de Comunicação social que espalham o vírus da grandiosidade. Através das redes sociais, temos capacidades praticamente ilimitadas de alargar a nossa presença, de criar a ilusão de que temos a atenção e mesmo a adoração de milhares ou milhões de pessoas. Podemos possuir a fama e a ubiquidade dos reis e rainhas no passado ou até dos próprios deuses.

Com todos estes elementos combinados, é mais difícil do que nunca para qualquer um de nós manter uma atitude realista e uma noção adequada de eu.

Ao olhar para as pessoas que o rodeiam, deverá perceber que a sua grandiosidade e a do leitor podem surgir de formas diferentes. Habitualmente, os seres humanos desejarão satisfazer a necessidade de ganhar prestígio social. Alguns poderão alegar que estão interessados no seu próprio trabalho ou em Contribuir para a humanidade, mas muitas vezes, bem lá no fundo, o que realmente os motiva é o desejo de receberem atenção, de terem uma autoimagem elevada, Confirma_ do por outros, que os admirem, de se sentirem poderosos e inchados. Se forem talentosos, estes indivíduos podem obter a atenção de que precisam durante vários anos ou mais, mas, inevitavelmente, tal como acontece na história de Eisner, a sua necessidade de aplauso irá levá-los a excederem-se.

Se estas pessoas se sentirem dececionadas profissionalmente, mas ainda acreditarem que são boas e que o seu valor não lhes é reconhecido, poderão recorrer a várias compensações - drogas, álcool, sexo com o máximo de parceiros possível, compras, uma atitude superior e sarcástica, etc. Os indivíduos com uma grandiosidade insatisfeita irão com frequência sentir-se inundados de uma energia furiosa - num momento, falam a toda a gente dos guiões que vão escrever ou das muitas mulheres que irão seduzir e, no seguinte, caem em depressão, quando a realidade se imiscui.

As pessoas continuam a tender idealizar os líderes e a adorá-los, e deverá encarar este fenómeno como uma forma de grandiosidade. Ao acreditar que outra pessoa fará tudo bem, os seguidores poderão sentir indiretamente alguma da sua excelência. As suas mentes elevam-se com a retórica do líder. Podem sentir-se superiores aos descrentes. A um nível mais pessoal, os seres humanos tendem com frequência a idealizar aqueles que amam, elevando-os a um estatuto divino e, por extensão, sentindo algum do seu poder refletido em si próprias.

No mundo de hoje, irá notar a prevalência de formas negativas de grandiosidade. Muitas pessoas sentem a necessidade de disfarçar os seus impulsos arrogantes não apenas dos outros, mas de si mesmas. Irão exibir com frequência a sua humildade - não estão interessadas em poder ou em sentirem-se importantes ou pelo menos e o que afirmam. Estão satisfeitas com o seu pequeno quinhão na vida. Não desejam muitos bens, não têm carro e desprezam o estatuto. Mas irá verificar que precisam de exibir esta humildade de forma pública. Trata-se de uma humildade arrogante — é a sua forma de obterem atenção e de se sentirem moralmente superiores•

Uma variante neste aspeto corresponde à vítima arrogante — sofreram multo e foram vítimas várias vezes. Embora possam gostar de o encarar como algo resultante do facto de simplesmente terem tido pouca sorte ou oportunidades, poderão ter tendência para cair nos piores tipos de relacionamentos íntimos ou para se colocar em circunstâncias em que certamente irão fracassar e sofrer. São essencialmente impelidas a criar dramas que as transforma em vítimas. No entanto, qualquer relacionamento com elas terá de girar em torno das suas necessidades; sofreram demasiado no passado para velarem pelas do outro. São o centro do universo. Sentir e expressar a sua infelicidade dá-lhes a sua noção de importância, de serem superiores em sofrimento.

Pode medir os níveis de arrogância das pessoas de várias maneiras. Por exemplo, repare de que forma as pessoas respondem às críticas que lhes fazem no trabalho. É normal qualquer um de nós pôr-se na defensiva e ficar um pouco perturbado quando é criticado. Mas algumas pessoas ficam enfurecidas e histéricas pelo facto de termos posto em causa a sua ideia de grandeza. Uma pessoa com esta reação tem certamente elevados níveis de grandiosidade. Do mesmo modo, estes indivíduos poderão esconder a raiva por detrás de uma expressão martirizada e compungida destinada a fazê-lo sentir-se culpado. A ênfase não reside na crítica em si e no que precisam de aprender, mas na noção que têm de agravo.

