A incessante busca por salvadores
Dizer
que alguém tem “problemas de papá” é uma maneira um tanto rude e humilhante de fazer
alusão a um desejo muito compreensível. Um pai que é forte e sábio, criterioso,
gentil, talvez mais assertivo em situações difíceis, mas sempre justo e, inegavelmente,
sempre do nosso lado. É muito compreensível que tivéssemos a sensação de que
queríamos alguém assim nas nossas vidas, especialmente em momentos de confusão
e caos.
O
anseio por um pai forte tem sido um tema recorrente na história. A maioria das
religiões concebeu as suas divindades centrais como pais masculinos:
· No Grécia antiga, Zeus foi descrito como o "pai dos homens" e deuses"
.
· No
Cristianismo, Deus era o pai celestial.
· Na
Mitologia Germânica, Odin era o pai supremo, o pai de todos os outros deuses.
· O
anseio não foi menos presente na cultura secular pois nos EUA, os indivíduos
que lideraram a guerra da independência e elaboraram a constituição passaram a
serem conhecidos como os Pais Fundadores.
· O
líder Italiano Garibaldi, que com dignidade e autoritarismo lutou pela
unificação da Itália no século XIX e ganhou o título de "pai da
pátria".
Na
primeira infância, somos todos imensamente fracos e precisamos de proteção. Não
podemos entender o mundo. Somos tão frágeis, poderíamos ser mortos por um cão
de tamanho moderado. Sentimos uma sensação misteriosa e fora do nosso controle.
Fome por um “” papá”" é, nas circunstâncias, totalmente natural. Um homem adulto,
inevitavelmente, e com razão, parece impressionante aos olhos uma criança
pequena.
Eles parecem saber tudo, desde capital da Nova Zelândia, conduzir um carro, dizer algumas palavras em uma língua estrangeira ou até descascar um abacate. Vão para a cama misteriosamente tarde e estão acordados muito cedo. Na piscina, as crianças podem colocar os braços ao redor do pescoço e descansar nas suas costas. Uma vez pontapearam uma vez uma bola de futebol tão alto que a criança quase a deixou de ver, levam-nas aos ombros e o ajudam-nas a tocar o teto.
O paradoxo dos “problemas de papá” para aqueles que os têm (estatisticamente 65% população nos Uk) são, quase sempre, pessoas que não tinham pais muito bons quando eram pequenos. Talvez o pai tenha sido forte, mas em última análise cruel, valentão ou desinteressado. Talvez estivesse mais interessado noutro irmão ou no trabalho. Possivelmente não estivesse por perto, tivesse saído de casa depois de um divórcio ou morresse jovem.
O
desejo dos adultos por um “papá” não é o resultado de ter não tido um pai na
infância, é uma consequência de abandono. O anseio pode inclinar para nós
alguns padrões complicados de comportamento.
Podemos estar à procura de “papás” nas nossas amizades, relações amorosas, no trabalho e, não menos importante, na política. O perigo é que estes "papás" podem no fim danificar extremamente a sua confiança, pois não está no poder de ninguém suavizar o tipo de anseios que nos pertence. Eles podem saber muito bem o que queremos, e ingenuamente ou cinicamente prometem fornecê-lo, mas gradualmente, muito tarde, levamo-nos a perceber que tinham muitas falhas, como todos nós temos.
Podemos perceber que eles estão intimidadores ao invés de nobres, que os nossos inimigos continuam e eles não nos poderiam ajudar. Que não há, de facto, não há dinheiro suficiente no mundo para fazer o que prometeu, e que, na verdade, não nos amam.
Para além dos doze anos, um bom pai não finge ser todo-poderoso, confessa que não podem resolver todos os nossos problemas nem magicamente salvar-nos de uma infinidade de perigos, não importa o quanto eles gostariam de os resolver. O bom pai decepciona-nos logo que somos fortes o suficiente para suportar a realidade. Por amor, eles reduzem a ideia de que poderia haver um pai perfeito e ideal. Tentam o melhor que podem para nos ajudar a crescer.
Quando
encontramos alguém que tem problemas de “papá”, a tentação é ficar frustrado,
dizer-lhes para amadurecer e até gozar, e em particular, aprofundar o gozo com
a figura “papá” que possamos ter identificado. Isso não é nem muito sábio nem uma
estratégia muito amável. A pessoa simplesmente tende a enraizar sua devoção, porque,
sempre que nos estamos a sentir atacados, naturalmente sentimos ainda mais a
necessidade da proteção de um pai idealizado.
O que realmente precisamos é ajudar-nos a sair dos problemas do “papá” com mais ações de um pai genuinamente bom. Alguém que verdadeiramente reconhece o nosso sofrimento e os nossos medos e que, profundamente, quer o que é melhor para nós e não é relutante em dizê-lo, mas que, ao mesmo tempo, quer-nos ajudar a aceitar uma situação confusa num mundo essencialmente decepcionante. Um homem que, por amor, nos encorajará a sermos independentes e não fantasiarmos por qualquer pessoa, por mais imponente que seja, pode fazer o impossível. Os bons pais permitem suportar a verdade que, definitivamente, não existem "papás".