Se forem bem-sucedidas, repare como as pessoas agem em momentos mais privados. Conseguem relaxar e rir-se de si mesmas, libertando-se da sua máscara pública, ou identificaram-se de tal forma com a sua imagem exterior de poder que esta perpassa para a sua vida privada? No último caso, acabaram por acreditar no seu próprio mito e são dominadas por uma grandiosidade poderosa.

As pessoas que sofrem de grandiosidade geralmente falam muito. Assumem os créditos por tudo, mesmo que se trate de algo tangencial ao seu trabalho, e inventam sucessos passados. Falam da sua presciência, referem antever certas tendências ou antecipar certos acontecimentos, nenhum dos quais pode ser verificado. Toda esta conversa deveria deixá-lo duplamente hesitante. Se as pessoas expostas ao olhar público fazem subitamente uma observação insensível que as possa deixar malvistas, pode atribuí-lo à sua grandiosidade acentuada. Estão tão absortas nas suas magníficas opiniões que presumem que toda a gente irá interpretá-las no espírito certo e concordar consigo.

Os indivíduos com uma grandiosidade mais grave geralmente apresentam baixos níveis de empatia. Não são bons ouvintes. Quando a atenção não está centrada neles, assumem um olhar ausente, e os seus dedos crispam-se de impaciência. Apenas quando os holofotes incidem sobre eles ficam mais animados. Tendem a ver as pessoas como extensões de si mesmas - instrumentos a usar nos seus esquemas, fontes de atenção. Finalmente, exibem um comportamento não verbal que só pode ser descrito como arrogante. Os seus gestos são expressivos e dramáticos.

Em reuniões, têm uma presença muito notória. A sua voz tende a ser mais alta do que a dos outros e falam num ritmo rápido, não dando a ninguém tempo para os interromper.

Deverá ser indulgente com quem exibe doses moderadas de grandiosidade. Quase todos nós alternamos entre períodos em que nos sentimos superiores e bons e outros em que regressamos à terra. Procure esses momentos de realismo nas pessoas como sinais de normalidade. Contudo, com pessoas cuja autoimagem é tão positiva que não admitem quaisquer dúvidas, será melhor evitar relações ou envolvimentos. A nível íntimo, tenderão a pedir uma atenção unilateral de adoração. Se forem funcionários, sócios ou chefes, apregoarão as suas competências. Os seus níveis de confiança irão distraí-lo das falhas nas suas ideias, hábitos de trabalho e temperamento. Se não conseguir evitar um relacionamento como este, tenha cuidado com a sua tendência para se sentirem seguros acerca do sucesso das suas ideias e mantenha o ceticismo. Procure as ideias em si e não se deixe enredar pela sua autoimagem sedutora. Não alimente a ilusão de que os pode confrontar e tentar fazer regressar à terra; poderá desencadear uma resposta irada. Se tiver um destes indivíduos como rival, pense apenas que está com sorte. São fáceis de picar e de atrair para reações exageradas. Lançar dúvidas sobre a sua excelência irá deixá-los apopléticos e duplamente irracionais.

Finalmente, terá de lidar com as suas próprias tendências para a grandiosidade. A grandiosidade encontra algumas utilizações positivas e produtivas. A exuberância e a autoimagem muito favorável que decorrem da mesma podem ser canalizadas para o trabalho e ajudá-lo como forma de inspiração. No entanto, de modo geral, seria preferível aceitar as limitações e trabalhar com o que tem, em vez de fantasiar sobre poderes divinos que nunca irá alcançar. A maior proteção que pode encontrar contra a grandiosidade é manter uma atitude realista. Sabe para que temas e atividades é naturalmente atraído. Não pode ser dotado em tudo. Tem de jogar com os seus pontos fortes e não imaginar que pode ser bom em tudo aquilo em que se envolve. Precisa de alcançar uma compreensão profunda dos seus níveis de energia, de quão longe pode ir de forma razoável e de como isso muda com a idade. E deve ter uma noção clara da sua posição social - os seus aliados, as pessoas com quem tem o melhor entendimento, o público óbvio para o seu trabalho. Não pode agradar a toda a gente.

Esta autoconsciência inclui uma componente física a que deve ser sensível. Quando realiza atividades que se prendem com as suas inclinações naturais, sentirá que o esforço é fácil. Aprenderá mais depressa. Terá mais energia e poderá suportar melhor o esforço envolvido no processo de aprendizagem. Quando demasiadas coisas, mais do que aquilo com que consegue lidar, sentir-se-á não só exausto, mas também irritável e nervoso. Ficará mais atreito a dores de cabeça. Quando tiver sucesso na vida, sentirá naturalmente uma pontada de medo, como se a sua sorte pudesse chegar ao fim. Sente com este medo os perigos que decorrem de subir demasiado alto (quase como uma vertigem) e de se sentir demasiado superior. A sua ansiedade está a pedir-lhe que volte a descer à terra. Oiça o seu corpo quando este lhe indicar que está a trabalhar contra as suas forças.

Ao conhecer-se, aceitará os seus limites. Será simplesmente uma pessoa entre muitas no mundo, e não naturalmente superior a ninguém. Não é um deus ou um anjo, mas um ser humano com defeitos, como toda a gente. Aceite o facto de que não consegue controlar as pessoas que o rodeiam e de que nenhuma estratégia é infalível. A natureza humana é demasiado imprevisível. Com este autoconhecimento e aceitação dos limites terá uma noção das proporções. Procurará a excelência no seu trabalho. E, quando sentir o impulso de pensar em si sob um prisma mais elevado do que for razoável, este autoconhecimento servirá como força gravítica, puxando-o de volta e dirigindo-o para as ações e decisões que servirão melhor a sua natureza particular.

Ser realista e pragmático é aquilo que torna os seres humanos tão poderosos. Foi assim que ultrapassámos as nossas fragilidades físicas num ambiente hostil há muitos milhares de anos e que aprendemos a trabalhar com os outros e a formar comunidades poderosas e ferramentas para sobreviver. Embora nos tenhamos desviado deste pragmatismo, visto que já não temos de confiar na nossa perspicácia para sobreviver, ele é de facto a nossa verdadeira natureza como animal social dominante no planeta. Ao tornarmo-nos mais realistas, estamos simplesmente a tornar-nos mais humanos.

 

O líder arrogante

Se pessoas com níveis elevados de grandiosidade também possuírem algum talento e muita energia assertiva, poderão ascender a posições de grande poder. A sua ousadia e confiança atraem atenção e concedem-lhes uma presença considerável. Hipnotizados pela sua imagem, muitas vezes não conseguimos captar a irracionalidade que subjaz ao seu processo de tomada de decisões e por isso seguimo-las até a catástrofe. Podem ser bastante destrutivas.

Deverá compreender um aspeto simples relativamente a estes indivíduos - dependem da atenção que lhes damos. Sem a nossa atenção, sem serem adorados pelo público, não conseguem validar a sua autoimagem, e, nesses casos, a própria confiança de que dependem definha. Para nos intimidarem e distraírem da realidade, recorrem a determinados instrumentos dramáticos. E imperativo que vejamos para lá dos seus truques de palco, que os desmistifiquemos e que os devolvamos à sua dimensão humana. Ao fazê-lo, podemos resistir ao seu encanto e evitar os perigos que representam. As seis ilusões comuns que se seguem são as que gostam de criar.

Sou predestinado. Os líderes marcados pela grandiosidade tentam dar a impressão de que estão de alguma forma destinados à grandeza. Contam histórias da sua infância e juventude que anunciam a sua singularidade, como se o destino os tivesse marcado. Destacam acontecimentos que mostravam desde cedo a sua resistência ou criatividade invulgares, inventando essas histórias ou reinterpretando o passado. Referem episódios do início da sua carreira em que ultrapassaram reveses impossíveis. O líder grandioso do futuro já se encontrava em gestação desde muito cedo ou é isso que querem fazer parecer. Quando ouvir este tipo de coisas, deverá manter-se cético. Estão a tentar forjar um mito, em que eles próprios provavelmente acabaram por acreditar. Procure os factos mais mundanos por detrás das histórias em torno do seu destino e, se possível, torne-os públicos.

Sou o homem/a mulher comum. Em alguns casos, os líderes marcados pela grandiosidade provieram das classes mais baixas, mas em geral ou têm antecedentes relativamente privilegiados ou, graças ao seu sucesso, viveram muito tempo afastados das preocupações das pessoas comuns. Seja como for, é absolutamente essencial apresentarem-se ao público como altamente representativos do homem ou da mulher comuns. Apenas através de uma apresentação deste tipo podem atrair a atenção e veneração de um número suficiente de pessoas para se se sentirem satisfeitos

Indira Gandhi, a primeira-ministra da India de 1966 a 1977 e de 1980 a 1984, era oriunda da realeza política, tendo o seu pai, Jawaharlal Nehru, sido o primeiro-ministro do país. Foi educada na Europa e viveu a maior parte da sua vida afastada das camadas mais pobres da India. Mas, como líder grandiosa que mais tarde se tornou bastante ditatorial, assumiu uma posição de unidade com as pessoas levando-as a falar através da sua voz. Alterava a sua linguagem quando se dirigia a grandes multidões e usava metáforas despretensiosas quando visitava aldeias pequenas. Usava o seu sari como as mulheres locais e comia com as mãos. Gostava de se apresentar como «Mãe Indira», que governou a India de uma forma familiar e maternal. E este estilo que assumiu foi altamente eficaz para ganhar as eleições' embora que tenha sido perfeitamente encenado.

O truque que os líderes marcados pela grandiosidade aplicam reside em enfatizar os seus gostos culturais, não a classe de que verdadeiramente provêm. Podem voar na classe executiva e usar os fatos mais caros, mas contrariam este aspeto parecendo ter os mesmos gostos culinários que o público, apreciar os mesmos filmes que as outras pessoas ocupam e evitar a esforços a todo o para custo qualquer indício as elites, mesmo que dependam desses especialistas para os orientarem. São simplesmente como as pessoas comuns, mas com muito mais dinheiro e poder. O público agora pode identificar-se com eles, apesar das contradições óbvias. Mas a grandiosidade deste aspeto vai mais longe do que obter simplesmente mais atenção. Estes líderes excedem-se bastante através desta identificação com as massas. Não são apenas um homem ou uma mulher, mas personificam toda uma nação ou grupo de interesses. segui-los é ser leal ao próprio grupo. Criticá-los é desejar crucificar o líder e trair a causa.

Mesmo no mundo corporativo e prosaico dos negócios encontramos uma identificação religiosa deste tipo: Eisner, por exemplo, gostava de se apresentar como a personificação de todo o espírito da Disney, fosse o que fosse que isso significasse. Se reparar em paradoxos como estes e nas formas primitivas da associação popular, distancie-se um pouco e analise a realidade do que está a acontecer. Lá no fundo, irá descobrir algo quase místico, altamente irracional e bastante perigoso nesse líder grandioso que agora se sente autorizado a fazer o que quer que lhe apeteça em nome do público.

Cumprirei o prometido. Estes tipos muitas vezes chegam ao poder em tempos de agitação e crise. A sua autoconfiança é reconfortante para o público ou para os acionistas. Serão aqueles que libertarão as pessoas dos muitos problemas que enfrentam. Para o conseguirem, as suas promessas têm de ser grandes, mas vagas. Sendo grandes, podem inspirar sonhos; sendo vagas, ninguém poderá responsabilizá-los se não conseguirem cumpri-las, visto que não há nada de específico a que se possa agarrar. Quanto mais grandiosas forem as promessas e visões do futuro, mais grandiosa será a fé que inspira. A mensagem deve ser simples de digerir, redutível a um slogan e de prometer algo em grande, que agite as emoções. Como parte desta estratégia, estes indivíduos exigem bodes expiatórios convenientes, muitas vezes as elites ou estranhos, para reforçar a identificação de grupo e agitar ainda mais as emoções. O movimento em torno do líder começa por se cristalizar em torno do ódio por estes bodes expiatórios, que passam a representar toda a dor e injustiça que cada pessoa, na multidão, alguma vez experimentou. A promessa do líder de destruir estes inimigos inventados aumenta exponencialmente o seu poder.

O que irá descobrir é que estão a criar um culto, mais do que a dirigir um movimento político ou um negócio. Irá ver que o seu nome, imagem e slogans têm de ser reproduzidos em grande número e assumem uma ubiquidade divina. Algumas cores, símbolos e por vezes música são usados para ligar a identidade coletiva e apelar aos instintos humanos mais básicos. As pessoas que acreditam culto ficam então duplamente hipnotizadas e prontas a desculpar qualquer tipo de ação. Neste ponto, nada irá dissuadir os verdadeiros crentes, mas deverá manter alguma distância interior e capacidade e análise.

Reescrevo as regras. Um desejo secreto dos seres humanos consiste em prescindir das regras e convenções habituais que regem qualquer área- alcançar o poder seguindo apenas a sua luz interior. Quando os líderes marcados pela grandiosidade alegam ter essa capacidade, ficamos secretamente empolgados e desejamos acreditar neles.

Michael Cimino foi o realizador do filme O Caçador [The Deer Hunter] (1978) galardoado pela Academia de Cinema. No entanto, para quem trabalhou com ele e para ele, este homem não era apenas um realizador de cinema, mas um génio único, comprometido com a missão de cortar com o sistema rígido e corporativo de Hollywood. Para o seu filme seguinte, As Portas do Céu [Heaven's Gate] (1980) negociou um contrato que foi completamente excecional na história de Hollywood, o qual lhe permitiu aumentar o orçamento da forma que considerava adequada e criar precisamente o filme que havia imaginado, sem quaisquer reservas ou compromissos. No local das filmagens, Cimino passou semanas a ensaiar os atores de modo a alcançar o tipo de interpretação de que precisava para determinada cena. Um dia, esperou horas até pôr as câmaras a filmar, apenas para que a nuvem perfeita pudesse passar pelo enquadramento. Os custos dispararam, e o filme que inicialmente realizou tinha mais de cinco horas de duração. As Portas do Céu acabaram por ser um dos maiores desastres da história de Hollywood, e praticamente destruiu a carreira de Cimino. Parecia que o contrato tradicional afinal tinha um objetivo refrear a grandiosidade natural de qualquer realizador e fazê-lo trabalhar dentro de limites. A maior parte das regras afinal decorre do senso comum e tem a racionalidade como base.

Como variante, os líderes marcados pela grandiosidade muitas vezes têm de confiar nas instituições, negligenciando a necessidade de se concentrarem em grupos ou em qualquer forma de resposta científica. Estabelecem uma ligação interior e especial com a verdade. Gostam de desenvolver o mito de que os seus palpites conduziram a sucessos fantásticos, mas uma análise mais criteriosa revelará que esses mesmos palpites falham com a mesma frequência com que acertam. Quando ouve líderes a apresentarem-se como pioneiros consumados, capazes de prescindir das regras e da ciência, deve encará-lo apenas como sinal de loucura, não de inspiração divina.

Tenho o toque de Midas. Os indivíduos com uma grandiosidade acentuada tentarão criar a lenda de que nunca falharam de facto. Se houve falhas ou reveses na sua carreira, foi sempre por culpa de outros, que os traíram. O general do exército Douglas MacArthur era um génio a defletir a culpa; nas suas palavras, durante a sua longa carreira, nunca perdera uma batalha, embora de facto tivesse perdido muitas, mas, ao anunciar os seus sucessos e ao arranjar desculpas intermináveis, como traições, para as suas derrotas, criou o mito de possuir capacidades mágicas no campo de batalha. Os líderes marcados pela grandiosidade recorrem inevitavelmente a este tipo de magia como forma de marketing.

Relacionada com este aspeto está a crença de que podem transferir facilmente

as suas competências — um executivo do cinema pode tornar-se criador de parques temáticos, um homem de negócios pode tornar-se líder de uma nação. Por serem magicamente dotados, podem experimentar tudo o que os atraia. Isto representa muitas vezes um passo fatal da sua parte, visto que tentam coisas que ultrapassam a sua competência e ficam rapidamente assoberbados pela complexidade e pelo caos

que decorrem da sua falta de experiência. Ao lidar com estes indivíduos, analise cuidadosamente o seu currículo e veja quantos fracassos flagrantes conheceram. Embora as pessoas que se encontram sob a influência da grandiosidade de outras provavelmente não lhe dêem ouvidos, anuncie o seu verdadeiro historial da forma mais neutra possível.

Sou invulnerável. O líder marcado pela grandiosidade corre riscos. É o que normalmente atrai atenção à partida, e, combinado com o sucesso que muitas vezes aguarda os mais ousados, estes parecem maiores do que a vida. Mas esta audácia, na verdade, não se encontra sob controlo. Têm de tomar medidas para dar nas vistas de modo a permitir que a atenção que alimenta a sua autoimagem lhes continue a ser concedida. Não podem parar ou recuar, porque isso levaria a uma quebra publicitária. Para piorar, acabam por se sentir invulneráveis porque muitas vezes no passado se saíram bem com manobras arriscadas, e, se enfrentaram reveses, conseguiram ultrapassá-los recorrendo a ações ainda mais audazes. Além disso, estas atividades temerárias fazem-nos sentir vivos e estimulados. Tornam-se uma droga. Precisam de desafios e de recompensas maiores para manterem a impressão de uma invulnerabilidade divina. Podem trabalhar vinte horas por dia quando se encontram sob este tipo de pressão. Podem caminhar sobre brasas.

Na verdade, são bastante invulneráveis, até enveredarem por uma manobra arrogante em que acabam por ir demasiado longe e tudo se desmorona. Pode tratar-se de algo como a viagem de MacArthur pelos Estados Unidos depois da Guerra da Coreia, em que a sua necessidade irracional de atenção de tornou dolorosamente visível; ou a decisão fatal de Mao de desencadear a Revolução Cultural; Ou Stan O'Neal, diretor-executivo da Merrill Lynch, a agarrar-se aos seus títulos garantidos por créditos hipotecários quando toda a gente se queria libertar deles, destruindo essencialmente uma das mais antigas instituições financeiras do país. Subitamente, a aura de ser invulnerável é desfeita. E isto acontece porque as decisões destes indivíduos são determinadas não pelas considerações racionais, mas pela necessidade de atenção e de glória, e a realidade acaba por levar a melhor, de forma agressiva.

De modo geral, ao lidar com o líder marcado pela grandiosidade, procure destruir a imagem sagrada e gloriosa que estes criaram. Reagirão exageradamente, e os seus seguidores irão enfurecer-se, mas, aos poucos, alguns deles poderão ficar com dúvidas. Criar um desencanto viral será a sua melhor hipótese.

A grandiosidade prática

A grandiosidade é uma forma de energia primordial que todos possuímos. Impele-nos a desejarmos mais do que temos, a sermos reconhecidos e estimados pelos outros e a sentirmo-nos ligados a algo maior. O problema não reside na energia em si, que pode ser usada para alimentar as nossas ambições, mas no sentido que esta assume. Normalmente, a grandiosidade faz-nos imaginar que somos maiores e com uma excelência superior à que realmente se verifica. Podemos chamar-lhe grandiosidade fantástica porque se baseia nas nossas fantasias e na impressão enviesada que temos de qualquer atenção que recebemos. A outra forma, a que iremos chamar grandiosidade prática, não é fácil de alcançar e não nos surge naturalmente, mas pode ser a origem de um extraordinário poder e de autorrealização.

A grandiosidade prática não se baseia na fantasia, mas na realidade. A energia é canalizada para o trabalho e desejo de alcançar objetivos, de resolver problemas ou de melhorar relacionamentos. Impele-nos a desenvolver e a apurar as nossas capacidades. Através das nossas conquistas, podemos sentir-nos maiores. Atrairemos a atenção através do trabalho. A atenção que recebemos desta forma será gratificante e manter-nos-á energizados, mas a maior impressão de gratificação decorre do próprio trabalho e do facto de ultrapassarmos as nossas fraquezas. O desejo de atenção encontrar-se-á sob controlo e subordinado. A autoestima será elevada, mas estará ligada a conquistas reais, não a fantasias vagas e subjetivas. Sentimos a nossa presença ampliada através do trabalho, daquilo com que contribuímos para a sociedade.

Embora a forma precisa de canalizar a energia dependa da sua área e do nível de competências, os cinco princípios básicos que se seguem são essenciais para alcançar o elevado nível de realização que pode decorrer desta forma de grandiosidade baseada na realidade.

Aceite a necessidade de grandiosidade. Deverá começar numa posição de sinceridade. Reconheça para si mesmo que se quer sentir importante e ser o centro das atenções. É algo natural. Sim, quer sentir-se superior. Tem ambições, como qualquer pessoa. No passado, a sua necessidade de grandiosidade pode tê-lo conduzido a algumas más decisões, que pode agora reconhecer e analisar. A negação é o seu pior inimigo. Apenas com esta autoconsciência poderá começar a transformar a energia em algo prático e produtivo.

Concentre as energias. A grandiosidade fantástica fá-lo-á saltar de uma ideia fantástica para outra, imaginando todos os aplausos e atenção que irá receber, mas nunca se apercebendo de nenhum deles. Terá de fazer o contrário. Adquira o hábito de se concentrar profunda e completamente num único projeto ou problema. Irá desejar que o objetivo seja relativamente simples de alcançar e num período temporal de meses e não anos. Divida-o em minietapas e metas parciais. O seu objetivo será entrar num estado de fluxo, em que a mente se concentre cada vez mais no trabalho, ao ponto de as ideias lhe surgirem apenas de vez em quando. Esta sensação de fluxo deve ser agradável e viciante. Não se permita enredar-se em fantasias sobre outros projetos que se encontrem no horizonte. Concentre-se no trabalho o mais profundamente possível. Se não entrar neste estado de fluxo, estará inevitavelmente a entrar no multitasking e a interromper a concentração. Procure vencer este processo. Pode ser um projeto em que trabalha fora da profissão. Não é o número de horas investidas que importa, mas a intensidade e o esforço coerente que lhe empresta.

Relacionado com este aspeto, procure que este projeto envolva capacidades que já possui ou que se encontram em desenvolvimento. O seu objetivo será identificar uma melhoria constante no seu nível de competências, o que irá certamente surgir a partir de uma concentração profunda. A sua confiança irá melhorar. Deverá ser o suficiente para lhe permitir continuar a avançar.

Mantenha-se em diálogo com a realidade. O seu projeto começa com uma ideia. Tente apurar esta ideia, deixando a sua imaginação voar e mantendo-se aberto a várias possibilidades. A dado momento, passará da fase de planeamento à execução. Deve agora procurar ativamente feedback e críticas das pessoas que respeita ou do seu público natural. Oiça as suas opiniões sobre as falhas e as inadequações do seu plano, pois essa é a única maneira de melhorar as suas competências. Se o projeto não alcançar os resultados que imaginou ou se o problema não tiver sido resolvido, encare-o como a melhor maneira de aprender. Analise profundamente o que fez mal, sendo o mais frontal possível.

Quando tiver recebido feedback e analisado os resultados, regresse a este projeto ou comece outro novo, deixando que a imaginação voe novamente, mas incorporando o que aprendeu com a experiência. Continue este ciclo de forma incessante, reparando, com entusiasmo, que melhora, no processo. Se se demorar demasiado na fase de imaginação, o que cria tenderá a ser grandioso e distanciado da realidade. Se ouvir apenas o feedback e tentar fazer uma reflexão aturada acerca do que os outros lhe dizem ou do que pretendem, o trabalho será convencional e insípido. Ao manter um diálogo constante entre a realidade (feedback) e a imaginação, criará algo prático e poderoso.

O momento em que conhecer sucesso com os seus projetos é aquele em que deve distanciar-se da atenção que está a receber. Pense no papel que a sorte poderá ter desempenhado ou na ajuda que recebeu de outros. Resista a cair na ilusão do sucesso. A medida que se concentra na próxima ideia, veja-se de volta ao ponto de partida. Cada novo projeto representa um novo desafio e uma abordagem inédita. Poderá perfeitamente falhar. Precisará do mesmo nível de concentração que teve no último projeto. Nunca aceite os louros como garantidos ou abrande a intensidade.

Procure mudanças calibradas. O problema da grandiosidade fantástica reside em imaginar um objetivo novo e grande a alcançar — o romance brilhante que irá escrever, a empresa que irá criar. O desafio é tão grande que até o poderá começar, mas esgota-se rapidamente, ao tomar consciência de que não está à altura do mesmo. Ou, se for do tipo ambicioso e assertivo, poderá tentar ir até ao fim, mas acabará na síndrome Euro Disney, assoberbado, falhando em toda a linha, culpando os outros pelo fiasco e nunca aprendendo com a experiência.

O seu objetivo na grandiosidade prática consiste em procurar constantemente desafios um pouco acima do seu nível de competências. Se os projetos em que se envolver estiverem abaixo do seu nível ou ao mesmo nível, sentir-se-á facilmente aborrecido e menos concentrado. Se forem demasiado ambiciosos, sentir-se-á esmagado pelo seu fracasso. No entanto, se forem calibrados para serem mais desafiadores do que o último projeto, mas a um nível moderado, descobrir-se-á empolgado e energizado. Deverá estar ao nível deste desafio, por isso os seus níveis de concentração também irão melhorar. Este é o caminho ideal para a aprendizagem. Se falhar, não se sentirá esmagado e aprenderá ainda mais. Se for bem-sucedido, a sua confiança aumentará, mas ficará ligada ao seu trabalho e ao facto de ter estado à altura do desafio. A sua sensação de realização irá satisfazer a necessidade de grandeza.

Liberte-se da energia arrogante. Quando tiver domado esta energia permita que esta sirva as suas ambições e objetivos. Sentir-se-á seguro para a deixar transparecer ocasionalmente. Pense nela como um animal selvagem que precisa de vaguear livremente de vez em quando, caso contrário enlouquecerá de inquietação. O que isto significa é permitir-se, de quando em vez, ter ideias ou projetos que representem desafios maiores do que aqueles que considerou no passado. sentir-se-á cada vez mais confiante e desejará testar-se. Pense em desenvolver uma nova competência num campo não relacionado ou em escrever o romance que em tempos considerou ser uma distração do mundo real. Ou, simplesmente, dê rédea solta à sua imaginação quando se encontrar no processo de planeamento.

Se estiver exposto ao olhar do público e tiver de representar perante outros, liberte-se do controlo que desenvolveu e deixe que a sua energia arrogante o encha de elevados níveis de autoestima. Isto irá animar os seus gestos e dar-lhe maior carisma. Se for um líder e o seu grupo enfrentar dificuldades ou uma crise, permita-se sentir-se invulgarmente grandioso e confiante no sucesso da sua missão, para motivar e inspirar as tropas. Foi este o tipo de grandiosidade que fez de Winston Churchill um líder tão eficaz durante a Segunda Guerra Mundial.

Em qualquer circunstância, pode permitir-se sentir-se divino por ter chegado tão longe com as suas competências melhoradas e com as conquistas atuais. Se se tiver demorado a trabalhar devidamente nos outros princípios, irá regressar naturalmente a terra depois de alguns dias ou horas de exuberância grandiosa.

FINALMENTE, NA ORIGEM DA NOSSA GRANDIOSIDADE INFANTIL ESTAVA UM SENTIMENTO DE ligação intensa com a mãe. Era tão completo e satisfatório que passámos muito do nosso tempo a tentar recuperar esse sentimento de alguma forma. E a origem do desejo de transcender a existência banal, de ansiar por algo tão grande que não conseguimos expressar o que é. Temos vislumbres dessa ligação original nos relacionamentos íntimos e em momentos de amor incondicional, mas são raros e fugazes. Entrar num estado de fluxo com o trabalho e cultivar níveis mais profundos de empatia com as pessoas (ver capítulo 2) dar-nos-á mais destes momentos e satisfará essa ânsia. Sentir-nos-emos ligados ao trabalho e às outras pessoas. Podemos levá-lo ainda mais longe experimentando uma ligação mais profunda com a própria vida, aquilo a que Sigmund Freud chamou «o sentimento oceânico».

Pense nisto da seguinte forma: A formação da própria vida no planeta Terra, há tantos milhares de milhões de anos, exigiu uma concatenação de eventos altamente improváveis. O início da vida foi uma experiência ténue que poderia ter terminado em qualquer momento, logo no início. Desde então, a evolução de tantas formas de vida é espantosa, e no ponto final dessa evolução está apenas o animal que sabemos ter consciência de todo este processo, o ser humano.

O facto de estarmos vivos é igualmente um fenómeno improvável e misterioso. Exigiu um encadeamento particular de acontecimentos que levou a que os nossos pais se conhecessem e ao nosso nascimento, o que poderia ter corrido de forma completamente diferente. Neste momento, enquanto lê estas linhas, está consciente da vida, juntamente com milhares de milhões de que outras pessoas, e apenas durante um breve período de tempo, até morrer. Assimilar completamente esta realidade é aquilo a que iremos chamar o Sublime. Trata-se de algo que não se pode expressar em palavras. É demasiado espantoso. Sentir-se parte dessa ténue experiência da vida constitui uma espécie de grandiosidade reversa — não ficará perturbado pela sua pequenez relativa, mas em êxtase pela sensação de ser uma gota neste oceano.

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